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June 10, 2024

Portugal, Tão Diferente de seu Ser Primeiro

 

Portugal, Tão Diferente de seu Ser Primeiro

Os reinos e os impérios poderosos,
Que em grandeza no mundo mais cresceram,
Ou por valor de esforço floresceram,
Ou por varões nas letras espantosos.

Teve Grécia Temístocles; famosos,
Os Cipiões a Roma engrandeceram;
Doze Pares a França glória deram;
Cides a Espanha, e Laras belicosos.

Ao nosso Portugal, que agora vemos
Tão diferente de seu ser primeiro,
Os vossos deram honra e liberdade.

E em vós, grão sucessor e novo herdeiro
Do Braganção estado, há mil extremos
Iguais ao sangue e mores que a idade.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Camões, "Aquela cativa"





Luís de Camões: 

Aquela cativa

Endechas a ũa cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora.

Aquela cativa
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que pera meus olhos
fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.

Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
Mas bárbora não.

Presença serena
que a tormenta amansa;
nela, enfim, descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo.
E pois nela vivo,
é força que viva.


CAMÕES, Luís de. Lírica completa. Vol.1. Prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1980.

A moeda comemorativa dos 500 anos de Camões é desadequada

 

Por acaso costumo gostar das esculturas de José Aurélio, mas esta moeda é feia de desadequada no lado da cara de Camões. Representou-o sem boca, como se fosse uma pessoa que nada tem a dizer... Qual foi a ideia dele? Uma moeda comemorativa deve evocar a pessoa e o que ela fez ou representa. Onde é que nesta moeda vemos Camões ou Os Lusíadas?




500 anos do nascimento de Camões

 


Hoje é o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A data de 10 de Junho de 1524 é a data provável do nascimento de Camões, que faz hoje 500 anos.  Este dia também é dedicado ao Anjo Custódio de Portugal. É também o dia da Língua Portuguesa, dos cidadãos e das Forças Armadas. 

Nenhum jornal faz referência ao dia de hoje. Qual é o país que despreza o seu Dia Nacional, o seu Poeta Maior que é o rosto do seu Dia Nacional e a sua própria Língua? Isto diz muito do país que somos. Ignorante e de vistas curtas.

Camões foi um poeta extraordinário, de uma cultura invulgar e com uma vida muito paralela às aventuras que ele conta na epopeia dos Lusíadas. Deu-nos uma identidade que muito contribuiu para a nossa coesão enquanto povo. 

Deixo aqui um vídeo, de um brasileiro (não encontrei um equivalente de um português) Paulo Rezzutti, sobre a vida de Camões e sobre os Lusíadas. 


May 04, 2024

2 minutos de Camões por dia nem sabe o bem que lhe fazia



Luís de Camões

Os Lusíadas


Canto V (Est. 1-100 = 467-566)
[Continuação da narração da Viagem, feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde:]

[Desembarque junto ao trópico de Capricórnio, na Ilha de Santa Helena, est. 24-27.]

25
«A maneira de nuvens se começam
A descobrir os montes que enxergamos;
As âncoras pesadas se adereçam;
As velas, já chegados, amainamos.
E, pera que mais certas se conheçam
As partes tão remotas onde estamos,
Pelo novo instrumento do Astrolábio,
Invenção de sutil juízo e sábio,



Astrolábio da nau de Vasco da Gama - Adelino Fernandes  

O astrolábio português da nau de Vasco da Gama é o mais antigo do mundo.
Resgatado ao fundo do mar Arábico, ao largo da costa de Omã, por arqueólogos britânicos em 2014, o instrumento de navegação pertencente à nau “Esmeralda”, naufragada em 1503, foi também autenticado por investigadores como o único astrolábio de disco sólido com uma proveniência verificável e o único exemplar decorado com um símbolo nacional: o brasão real de Portugal.
O fino disco de 175 milímetros de diâmetro e apenas 344 gramas foi analisado por uma equipa de investigadores que viajou até Mascate, Omã, em Novembro de 2016, para fazer imagens laser de uma selecção dos mais importantes artefactos recuperados no local do naufrágio da nau portuguesa.
Como o mais antigo astrolábio autenticado, preenche uma lacuna cronológica no desenvolvimento destes instrumentos icónicos e pensa-se ter sido um instrumento de transição entre o astrolábio planisfério clássico e o astrolábio de roda aberta, que começou a ser usado algum tempo antes de 1517.
Os astrolábios são considerados o mais raro e mais valioso dos artefactos encontrados em locais de naufrágios antigos, existindo apenas 104 exemplares em todo o mundo.

