Showing posts with label incompletos. Show all posts
Showing posts with label incompletos. Show all posts

June 17, 2021

Incompletos IV

 


Quando cheguei devia ser tarde,
já tinham dividido tudo
pelos outros e seus descendentes.
Só havia o céu por cima dos telhados
lá muito alto
para eu respirar
e sonhar.
Tudo o mais
cá em baixo
era dos outros e seus descendentes.
A terra inteira
e o mar
e o ar
tudo medido
dividido a régua e compasso
pelos outros e seus descendentes.
No mundo inteiro
não faltava ninguém
depois dos outros e seus descendentes.
A terra inteira
era estrangeira
mais este pedaço onde nasci.
Não me deixaram nada
nada mais do que o sonhar.
(...)

José de Almada Negreiros

Incompletos III

 


Amo estes seres de tal modo enamorados por aquilo que o seu coração imagina ser a liberdade que se imolam para evitar a morte do poucochinho de liberdade. Maravilhoso mérito do povo. (Crê-se que não existe o livre arbítrio e que o ser se define relativamente às suas células, à sua hereditariedade, ao decurso breve ou prolongado do seu destino… Todavia, entre tudo isso e o Homem existe um enclave de inesperados e de metamorfoses cujo acesso deve ser proibido e a manutenção assegurada.)

     —  rené char

Incompletos II

 


Ouro de mim, sonhei-me em poeira, e o vento da realidade, erguendo-me, dourou do que eu fui as árvores e os casebres do caminho...

(Não te importe que isto assim fosse... Antes ser o ouro sobre os casebres que os casebres sob o ouro.)

Não te entristeças. Eu reinei no que nunca fui.

    — Pessoa. Livro do desassossego de Bernardo Soares.

Incompletos

 

Havia um homem que ficou deitado
com uma flecha na fantasia.
(...) Estava
tão morto que vivia unicamente.

   — herberto helder


March 27, 2020

poesia ao anoitecer - em construção



Oh noite rumorejante

dos negros silêncios dos campos
cortados pelo ciciar das cigarras
nos anos de cálidas
Primaveras


Oh noite rumorejante

aroma viçoso do tempo
deleite ameno
noite sem pressa
de promessa
ao relento

Noite rumorejante

bja