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August 10, 2020

Paleta das flores e frutos

 

Em Junho passado as 14 aguarelas de ilustração botânica que Jean Schneider, um editor suíço encomendou a Dali em 1969, foram vendidas por 1 milhão e 200 mil dólares

Dali tomou as dez imagens de Pierre-Antoine Poiteau, recueil des plus beaux fruits cultivés en France e mais três de, Traité des arbres et arbustes que l’on cultive en France by Duhamel du Monceau, de Pierre-Jean Redouté e pintou sobre e à volta delas, usando um elemento do original como ponto de partida para as suas visões estranhas, sexuais, humorísticas e surreais da realidade.

Como disse mais tarde, 'vejo a forma humana nas árvores, nas folhas, nos animais, nos vegetais. A minha arte na pintura, diamantes, rubis, esmeraldas, ouro, mostra a metamorfose que teve lugar; os seres humanos criam e mudam. Quando dormem mudam totalmente em flores, plantas, árvores. (citado in Dalí Jewels: A Collection of the Gala-Salvador Dalí Foundation, Milan, 1999, p. 36).

Schneider publicou as pinturas em litografias numa série conhecida como, As Frutas de Dali que tiveram imenso sucesso, mas escondeu as aguarelas originais no cofre de um banco. Com excepção de uma exposição em 2000 as aguarelas nunca tinham sido vistas.









July 26, 2020

Dali - A Rosa Meditativa



Diferentemente do que são as interpretações que já li desta pintura, que a vêm como alegria, emoção do amor, beleza e optimismo, eu vejo-a como platónica. Vemos uma rosa perfeita, colhida no seu auge, com a gota de água da frescura numa pétala, a pairar sobre uma paisagem térrea, de uma materialidade deserta, monótona e triste. Nesta paisagem terrestre vê-se um casal. A rosa paira sobre eles, esmagadora na dimensão, vermelha como a cor da paixão, perfeita como só as ideias o podem ser, estática como os eternos símbolos, distante como o estado de meditação, no centro de um céu de cor espiritual. A felicidade e o amor não são de ordem material e, só na ideia, são perfeitos. Na materialidade da terra o seu destino é desolado e a sua verdade terrestre é aparente, irreal e transitória como tudo o que é material. A rosa, na pintura, é o único elemento com densidade e peso, com realidade. Tudo o resto parece ter apenas duas dimensões. Quer dizer, buscar a perfeição na matéria é uma ilusão. A mim parece-me uma pintura platónica um bocadinho deprimente.