June 22, 2024

Em que sítio do mundo um governo tem reféns que brutaliza nos intervalos de ser recebido com honras de Estado pela comunidade das nações?

 

Como elevar a interlocutores válidos os chefes da organização terrorista do Hamas? Dar-lhes legitimidade. Não é nenhum segredo bem guardado que a Palestina é governada por terroristas. Reconhecer o Estado 'desta' Palestina é legitimar assassinos e raptores. O governo do Hamas tem crianças como reféns. Em que sítio normal do mundo um chefe de Estado tem reféns que brutaliza nos intervalos de ser recebido com honras de Estado pela comunidade das nações? 
Portanto, a questão é: Porque é que o PS tem pressa em elevar a interlocutores válidos os chefes da organização terrorista do Hamas? São ordens de Guterres? 

Para quem quiser tiver interesse em ver a situação pelos olhos de Herta Müller, uma laureada com o prémio Nobel, alemã de origem romena, resistente do regime comunista de Ceauşescu, deixo aqui um link que me enviaram para uma "Carta Aberta ao Ocidente de Herta Müller" e uns excertos:



Eles transformaram-se em monstros

Na maioria dos relatos da guerra em Gaza, a guerra nom começa onde começou. A guerra nom começou em Gaza. A guerra começou em 7 de outubro, exatamente 50 anos depois que o Egito e a Síria invadiram Israel. Os terroristas palestinianos do HAMAS cometeram um massacre inimaginável em Israel. Eles filmaram-se como heróis e celebraram o seu banho de sangue. As celebrações da sua vitória continuaram em Gaza, onde os terroristas arrastaram reféns gravemente espancados e os apresentaram como espólios de guerra à exultante populaçom palestiniana. Esta alegria macabra estendeu-se a Berlim. No distrito de Neukölln houve danças de rua e a organizaçom palestiniana Samidoun distribuiu doces. A Internet fervilhava de comentários felizes.

Mais de 1.200 pessoas morreram no massacre. Após torturas, mutilações e violações, 239 pessoas foram raptadas. Este massacre do HAMAS é um descarrilamento total da civilizaçom. Há um horror arcaico nesta sede de sangue que nom pensei mais ser possível nestes tempos. Este massacre tem o padrom de aniquilaçom através de pogroms, um padrom que é conhecido polos Judeus há séculos. É por isso que todo o país ficou traumatizado, porque a fundaçom do Estado de Israel pretendia proteger contra estes pogroms.

A obsessom dos mulás e do HAMAS pola guerra é tão generalizada que -quando se trata do extermínio dos Judeus- transcende até mesmo a divisom religiosa entre xiitas e sunitas.

A populaçom nom tem quase nada além do martírio. Militares mais religiom como vigilância total. Em Gaza nom há literalmente lugar para opiniões divergentes na política palestiniana. O HAMAS expulsou todas as outras correntes políticas da Faixa de Gaza com umha brutalidade incrível. Após a retirada de Israel da Faixa de Gaza em 2005, membros da Fatah foram atirados dum edifício de quinze andares como medida de dissuasom.

Em vez dumha rede social para a populaçom, o HAMAS construiu umha rede de túneis sob os pés dos palestinianos. Mesmo em hospitais, escolas e creches financiados pola comunidade internacional. Gaza é um quartel militar único, um estado profundo de antissemitismo subterrâneo.

No Irão há um ditado: Israel precisa das suas armas para proteger o seu povo. E o HAMAS precisa que o seu povo proteja as suas armas.

"Ganz normale Männer"

Desde 7 de outubro, penso continuamente num livro sobre a era nazista, o livro "Ganz normale Männer", de Christopher R. Browning. Descreve a aniquilaçom de aldeias judaicas na Polónia polo 110º Batalhom da Polícia de Reserva, quando as grandes câmaras de gás e crematórios de Auschwitz ainda nom existiam. Foi como a sede de sangue dos terroristas do HAMAS no festival de música e nos kibutzim. Num único dia de julho de 1942, os 1.500 habitantes Judeus da cidade de Józefów foram massacrados. Crianças e bebés foram baleados na rua em frente às suas casas, idosos e doentes nas suas camas. Todos os outros foram levados para a floresta, onde tiveram que se despir e rastejar no chão. Eles foram ridicularizados e torturados, depois baleados e deixados na floresta sangrenta. O assassinato tornou-se maligno.

O livro é intitulado "Ganz normale Männer" (Homens bastante normais) porque este batalhom policial de reserva nom era composto por homens da SS ou soldados da Wehrmacht, mas por civis que nom eram mais considerados aptos para o serviço militar por serem muito velhos.

