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October 30, 2021

Dia das Bruxas




Atribuído a Barthélemy Poignare ou Peronet Lamy. 
Duas Bruxas Waldensianas. 1451. Tinta sobre vellum. Manuscrito iluminado de "Le champion des dames" de Martin le Franc. Bibliothèque nationale de France, 

Esta primeira ilustração de bruxas em vassouras encontra-se nas margens de um manuscrito do poema de Martin le Franc "Le champion des dames", uma defesa das mulheres virtuosas. São identificadas como waldensianas (vaudoises) que foram acusadas de heresia no século XIII. 

As valdenses seguiram os ensinamentos de Peter Waldo e aderiram aos votos de pobreza e permitiram a pregação e consagração do sacramento por qualquer leigo, incluindo mulheres. Isto ameaçava a autoridade da Igreja que acusava os valdenses de praticarem feitiçaria e realizarem celebrações ilícitas do Sábado.




Randolph Wagner


July 06, 2021

A propósito de transtornos mentais

 


Fui dar com esta pintura no site do rijksmuseum que agora disponibiliza gratuitamente o download digital das obras. E pus-me a observar os pormenores da pintura e reparei numa cena estranha no altar (pormenor mais abaixo) de um indivíduo a decapitar uma mulher vendada. Intrigante, não? Pois, antes de mim já outros se tinham intrigado.. Descobri que se trata de Santa Dimpna, a padroeira dos Doentes Mentais e da Ansiedade. 

Reza a história (ou lenda) que Santa Dimpna era a filha de um rei irlandês pagão no século VII e que foi assassinada por seu pai. Dimpna foi baptizada secretamente, porque a sua mãe era cristã e tornou-se também cristã. Depois da mãe morrer o pai ficou inconsolável e vendo a filha muito parecida com a mãe, resolveu casar-se com ela.

Ela conseguiu fugir com a ajuda do seu padre confessor, Gereberno e mais dois criados. Foram para a Bélgica, para a aldeia de Geel, perto de Antuérpia. Porém o pai nunca deixou de procurá-la e quando os seus mensageiros os descobriram, o pai dirigiu-se para lá. Ordenou a seus servos que matassem o padre e foi ter com a filha. Renovou a sua oferta e tentou convencê-la a regressar à Irlanda. Perante a recusa da filha ficou furioso, sacou da espada e decapitou-a ali mesmo Diz-se que ela tinha 15 anos quando o crime ocorreu.

Os cadáveres foram colocados num sarcófago e sepultados numa caverna onde foram encontrados mais tarde. Em 1349 foi construída em Geel uma igreja em honra de Santa Dimpna. 

Mais tarde, "lunáticos", deixados a vaguear pelo campo por não haver tratamentos, dormiram no local onde ela foi morta e acordaram curados dos seus distúrbios. Outras curas milagrosas foram relatadas ao longo dos séculos a quem ficava no local da sua morte. 
Em 1480, tantos peregrinos vinham de toda a Europa, em busca de tratamento para doenças psiquiátricas, que o alojamento da igreja para eles foi expandido. Em breve o santuário para aqueles considerados "loucos" estava novamente cheio a transbordar, e as pessoas da cidade começaram a levá-los para as suas próprias casas. 
Assim começou uma tradição para o cuidado contínuo daqueles que sofrem de doenças psiquiátricas que perdura há mais de 500 anos. Os doentes foram, e ainda são, levados para as casas dos habitantes de Geel. Os pacientes, são chamados, internos, e são tratados como membros comuns e úteis da cidade. São tratados como membros da família de acolhimento. Trabalham, na maioria das vezes em trabalho doméstico, e em troca, tornam-se parte da comunidade. Alguns ficam alguns meses, alguns décadas, outros durante toda a sua vida. No seu auge na década de 1930, mais de 4.000 'pensionistas' foram alojados com os habitantes da cidade. (wiki)

A igreja original ardeu em 1489 e foi reconstruída em 1532.

O seu dia de festa é 15 de Maio e a santa é tipicamente retratada com um demónio acorrentado aos pés e uma espada na mão.





