July 23, 2025

Stalking

 


PGR abriu mais de cinco mil inquéritos por stalking em cinco anos. O assédio “só vai parar quando ele se cansar”

“Hoje pensei em ti.” “Odeias-me assim tanto?” “Já foste votar?” Inquéritos por crime de perseguição aumentaram 25% em cinco anos. Vítimas têm de estar atentas ao escalar do assédio, alerta a APAV.

Público

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A internet vaio abrir um nova estrada de certo tipo de crimes e a pandemia, ao pôr toda a gente confinada em casa, inadvertidamente abriu uma auto-estrada para o crescimento do narcisismo e mentalidade de domínio de tantos e tantos. Daí o aumento dos crimes de stalking, que penso não se deverem apenas a serem mais dennunciados.

Hoje-em-dia é relativamente fácil a fraude e o abuso na internet.

Os stalkers entrar nas nossas contas das redes sociais, entram nas contas dos nossos amigos para deixarem bocas e recados, entram nas contas de email, entram no telemóvel e ouvem as nossas conversas com toda a gente e depois deixam comentários, críticas e apreciações espalhadas pela internet nos sítios que frequentamos. Há períodos em que mandam poemas todos os dias e depois no período a seguir mandam ofensas. Vêm observar-nos à distância e depois deixam comentários: não gostei da roupa, estás mais gorda, mais magra...

O seu objectivo é controlo da pessoa. É como se a outra pessoa fosse uma espécie de reality show que controlam ou querem controlar. 

Alguns são mesmo narcisistas com necessidade de constante validação e sensação de poder e, então, controlam várias pessoas ao mesmo tempo. Se não têm validação de uma tem de outra. Os narcisistas raramente se vêem como narcisistas. Vêem-se como vítimas e daí que pensem que todo o seu comportamento é desculpável porque são uns coitados. Eles são pessoas excepcionais que mereciam tudo da vida... embora saibam perfeitamente que o que fazem é crime.

Em geral, penso que são pessoas tristes que vivem num buraco negro escondido atrás de uma máscara de civilidade e tentam arrastar outros para o seu buraco negro, porque a ideia de haver pessoas que vivem bem enquanto eles estão na fossa, é-lhes intolerável.

Muitos vivem nesse mundo e tudo o que fazem fora desse mundo é apenas um intervalo para voltar a esse mundo em que se enredam.

Fazem lembrar os alunos dos dias de hoje que vêm as aulas como um intervalo incómodo entre a vida real nas redes sociais.

Claro que provocam dano nas suas vítimas -é essa a intenção- porque isto é violência e violação de intimidade e, por vezes, alguns tornam-se fisicamente violentos.

Numa estatística que li há pouco num documento de uma instituição dos EUA, que agora não recordo, a certa altura alguém dizia que a pessoa mais perigosa que uma mulher pode conhecer é o futuro namorado ou marido. Mais de 60% dos homicídios sobre mulheres são em casa, às mais de maridos e namorados. Sobretudo depois de a mulher dizer que quer separar-se ou sair do namoro ou divorciar-se. É nessa altura que a sua vida corre mais perigo.

Penso que há um grande problema na educação dos rapazes quanto ao papel social que lhes inculcam desde a nascença que exacerba os impulsos de dominação e de violência. As raparigas são educadas para serem cuidadoras, para respeitarem os outros, para serem dialogantes e não violentas e os rapazes são educados para serem controladores e dominadores e servirem-se das mulheres.

Uma estatística que impressiona é a do apoio a doentes com cancro no seio da família. Uma grande percentagem de homens divorcia-se imediatamente da mulher assim que ela é diagnosticada com um cancro. Mesmo os que não se divorciam, afastam-se das mulheres e não apoiam em nada. Nada mesmo. Conheço casos de indignidade mesmo. Há pouco tempo ouvi uma enfermeira, numa reportagem sobre este tema, dizer que o caso mais chocante que viu foi o de uma mulher que ficava internada sempre que tinha de fazer quimioterapia e que todos os dias recebia a visita do marido, que ia lá exclusivamente para que ela lhe fizesse sexo oral e depois ia embora sem uma palavra. As mulheres, pelo contrário, quando os maridos têm cancro, apoiam-nos emocionalmente, fisicamente, economicamente, enfim, em tudo.

Também as estatísticas das prisões são claras. Quando um homem é preso, as namoradas e mulheres visitam-nos sempre que podem, levam os filhos, levam-lhe produtos e apoiam-nos emocionalmente. Já as mulheres quando vão presas, ninguém as visita: nem maridos, nem filhos. Ninguém.

Acho isto profundamente triste no que diz da educação nas nossas sociedades e da falta de humanidade dos homens nestas questões e penso que não tem que ser assim, pois a educação e o exemplo positivo dos pais mudam estes padrões. Isto não é uma fatalidade. Não por acaso, no mundo inteiro, onde a cada 10 minutos morre uma mulher às mãos do marido ou namorado ou do pai, os países da Europa, onde a educação para os valores humanistas tem sido uma aposta forte nas últimas décadas, é a zona do mundo onde, apesar de tudo, a percentagem de assassinatos de mulheres em contexto doméstico é menor.

É por isso uma pena que, havendo a disciplina de cidadania, não se abordem estes temas fundamentais a uma sociedade cada vez mais saudável.


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