February 10, 2024

As não-comemorações dos 500 anos de Camões

 


Hoje li um artigo sobre as não-comemorações dos 500 anos de Camões e o artigo fez eco em mim. Camões é um grande poeta que habita o mesmo patamar que Dante, Shakespeare e outros da mesma categoria. Os Lusíadas são uma obra monumental e causa-me uma imensa tristeza que não tenha havido vontade em lembrar este grande poeta, um homem duma cultura invulgar, duma sensibilidade e imaginação raras que se move na nossa língua como um rei em seu castelo. Foi um poeta que nos engrandeceu e nos deu um imaginário mitológico de estilo manuelino, digamos assim.

Causa-me tristeza este abandono a que deixaram o 500º aniversário de Camões, mas não espanto. Tenho má impressão da dimensão cultural dos nosso políticos, em geral. Há algumas excepções. Não se interessam pela cultura a não ser pelo lado do espectáculo. Por isso não valorizam a cultura, não investem na cultura, na educação... nós somos um país pequeno com pouca gente e com pouco dinheiro, o Estado tem que apoiar a cultura e a educação.

Daqui a cerca 20 anos, quando Portugal fizer 900 anos, se calhar também passam ao lado. Afinal, calha na data da comemoração da República, que geralmente passa à frente de tudo. Francamente não vejo grandes razões para a comemoração da República. Se a Monarquia se perdeu porque deixaram de ligar ao povo, a República fez mais ou menos o mesmo. 

O 25 de Abril parece-me importante comemorar, porque ainda não estamos numa plena democracia e ainda não é claro que essa data venha a ser importante na nossa História. Depende do que fizermos, porque se estragarmos a democracia, essa data, num futuro mais longínquo, será lembrada apenas como uma oportunidade perdida - mais uma a acrescentar às outras: a Índia, o Brasil, a Comunidade Europeia e sabe-se lá o que vamos desperdiçar a seguir.

Enfim, eu faço -fazia- uma pequena colecção de Lusíadas. Há muitos anos, numa época em que era (mais) maluca do que sou agora, comprei uma colecção inteira de clássicos da Ediclube (aí uns 100) que não precisava porque já tinha os livros quase todos (eram baratos), porque ofereciam uns Lusíadas numa edição muito boa e belíssimamente ilustrada, em fascículos. Estão ali para encadernar há trinta anos, mais ou menos. É este ano, o ano em que Camões faz 500 anos (foi em Janeiro) que vou mandar encadernar esses Lusíadas.


Edição da Ediclube

Já li os Lusíadas mais que uma vez. 
Ao longo da vida, à medida que estudava e lia acerca de outros culturas, acerca da mitologia, dos gregos e da filosofia, mais o texto dos Lusíadas ganhava significado e beleza.

Dado que estamos no quingentésimo aniversário do poeta, resolvi, relativamente àquela questão de ler um livro para um amigo, não seguir nenhuma das suas sugestões (O Fausto ou O Retrato de Dorian Gray) e ler acerca de Camões.

Sendo assim, vou ler um romance histórico, chamado, Luiz de Camões, de António de Campos Junior que li aí pelos dezoito anos e que me fez apaixonar pela figura de Camões.

O livro imagina Camões na sua vida quotidiana e acompanha-o nas suas aventuras. Campos Junior tem um jeito pictórico para apanhar e recriar os ambientes da época, os diálogos, a galhardia e espírito aventureiro que supõe em Camões, tudo isto envolvido numa linguagem preciosa que dá gosto ler. O romance é muito giro e serve igualmente a adolescentes e adultos. Li este romance dele e depois li, logo a seguir, o do Marquês de Pombal - que me deu muito jeito no exame de História do ano propedêutico, mas isso é outra história.

Portanto, vou ler este romance mais ou menos como fiz com o Guerra e paz. Cada dia ou de cada vez, 15 minutos de leitura. E se tiver muita coragem e um enorme descaramento, a seguir leio Os Lusíadas.




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