Segundo a tradição, São Tiago veio evangelizar a Península Ibérica. Tendo fracassado, voltou a Jerusalém, onde foi martirizado. Diz a tradição que foi por isso que os seus restos mortais foram transportados para a Galiza e sepultados em Compostela, onde permanecem na Catedral de Santiago de Compostela, atraindo peregrinos de todo o mundo para fazer o famoso Caminho de São Tiago. Segundo um relato da ordem do mito, também, São Tiago teve uma intervenção fundamental na Reconquista da Península Ibérica, tendo sido declarado protector dos seus reinos: é a história de Santiago Matamoros.
Um dos episódios da mitologia de Santiago Matamoros ocorreu em 1139 na batalha de Ourique, que até aos dias de hoje ninguém sabe ao certo onde foi: Vila de Ourique no Baixo Alentejo? Campo de Ourique em Campolide, Lisboa? Vila Chã de Ourique, no Cartaxo? Chão de Ourique, em Penela, Coimbra? Campo de Ourique, no concelho de Leiria? Enfim, nessa data em que Dom Afonso Henriques derrotou os exércitos mouros, em muito maior núermo, comandados por Ali Ibn Yusuf, diz a tradição que a vitória terá tido a intervenção divina de Cristo que apareceu ao futuro rei, justamente no dia da festa litúrgica de Santiago Matamouros.
*O calendário litúrgico da Igreja Católica no dia 25 de julho celebra a festa São Tiago Maior, o apóstolo, filho de Zebedeu e irmão de São João, o evangelista. Foi um dos discípulos mais próximos de Jesus Cristo É o único apóstolo cujo martírio foi relatado na Bíblia, na qual é narrado que o rei Herodes Agripa I (10 AEC - 44 DEC) “mandou matar à espada Tiago, irmão de João”.
A devoção a Santiago entende-se no contexto da invasão muçulmana da Península - "Na batalha de Clavijo, em 834, o rei Ramiro I, de Aragão, no momento mais difícil do combate, viu-se ajudado por um desconhecido ginete montado num cavalo branco que dava espadagadas na mourama. Sentiu que tinha a seu lado o Apóstolo, desde então transformado em Santiago Matamouros, aparição fundamental na vitória contra o emir Abderraban II."
A devoção a Santiago Matamouros pode ler-se aqui, muito bem contada e ilustrada.
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Mas já o Príncipe Afonso aparelhava
O Lusitano exército ditoso,
Contra o Mouro que as terras habitava
D’além do claro Tejo deleitoso;
Já no campo de Ourique se assentava
O arraial soberbo e belicoso,
Defronte do inimigo Sarraceno,
Posto que em força e gente tão pequeno.
(...)
"Cinco Reis Mouros são os inimigos,
Dos quais o principal Ismar se chama;
Todos exprimentados nos perigos
Da guerra, onde se alcança a ilustre fama.
(...)
"Com tal milagre os ânimos da gente
Portuguesa inflamados, levantavam
Por seu Rei natural este excelente
Príncipe, que do peito tanto amavam;
E diante do exército potente
Dos imigos, gritando o céu tocavam,
Dizendo em alta voz: — "Real, real,
Por Afonso alto Rei de Portugal."
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O acontecimento foi cantado por Luís de Camões nos Lusíadas (1572):
Mas já o Príncipe Afonso aparelhava
O Lusitano exército ditoso,
Contra o Mouro que as terras habitava
D’além do claro Tejo deleitoso;
Já no campo de Ourique se assentava
O arraial soberbo e belicoso,
Defronte do inimigo Sarraceno,
Posto que em força e gente tão pequeno.
"Em nenhuma outra cousa confiado,
Senão no sumo Deus, que o Céu regia,
Que tão pouco era o povo batizado,
Que para um só cem Mouros haveria.
Senão no sumo Deus, que o Céu regia,
Que tão pouco era o povo batizado,
Que para um só cem Mouros haveria.
(...)
"Cinco Reis Mouros são os inimigos,
Dos quais o principal Ismar se chama;
Todos exprimentados nos perigos
Da guerra, onde se alcança a ilustre fama.
(...)
"A matutina luz serena e fria,
As estrelas do Pólo já apartava,
Quando na Cruz o Filho de Maria,
Amostrando-se a Afonso, o animava.
Ele, adorando quem lhe aparecia,
Na Fé todo inflamado assim gritava:
— "Aos infiéis, Senhor, aos infiéis,
E não a mim, que creio o que podeis!"
As estrelas do Pólo já apartava,
Quando na Cruz o Filho de Maria,
Amostrando-se a Afonso, o animava.
Ele, adorando quem lhe aparecia,
Na Fé todo inflamado assim gritava:
— "Aos infiéis, Senhor, aos infiéis,
E não a mim, que creio o que podeis!"
"Com tal milagre os ânimos da gente
Portuguesa inflamados, levantavam
Por seu Rei natural este excelente
Príncipe, que do peito tanto amavam;
E diante do exército potente
Dos imigos, gritando o céu tocavam,
Dizendo em alta voz: — "Real, real,
Por Afonso alto Rei de Portugal."
A batalha de Ourique está representada nos azulejos, Dom Afonso Henriques na Batalha de Ourique (1933) de Jorge Colaço.
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