July 03, 2020
JMT - quando as pessoas estão com medo e disparam bacoradas
O JMT está chateado e um bocadinho histérico por a pandemia ter estragado os planos de férias da filha e da família e ainda de pensar que a situação se pode prolongar para o ano. Nas circunstâncias faz o que faz a maioria que é culpar outros do seu infortúnio, neste caso, os professores - aquele alvo fácil dos indolentes intelectuais.
Nunca abrem a boca para pressionar os governos a diminuir o número de alunos por turma e o número de turmas por professor - não vêem grande necessidade disso, mas agora que estão com medo vêm dizer que as condições de ensino à distância são melhores nos colégios. A sério?? Onde as turmas têm 20 alunos e os professores duas turminhas, onde aos alunos não faltam dispositivos digitais e aos professores também não? Pois é, nas escolas públicas falta muita coisa, aos alunos e aos professores.
Sim, há professores muito envelhecidos. É uma profissão muitos desgastante. Muitos professores têm doenças, o que é próprio da idade, mesmo em profissões suaves, como estar sentado a escrever umas cenas para o jornal, o que não é o caso. Não sei se o JMT quer que os professores peçam desculpa ao país de não terem morrido cedo para dar lugar a outros ou se quer que os professores, ao fim de 30 e tal anos de trabalho duro se demitam e abdiquem da reforma ou que vão trabalhar doentes para lhe agradar e não estragar as férias da filha e da família.
Pois é certo que se os professores não chegassem aos 60 e tal anos cheios de turmas com alunos a abarrotar e burocracias e um trabalho infernal, se calhar havia menos doenças e menos cansaço. Mas nisso o ilustre indolente nunca viu problemas. Por ele estava tudo bem. O problema não lhe batia à porta, não queria saber.
E sim, muitos professores mais velhos e mais novos, contratados, não têm computador nem estão para gastar dinheiro do salário que é curto e anda sempre congelado com material de trabalho e usam os computadores das escolas. Agora com o ensino à distância isso ficou complicado.
Nenhuma destas questões alguma vez lhe interessou nem interessaria se de repente a pobreza e falta de condições da escola pública não lhe tivesse batido à porta.
Epá, ó João, pela parte que me toca, sendo que faço parte dos professores mais velhos e com doenças, embora não analfabeta digital, digo-te já que não me vou demitir, não me vou atirar para a escola para o meio de milhares de pessoas a infectarem-se de COVID-19, nem me vou suicidar para agradar à tua mentalidade portuguesinha de, 'não quero pagar a escola pública com os meus impostos mas quero que os professores sejam padres e freiras e dêem a vida pelas férias da minha filha e da minha família.'
E mais: acho que não te fica bem usares um jornal público para descompensares dos teus problemas pessoais. Arranja um blog para fazer isso.
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