Fernando Alexandre (...), considerando que a diversidade das escolas é um "aspecto positivo (...)
"Uma disciplina que é muito importante"? Porquê? É que, sendo uma disciplina em que qualquer um vai ensinar qualquer coisa a partir da sebenta de 'rezas' que o ministério preparou para a catequese, não vejo bem como pode ser assim tão importante. A não ser que reduzam os temas e atribuam a disciplina a pessoas formadas neles, como por exemplo, o tema do ambiente ser ensinado por professores da área da geografia, da biologia; ou o tema das finanças ser ensinado por professores de economia. Os outros temas, serem deixados para as aulas dos professores que já abordam esses temas nos currículos. Agora, se é para qualquer um recitar uma sebenta, não passa de endoutrinação. Era uma endoutrinação woke e agora é uma endoutrinação religiosa.
"as famílias eram surpreendidas com actividades que aconteciam no âmbito da disciplina" - Quais famílias? Porque deve haver 1 milhão de famílias com filhos a estudar. Eram surpreendidas? E então?? Desde quando a educação tem de ser o que as famílias esperam? Estamos a falar de ensino público e não de escola privadas. Os professores não trabalham para os pais. Trabalham com os pais, mas trabalham para o Estado, prestam um serviço público, não privado. É certo que não podem trabalhar contra os pais, mas daí não se segue que sejam os pais a dizer aos professores o que é ou não é adequado no âmbito de uma disciplina. Uma coisa é os pais dizerem, 'o meu filho não vai participar nessa visita de estudo ou nessa palestra' (o que já cho interferência abusicva numa escola pública) outra muito diferente é porem-nos como Salazares dos professores, com o lápis azul na mão. Shame...
Quando fala em sebenta, é em sentido metafórico, certo?
ReplyDeleteNunca lecionei a coisa, mas, do que fui vendo, muitas vezes as turmas abordavam os temas e na perspetiva dos professores que as lecionavam.
Depois, o ministro considera-a importante porquê?
Penso que há um texto do ME com orientações para cada tema de como será abordado e que agora vai ser ac rescentado com aprendizagens mínimas que chama essenciais. Como quem dá aquilo na maior parte das vezes não sabe o que está a ensinar, segue a sebenta, não?
Delete*vai ser acrescentado
DeleteNão sou contra temas essenciais na disciplina até por me parecer que os professores se centram no que lhes é favorável em termos de opinião, ou lhes dará menos trabalho a leccionar. E também que deixar tudo ao critério das escolas é o maior engano a que, admito até que por boas intenções e respeito por regionalismos, os palermas dos gabinetes dos ministérios incorram, sacudindo em simultâneo a água do capote (muito regionalismo é isso mesmo, acescido de gastar menos com a educação). Aos alunos é disciplina que pouco importa. Os conteúdos práticos não se exercitam e dão-se umas teorias e tal (quando dão). Por mim, a disciplina nem faz muito sentido separada, a cidadania é objectivo de toda a escola, docentes, discentes, auxiliares, administrativos e pais. A cidadania, como tanta outra coisa, requer exercício e exemplo. Poucos hábitos se ganham apenas por palavras. Não me pergunte como fazer porque ninguém me convidou para o ministério a fim de pensar em tais assuntos e pô-los em execução, mas acredito cada dia menos em teorias e palavras que vingam por si mesmas em glória excelsa. A prática efectiva, o confronto com as situações e os outros, dá que pensar e obriga a agir. Tira-nos do conforto de apenas decorar umas coisas. O ensino português é em alguns sectores de um facilitismo confrangedor e que não prepara gente que pense na humanidade em geral e não apenas no seu umbigo (é ver os novos e actuais políticos e aferir da educação que preconizam e ministrada por pais e outros educadores - formais e informais). Não se preparam os cidadãos e até me parece que os achincalha no pouco que lhes exige. Os vínculos e a consequente mudança de comportamento, vêm "by exemple" como dizia Matt Damon num filme sobre Mandela.
ReplyDeleteMas nós damos-lhes palavras. E mais palavras.
Quanto aos pais: começam a ser o maior empecilho num processo que deve uni-los aos professores. A educação é tarefa, sobretudo, de ambos os sectores. Nunca agi ao invés deles e também não notei que não estivessem de acordo. Mas eram outros tempos: encontrei nas chefias obstáculos intransponíveis, mas tive sempre os pais a meu lado. As pontes são necessárias e nem me parece que sejam assim tão difíceis de conseguir. Precisam-se bons negociadores e com certeza extirpar algumas ervas perniciosas que só prejudicam o processo sejam elas quais sejam.
Mas o nosso é um país de conveniências onde tudo se muda para tudo ficar pior (o igual já não existe).
Tenha um óptimo fim de semana, Beatriz.
Tenho que sair, mas à volta já respondo ao comentário :)
DeleteEntão, 'temas essenciais' não são aprendizagens essenciais (AE). AE consiste na definição do que é que tem de ser obrigatoriamente leccionado em cada tema do programa, (é o que sai depois nos exames.)
DeleteO que aconteceu, desde que o anterior ministro inventou as AE foi que os professores deixaram de leccionar todos os sub-temas que não fazem parte dessas AE, com prejuízo da aprendizagem dos alunos e até da coerência dos programas. Só para dar um exemplo, no 11º ano de Filosofia, damos duas perspectivas, em confronto, acerca do conhecimento: a de Descartes e a de Hume. Kant, que posteriormente 'resolve' este confronto, faz parte do programa, mas foi deixado de fora das AE. Resultado: a não ser que o professor entenda abordar a sua perspectiva, ainda que brevemente, os alunos ficam com a impressão de que o assunto parou naquelas perspectivas.
Ninguém defende deixar tudo ao critério das escolas. Há temas e programas que são definidos para todos, o que é correcto e não é possível um professor ou uma escola escolher não trabalhar um tema que está no programa. Portanto, isso de cada um só dizer a sua opinião, não é sequer possível, nem é o que acontece.
Ao contrário do que as pessoas pensam, os grupos disciplinares, têm critérios comuns acordados, no sentido de haver coerência entre os professores e preocupamo-nos com a objectividade no ensino.
Agora, dito isto, cada um tem o seu estilo e está em momentos diferentes da sua vida profissional. Hoje-em-dia, tenho mais experiência e sei melhor que tipo de catalisadores prendem melhor a atenção dos alunos e fixam melhor a aprendizagem. Também tenho menos turmas e por isso faço muitas fichas de aplicação de conhecimentos que há uns anos não teria tempo de fazer com 5, 6 ou 7 turmas mais DTs mais outros trabalhos. Estas coisas mudam a experiência dos alunos.
O estilo também muda de professor para professor, e isso é positivo. É bom que os alunos tenham experiência de vários modos de trabalhar e de abordar as questões. Mesmo em disciplinas como a Matemática ou temas como a Lógica proposicional, não o trabalhamos da mesma maneira. Porque é que na cidadania haveríamos de o fazer?
Também penso que a disciplina não tem grande serventia porque os tmas que lá se tratam, são próprios de disciplinas específicas. Por exemplo, questões relacionadas com a educação sexual tratam-se na biologia e algumas outras na Psicologia (quanto a mim devia ser obrigatória num dos anos do secundário); os temas da organização do Estado e funcionamento das democracias tratam-se na Filosofia Política no 10º ano, bem como o tema da cultura, da relatividade de valores e culturas. Etc.
(continua)
ortanto, para quê estar a criar uma disciplina onde pessoas que não têm conhecimentos, a não ser de revista Cláudia, sobre os assuntos, vão ensiná-los aos alunos?
DeleteE temas como literacia financeira, poderia ser incluídos no programa de uma disciplina vocacionada para o seu ensino.
O que não faz sentido é por professores a dizer coisas sobre assuntos de que sabem 'umas coisinhas'. Imagine que me punham a mim a dar literacia financeira. O que percebo eu disso???? Ou considera-se que como são alunos do ensino público, engolem qualquer porcaria que lhes dêem?
Na verdade, o ministro disse que as questõs da sexualidade vão ser dadas no âmbito da saúde por professores com conhecimentos para o assunto. Mas os outros temas qualquer um pode dizer qualquer coisa? Bem, o que vai acontecer é que os professores, não tendo conhecimento dos assuntos, vão debitar a sebenta religiosa que o ministro e o seu SE vomitarem cá para fora.
Quanto a mim isto é já um sintoma da decadência da ciência e do conhecimento especializado em favor de perspectivas de religiões e de pseudo-ciências.
Quanto aos comportamentos de cidadania, como respeito pelas perspectivas dos outros, respeito pelas regras das disciplinas e da escola, respeito pelas regras democráticas, responsabilidade cívica, etc., estou consigo: apreendem-se no contacto com os pais, os professores, a direcção da escola, as instituições públicas, os grupos de desporto ou outros que frequentem, etc.
Os pais hoje-em-dia não compreendem que podem ser um grande empecilho à educação escolar dos seus filhos e dos colegas de turma. Como o ministro e políticos em geral lhes dizem que eles é que sabem o que os filhos devem aprender, convencem-se seriamente que percebem de ensino do português, da matemática, da biologia, da filosofia, das línguas e tudo o resto e vão às escolas empecilhar o trabalho dos professores e, por vezes, estragar turmas inteiras.
E sim, o ex.ministro João Costa, para aparecer como um sucesso nas estatísticas pôs o ensino nas aprendizagens mínimas dos mínimos rente ao chão. Agora temos alunos a chegar ao secundário, e à universidade que nem ler sabem. Nem acham importante ir às aulas ou chegar a horas ou fazer seja o que for, dado que lhes disseram que passar de ano sem trabalhar é um direito humano.
Mas este ministro e o SE insistem na mesma lógica e para se vingarem da anterior orientação woke na disciplina de cidadania, vão substituí-la por orientação religiosa e censura parental.
É só mediocridade.