Em que compro o Público porque alguém, que suspeito seja o ex-SE, agora ministro da educação, manda publicar artigos de propaganda que geralmente são aos pares. E de facto, é o caso: um par de artigos, cada um pior que o outro.
Este primeiro é de José Matias Alves, um colaborador do ex-SE, agora ministro da educação no desenho da flexibilidade curricular - coisa que não é dita no jornal, para parecer que é um artigo independente e imparcial. Logo aí desconfiamos da sua seriedade, mas adiante.
É um artigo contra os exames de acesso ao ensino superior. Todos sabemos que o ex-SE, agora ministro da educação está fixo nessa tarefa de acabar com todas as aferições significativas para poder brilhar nas estatísticas, mesmo que à custa do interesse dos alunos e do país.
Então lemos o artigo e três quartos do artigo constituem aquela falácia do «apelo ao povo», 'todos sabem que'... que se usa quando se quer fazer parecer que as nossas premissas estão provadas e é preciso ser muito ignorante para não estar por dentro do assunto. Vai daí, enumera uma data de falsas premissas: "ficou claro que os exames não são justos...; "ficou claro que os exames distorcem o ensino desde o 1º ano", etc., ele repete isto muitas vezes. É claro que... não ficou nada claro. Em alguns casos o que ficou foi a certeza de que há processos que têm problemas a ser resolvidos. Depois conclui: "dado que o sistema não serve"... como se aquelas falsas premissas, elas mesmas improvadas, fossem provas de que o sistema não serve. Depois passa alegremente a dizer como as coisas devem ser para o mundo ser feliz.
O que nunca é abordado, porque não lhe interessa, é a questão de saber se há mérito e benefício para os alunos e para o país, fazerem exames. E essa é que é a questão principal, porque havendo, o resto são processos com falhas a ser resolvidas.
Este é um artigo, em meu entender capcioso, escrito para manipular e não para esclarecer a questão ou contribuir positivamente para melhorar o sistema de educação.
Se eu penso que isto manipula a maioria das pessoas? Sim, penso que sim, porque as pessoas querem muito acreditar em histórias com final feliz e querem muito ter alguém ou algo a quem culpar, neste caso, os exames.
O segundo é totalmente desonesto, nem tenta disfarçar. É também muito... estúpido, não há outra palavra. Mas lá está: cumpre o propósito de manipular os leitores? Penso que sim, porque as pessoas querem muito acreditar em histórias com final feliz e querem muito ter alguém ou algo a quem culpar, neste caso, os horríveis dos professores das escolas.
Senão vejamos: o título o que diz? Nesta escola não há aulas nem professores, portanto, dá
logo a entender que aulas e professores são coisas retrógradas, do passado. No sub-título lemos que há uma geração de bravos (em inglês para parecer muito tech) que vai além da simples transmissão de conhecimentos. Lá está outra vez: a escola que temos é de mera transmissão de conhecimentos e não se passa lá mais nada. É um vazio de gente cobarde, ao contrário dos bravos.Depois olho a imagem: três rapazes, sozinhos, cada um no seu computador. Se estivéssemos na Idade Média esta propaganda mostrava três frades com a Bíblia mágica, cujo conteúdo salva, agora mostram-se computadores, a palavra mágica actual que resolve todos os problemas da educação. Começamos a ler e lá está: 10h da manhã, as mesas de cor do arco-íris para apoiar a comunidade LGBT (para dar a ideia de que as escolas que temos são contra as pessoas LGBT, o que é uma mentira descarada), e os learners, como lhes chamam (porque chamar alunos é ofensivo e retrógrado), sentam-se no computador e todos são felizes e entusiasmados.
A sério? Isto é entre a parolice de se chamarem com nomes em inglês, para parecerem internacionais e a estupidez de alguém pensar que por se sentarem em frente do computador o conhecimento vai brotar nas suas mentes e serão todos felizes.
A seguir ainda é pior porque se diz que os aprendizes são incentivados a ir para o computador para uma plataforma várias horas por dia conviver com os colegas. Isto é abaixo da crítica séria. Desde quando é melhor conviver com os colegas através de um ecrã, em vez de se sentarem uns com os outros ou irem todos passear a alguma lado? Fico desconfiada que este artigo tem o patrocínio de uma plataforma digital qualquer - a que é mencionada no artigo.
Os learners escolhem o que querem estudar. Este artigo aparece umas vezes por ano, no Público, embora em versões diferentes. Já comentei outros do mesmo teor que defendem que os alunos é que escolhem o que querem estudar e se querem estudar, porque podem querer só dançar, por exemplo e os professores estão ali para o caso de eles quererem dar um passinho de dança.
A course manager, que é o nome que dão aos professores, explica tudo como os professores da escola antiga não sabiam explicar. Aqui dá vontade de o mandar àquele sítio, mas como estou convencida que isto é escrito pelo ministro ou às suas ordens, não vou mandar o homem à outra parte. Enfim, a linguagem, como se vê, vem directa da gestão, pois hoje em dia, os educadores do futuro são gestores que gerem os alunos, não como pessoas mas como projectos rentáveis.
O Luke assiste à lição de Português porque veio da África do Sul e não sabe falar. Ah! Espera lá, afinal há lições quando é preciso, de facto, aprender o que não se sabe. Ai é? então o Luke, não é um learner? Ele não sabe aprender a língua sozinho e precisa de um professor?
Mais abaixo diz-se que esta escola tem actividades e clubes, como se as nossas escolas não os tivessem desde sempre. É a desonestidade total. Não estou para desmontar isto tudo porque é tanta estupidez que até dói.