Hoje li um artigo sobre as não-comemorações dos 500 anos de Camões e o artigo fez eco em mim. Camões é um grande poeta que habita o mesmo patamar que Dante, Shakespeare e outros da mesma categoria. Os Lusíadas são uma obra monumental e causa-me uma imensa tristeza que não tenha havido vontade em lembrar este grande poeta, um homem duma cultura invulgar, duma sensibilidade e imaginação raras que se move na nossa língua como um rei em seu castelo. Foi um poeta que nos engrandeceu e nos deu um imaginário mitológico de estilo manuelino, digamos assim.
Causa-me tristeza este abandono a que deixaram o 500º aniversário de Camões, mas não espanto. Tenho má impressão da dimensão cultural dos nosso políticos, em geral. Há algumas excepções. Não se interessam pela cultura a não ser pelo lado do espectáculo. Por isso não valorizam a cultura, não investem na cultura, na educação... nós somos um país pequeno com pouca gente e com pouco dinheiro, o Estado tem que apoiar a cultura e a educação.
Daqui a cerca 20 anos, quando Portugal fizer 900 anos, se calhar também passam ao lado. Afinal, calha na data da comemoração da República, que geralmente passa à frente de tudo. Francamente não vejo grandes razões para a comemoração da República. Se a Monarquia se perdeu porque deixaram de ligar ao povo, a República fez mais ou menos o mesmo.
O 25 de Abril parece-me importante comemorar, porque ainda não estamos numa plena democracia e ainda não é claro que essa data venha a ser importante na nossa História. Depende do que fizermos, porque se estragarmos a democracia, essa data, num futuro mais longínquo, será lembrada apenas como uma oportunidade perdida - mais uma a acrescentar às outras: a Índia, o Brasil, a Comunidade Europeia e sabe-se lá o que vamos desperdiçar a seguir.
Enfim, eu faço -fazia- uma pequena colecção de Lusíadas. Há muitos anos, numa época em que era (mais) maluca do que sou agora, comprei uma colecção inteira de clássicos da Ediclube (aí uns 100) que não precisava porque já tinha os livros quase todos (eram baratos), porque ofereciam uns Lusíadas numa edição muito boa e belíssimamente ilustrada, em fascículos. Estão ali para encadernar há trinta anos, mais ou menos. É este ano, o ano em que Camões faz 500 anos (foi em Janeiro) que vou mandar encadernar esses Lusíadas.
Edição da Ediclube
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