Fátima S R Cirne

February 26, 2024

500 anos de Camões

 



Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algu~a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís de Camões


Algures na Calçada de Santa'Ana
via Lisboa Antiga

February 10, 2024

As não-comemorações dos 500 anos de Camões

 


Hoje li um artigo sobre as não-comemorações dos 500 anos de Camões e o artigo fez eco em mim. Camões é um grande poeta que habita o mesmo patamar que Dante, Shakespeare e outros da mesma categoria. Os Lusíadas são uma obra monumental e causa-me uma imensa tristeza que não tenha havido vontade em lembrar este grande poeta, um homem duma cultura invulgar, duma sensibilidade e imaginação raras que se move na nossa língua como um rei em seu castelo. Foi um poeta que nos engrandeceu e nos deu um imaginário mitológico de estilo manuelino, digamos assim.

Causa-me tristeza este abandono a que deixaram o 500º aniversário de Camões, mas não espanto. Tenho má impressão da dimensão cultural dos nosso políticos, em geral. Há algumas excepções. Não se interessam pela cultura a não ser pelo lado do espectáculo. Por isso não valorizam a cultura, não investem na cultura, na educação... nós somos um país pequeno com pouca gente e com pouco dinheiro, o Estado tem que apoiar a cultura e a educação.

Daqui a cerca 20 anos, quando Portugal fizer 900 anos, se calhar também passam ao lado. Afinal, calha na data da comemoração da República, que geralmente passa à frente de tudo. Francamente não vejo grandes razões para a comemoração da República. Se a Monarquia se perdeu porque deixaram de ligar ao povo, a República fez mais ou menos o mesmo. 

O 25 de Abril parece-me importante comemorar, porque ainda não estamos numa plena democracia e ainda não é claro que essa data venha a ser importante na nossa História. Depende do que fizermos, porque se estragarmos a democracia, essa data, num futuro mais longínquo, será lembrada apenas como uma oportunidade perdida - mais uma a acrescentar às outras: a Índia, o Brasil, a Comunidade Europeia e sabe-se lá o que vamos desperdiçar a seguir.

Enfim, eu faço -fazia- uma pequena colecção de Lusíadas. Há muitos anos, numa época em que era (mais) maluca do que sou agora, comprei uma colecção inteira de clássicos da Ediclube (aí uns 100) que não precisava porque já tinha os livros quase todos (eram baratos), porque ofereciam uns Lusíadas numa edição muito boa e belíssimamente ilustrada, em fascículos. Estão ali para encadernar há trinta anos, mais ou menos. É este ano, o ano em que Camões faz 500 anos (foi em Janeiro) que vou mandar encadernar esses Lusíadas.


Edição da Ediclube

Já li os Lusíadas mais que uma vez. 
Ao longo da vida, à medida que estudava e lia acerca de outros culturas, acerca da mitologia, dos gregos e da filosofia, mais o texto dos Lusíadas ganhava significado e beleza.

Dado que estamos no quingentésimo aniversário do poeta, resolvi, relativamente àquela questão de ler um livro para um amigo, não seguir nenhuma das suas sugestões (O Fausto ou O Retrato de Dorian Gray) e ler acerca de Camões.

Sendo assim, vou ler um romance histórico, chamado, Luiz de Camões, de António de Campos Junior que li aí pelos dezoito anos e que me fez apaixonar pela figura de Camões.

O livro imagina Camões na sua vida quotidiana e acompanha-o nas suas aventuras. Campos Junior tem um jeito pictórico para apanhar e recriar os ambientes da época, os diálogos, a galhardia e espírito aventureiro que supõe em Camões, tudo isto envolvido numa linguagem preciosa que dá gosto ler. O romance é muito giro e serve igualmente a adolescentes e adultos. Li este romance dele e depois li, logo a seguir, o do Marquês de Pombal - que me deu muito jeito no exame de História do ano propedêutico, mas isso é outra história.

Portanto, vou ler este romance mais ou menos como fiz com o Guerra e paz. Cada dia ou de cada vez, 15 minutos de leitura. E se tiver muita coragem e um enorme descaramento, a seguir leio Os Lusíadas.




July 17, 2022

"Isto fazem os reis cuja vontade/Manda mais que a justiça e que a verdade"

 


Estive a ler o canto X desta edição dos Lusíadas (a propósito do Costinha, um ex-aluno que um dia fez uma caricatura minha, ter posto no FB as últimas linhas da última estrofe do poema - uma brincadeira que joga com a fotografia que lá pôs e com o chamar-se Alexandre) e chamou-me a atenção esta estrofe que nega o poeta quando diz, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".







May 05, 2021

Hoje celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa

 


E quem melhor para representar a nossa língua que o poeta errante? Aqui no seu mais famoso soneto de amor, numa edição mimosíssima: