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December 06, 2019

Educação: os governos fornecem os fósforos das demagogias aos jornalistas para que estes queimem tudo à passagem



Hoje o jornal i trás um grande artigo de várias páginas a fazer a apologia das explicações e explicadores através do youtube e a denegrir o ensino e professores que estão nas escolas, a quem chama tradicionais.
Aos explicadores do youtube chama novos professores-o artigo faz uma enorme publicidade a um tal Vítor Pereira, explicador de Matemática- e afirma que estão a revolucionar o ensino! Como se os dois termos fossem sinónimos...

Estamos nós nas escolas a tentar tomar cada vez mais atenção às particularidades de cada aluno individual e à interacção positiva com os alunos no sentido de percebermos as suas potencialidades e sermos motores do seu desenvolvimento e vem este explicador YouTuber gabar-se que tem já 90 mil clientes (com este artigo vai aumentá-los muito e ganhar ainda mais dinheiro, pois é para isso que tem o canal) e que os alunos que não percebem as suas aulas podem repetir o vídeo as vezes que quiserem até perceberem os raciocínios dele... oh, meu Deus!!   ... como se a compreensão fosse um processo quantitativo de martelada até o prego entrar completamente na tábua rasa da cabeça... e como se o processo da aprendizagem fosse apenas perceber o raciocínio alheio num dado assunto ou problema...

Os professores nas escolas não têm clientes, nem estão na profissão para fazer dinheiro à custa dos alunos. Têm outros ideais e outro respeito pelos alunos. Lidam, não com seres virtuais mas, com pessoas reais e com os seus problemas enquanto seres humanos num determinado ponto da sua formação com um determinado contexto social, mental e físico que transportam e marca todas as suas aprendizagens.

Talvez os 90 mil seguidores deste senhor Pereira se expliquem pela falta de dinheiro que as pessoas têm para explicações. Os próprios centros de explicação, diz-se aqui no artigo, estão a adoptar este sistema. Pois claro! Em vez de pagarem a professores para trabalharem individualmente com alguns alunos as técnicas necessárias ao domínio dos problemas e perceberem onde precisam de reforço põem um vídeo a passar para uma enorme quantidade de clientes ao mesmo tempo.

Este explicador de matemática até diz que tem professores tradicionais a segui-lo. Pois, calculo que os colegas das escolas o sigam para saber com o que têm que lidar nas aulas, isto é, com que tipo de disparates vão ter que lidar quando os alunos chegarem às aulas cheios de respostas formatadas à medida do negócio e lucro do senhor Pereira..

Aulas por vídeo só aproveitam a quem já sabe e tem autonomia e apenas precisa de juntar pontas soltas.

Bertrand Russel, num livro de 1931 que se pode descarregar, inteirinho, em PDF, ou outro formato, aqui neste site → www.archive.org/details/scientificoutloo030217mbp já dizia que nas sociedades científicas do futuro a educação seria diferenciada consoante se tratasse de educar os filhos das elites intelectuais e os filhos dos outros, destinados a trabalhos não intelectuais. Os primeiros teriam a presença de professores que desenvolveriam as suas potencialidades numa interacção constante e os segundos teriam aulas pela tv ou rádio (não imaginava o youtube, claro) de um modo massificado só para aprenderem o básico. Acima de tudo seria treinada e valorizada a co-operação, a obediência ao grupo e a colaboração, sendo a iniciativa individual e o espírito independente próprio dos descobridores, inventores, filósofos, etc., completamente desencorajados. Pois é, o Bertrand Russel via muito e via longe porque o futuro dele já chegou ao nosso presente...

No mesmo jornal, um artigo de opinião de uma professora da Universidade do Minho queixa-se dos resultados do relatório PISA mostrarem que os alunos aos 15 anos não gostam de ler e são indisciplinados. Diz ela que os seus alunos vão para as orais sem ter lido um livro ou um artigo científico, sequer, e conclui que é preciso mudar, nas escolas, programas, disciplinas e fazer formação de professores... mas quem são estas pessoas que pensam que os alunos gostarem de ler e de aprender é uma consequência mágica de mudar disciplinas e formar professores?

Uma pessoa lê estas coisas e fica desmoralizada...

Todos os dias um artigo no jornal a fazer demagogia anti-pedagógica, a denegrir os professores que estão nas escolas a trabalhar com os alunos (o que é muito difícil ao contrário de estar atrás de um ecrã de computador a debitar uma cantilena igual para todos sem obstáculos nem contraditório) e a perverter as virtudes do ensino, tarefa tão difícil, tão importante mas infelizmente muito mal tratada e mal amada pelos governos e pelos poderes.