já tinham dividido tudo
pelos outros e seus descendentes.
Só havia o céu por cima dos telhados
lá muito alto
para eu respirar
e sonhar.
Tudo o mais
cá em baixo
era dos outros e seus descendentes.
A terra inteira
e o mar
e o ar
tudo medido
dividido a régua e compasso
pelos outros e seus descendentes.
No mundo inteiro
não faltava ninguém
depois dos outros e seus descendentes.
A terra inteira
era estrangeira
mais este pedaço onde nasci.
Não me deixaram nada
nada mais do que o sonhar.
(...)
— José de Almada Negreiros