July 26, 2020

Dali - A Rosa Meditativa



Diferentemente do que são as interpretações que já li desta pintura, que a vêm como alegria, emoção do amor, beleza e optimismo, eu vejo-a como platónica. Vemos uma rosa perfeita, colhida no seu auge, com a gota de água da frescura numa pétala, a pairar sobre uma paisagem térrea, de uma materialidade deserta, monótona e triste. Nesta paisagem terrestre vê-se um casal. A rosa paira sobre eles, esmagadora na dimensão, vermelha como a cor da paixão, perfeita como só as ideias o podem ser, estática como os eternos símbolos, distante como o estado de meditação, no centro de um céu de cor espiritual. A felicidade e o amor não são de ordem material e, só na ideia, são perfeitos. Na materialidade da terra o seu destino é desolado e a sua verdade terrestre é aparente, irreal e transitória como tudo o que é material. A rosa, na pintura, é o único elemento com densidade e peso, com realidade. Tudo o resto parece ter apenas duas dimensões. Quer dizer, buscar a perfeição na matéria é uma ilusão. A mim parece-me uma pintura platónica um bocadinho deprimente.





No comments:

Post a Comment