The Holy Kinship
Geertgen tot Sint Jans


pormenor

May 11, 2021

Estas malas agora fizeram-me lembrar uma história do Verão de 1974

 


É que na semana passada eu e a minha irmã estivemos a lembrar dela e a rir. Tenho tantas histórias destes anos do 25 de Abril e do PREC que devia escrevê-las todas. Esta foi no Verão de 74 quando Spínola e Vasco Gonçalves (o PC em geral) faziam um braço de ferro para ver quem mandava mais e que culminou na intentona ou inventona, como lhe chamavam, do 28 de Setembro, que não vou aqui explicar o que foi, mas que fez fugir daqui, sobretudo para o Brasil, toda a gente que tinha 3 tostões, porque já aí se adivinhava o PREC que havia de vir.

Enfim, nesse Agosto, fomos passar uma semana de férias ao sul de Espanha. Íamos lá encontrar-nos com uma espécie de primos que não são primos que já estavam a viver quase todos fora de Portugal, no Norte da Europa. E já lá estavam todos os que eram para estar (o meu pai ficou a trabalhar) e faltavam, eu (ainda estou para saber porque é que nestas histórias ficava sempre para trás...), a minha irmã mais nova a seguir a mim e a mãe. A tia que já lá estava em Espanha pediu-nos se aproveitávamos para levar coisas pessoais que tinha deixado cá em Portugal antes que fosse tudo nacionalizado pelos amigos do Otelo e do camarada Vasco. Jóias e outras coisas mais volumosas. 

É evidente que não podíamos ir de avião que era tudo revistado, de modo que tínhamos que ir de carro. O problema era que a mãe não guiava. Tinha motorista. Então pedimos à C. uma amiga comum, bastante mais nova que a mãe que fosse connosco. O carro dela era um mini. Ela tinha tirado a carta há 3 dias (já me estou a rir). Era final de Julho ou Agosto, já não lembro ao certo mas penso que era Agosto (a minha irmã lembra-se), um calor de morte, as estradas não eram auto-estradas como agora. Até ao Caia a estrada era apertada e um solavanco constante. O carro, muito pequeno, ia atafulhado de malas como se fossemos dar a volta ao mundo - as malas escondiam muita coisa lá dentro entre roupas. Entre mim e a minha irmã, que íamos atrás, havia malas a ocupar todo o espaço e havia coisas debaixo dos bancos que não queríamos que descobrissem. A bagageira ia aberta porque era pequenina e as malas não cabiam todas lá dentro. 

Íamos lá dentro as 4 a estrafegar com o calor e a combinar o que fazer na alfândega com os guardas. A C. não acertava nas mudanças e estivemos várias vezes paradas com o carro a não querer andar. Nessa altura havia piquetes nas estradas e na fronteira, então, aquilo era tudo esquadrinhado... não me lembro ao certo do que se passou na fronteira. Lembro-me de se ter que abrir malas, de tirar tudo da bagageira e de estar ali uma confusão, haver muitos discussão e aquilo ter durado muito tempo, mas nós éramos todas muito descaradas e não tínhamos medo nenhum. Sei que passámos. Na Andaluzia o calor era uma bigorna, o carro deitava fumo e a gente estava há horas enfiadas num espacinho atafulhado -na altura as viagens pelas estradinhas mal-amanhadas eram como fazer um safari em África. De vez em quando parávamos para pôr gasolina e despejar garrafas de água pela cabeça abaixo. Comíamos qualquer coisa e seguíamos. Íamos em grande risadas, tudo a falar alto ao mesmo tempo, acho que da adrenalina de termos passado com as coisas todas debaixo do nariz dos indivíduos e a C. largou-se com o carro à desabrida. De repente passa um carro por nós a fazer sinais frenéticos. Eram dois espanhóis a avisar que lá mais atrás as malas da bagageira tinham caído para a estrada.      ahahah

Tivemos que voltar para trás à procura das malas. Demos com elas espalhadas no meio da estrada. Lá as fomos apanhar. Só ríamos, porque, quer dizer, tanta coisa para passar as malas e depois perdíamos as malas pelo caminho sem dar por isso. Essa viagem foi um filme tipo italiano. Chegámos ao hotel de noite, esbaforidas, tudo preocupado connosco - na altura não havia telemóveis e não tinham maneira de nos contactar e saber onde estávamos e se estávamos bem, podíamos ter sido presas- e a gente só ria.






imagem da net