E há outra cousa que me vem à mente e que me lembra os nazistas: o triângulo vermelho na bandeira palestiniana. Nos campos de concentraçom era o símbolo dos prisioneiros comunistas. E hoje? Hoje pode ser visto novamente em vídeos do HAMAS e nas fachadas de edifícios em Berlim. Nos vídeos é usado como um chamado para matar. Nas fachadas marca objetivos que devem ser atacados. Um grande triângulo vermelho paira sobre a entrada do clube de techno "About Blank". Durante anos, refugiados sírios e gays israelitas dançaram aqui normalmente. Mas agora nada é mais normal. Agora o triângulo vermelho grita na entrada.

Também me pergunto se os estudantes de muitas universidades americanas sabem o que estão a fazer quando gritam nas manifestações: "Nós somos o HAMAS" ou mesmo "Querido Hamas, bombardeie Telavive!" ou "Vamos voltar a 1948."

Estou horrorizada que os mesmos manifestantes demonstrem hoje solidariedade para com o HAMAS. Parece-me que já nom compreendem a contradiçom abismal do conteúdo. E pergunto-me porque é que eles nom se importam com o facto de o HAMAS nom permitir a menor manifestaçom polos direitos das mulheres. E que no dia 7 de outubro as mulheres violadas foram expostas como espólios de guerra.

No campus da Universidade de Washington, os manifestantes jogam o jogo coletivo "Tribunal Popular" para se divertir. Os representantes das universidades são julgados por diversom. Entom chegam os vereditos e todos gritam em coro: “Para a forca” ou “para a guilhotina”. Há aplausos e risadas, e eles chamam o seu acampamento de “Lugar dos Mártires”. Na forma de acontecimentos, celebram a sua própria estupidez coletiva com a consciência tranquila. É de se perguntar o que é ensinado nas universidades hoje.

Lars Henrik Gass afirma, com razom, que estamos atualmente a viver umha regressom no debate político. Em vez do pensamento 
político, prevalece umha compreensom esotérica da política. Por trás disso está o desejo de consistência e a pressom para se conformar. Também no cenário artístico tornou-se impossível diferenciar entre defender o direito de existência de Israel e, ao mesmo tempo, criticar o seu governo.

É por isso que nem sequer se considera se a indignaçom global face às numerosas mortes e sofrimento em Gaza nom faz parte da estratégia do HAMAS. Ele está surdo e cego ao sofrimento do seu povo. Porque outro motivo ele atiraria na fronteira de Kerem Shalom, onde chega a maior parte dos suprimentos de ajuda? Ou porque dispararia contra os estaleiros de construçom dum porto temporário, onde a ajuda chegará em breve? Nom ouvimos umha única palavra de simpatia polo povo de Gaza por parte do Sr. Sinwar e do Sr. Haniye. E em vez dum desejo de paz, apenas exigências máximas que eles sabem que Israel nom pode cumprir. O HAMAS aposta numha guerra permanente com Israel. Seria a melhor garantia da sua continuidade. O HAMAS também espera isolar Israel internacionalmente, custe o que custar.

No romance "Doktor Faustus", de Thomas Mann, diz-se que o nacional-socialismo "tornou tudo o que era alemão insuportável para o mundo". Tenho a impressom de que a estratégia do HAMAS e dos seus apoiantes é tornar tudo o que é israelita e, portanto, tudo o que é judeu, insuportável para o mundo. O HAMAS quer manter o antissemitismo como um clima global permanente. É por isso que ele também quer reinterpretar a Shoah. Ele também quer questionar a perseguiçom nazista e a fugida de resgate para a Palestina. E, em última análise, o direito de Israel existir. Esta manipulaçom chega ao ponto de afirmar que a memória alemã do Holocausto serve apenas como umha arma cultural para legitimar o “projeto de colonizaçom” branco-ocidental de Israel. Estas inversões a-históricas e cínicas da relaçom autor-vítima pretendem impedir qualquer diferenciaçom entre a Shoah e o colonialismo. Com todas estas construções acumuladas, Israel já nom é visto como a única democracia no Próximo Oriente, mas como um Estado modelo colonialista. E como um eterno agressor, contra quem se justifica o ódio cego. E até o desejo de sua destruiçom.

A autora leu este texto no Fórum de 7 de outubro sobre “Cultura Judaica na Suécia”, realizado em Estocolmo em 25 de maio.

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