June 22, 2024

Uma série documental sobre a construção da máscara e o cair da máscara

 


Estou a ver esta série sobre os 12 anos que mediaram a subida de Hitler ao poder, em 1933 e a derrota da Alemanha, em 1945. Na verdade a série começa antes, nos anos de juventude de Hitler, na tentativa de derrubar a República de Weimar em 1923 e na sua prisão. 

A série é contada a partir dos documentos e memórias de William L. Shirer, um jornalista americano que esteve destacado na Alemanha em 1932 e anos seguintes e depois na Áustria aquando do Anschluss (foi ele quem escreveu, The Rise and Fall of the Third Reich) e vai intervalando com pedaços do julgamento de Nuremberga, imagens da época e comentários de especialistas na época.

Shirer era um homem inteligente que assistiu ao processo da Alemanha se tornar no 3º Reich e compreendia muito bem o que estava a fazer-se e como, embora nem ele tivesse suspeitado do pior que lá se fez. Ele mantinha um diário onde anotava as pequenas transformações do quotidiano e os grandes acontecimentos que marcaram a ascensão da Alemanha nazi, a que assistiu em Nuremberga, em Munique, na Áustria. Tem um grande insigt sobre as pessoas e os processos políticos e psicológicos.

A série tem seis episódios e, apesar de não dizer nada que não saibamos, diz de uma maneira que faz pensar e, sobretudo, criar paralelismo com a actualidade, no que respeita à degradação da vida social e política, ao extremismos e populismos e às reacções das pessoas comuns.

Hitler aparece como um homem que andava perdido, por assim dizer e encontrou o seu caminho, por acaso, na 1ª Grande Guerra. É apresentado como um indivíduo wagneriano: alguém que vive com a cabaça nos grandes mitos -do passado e do futuro-, que se vê como um herói wagneriano. Um tipo astuto, calculista e brutal, de ambição desmedida. Alguém que não se preocupa com os pormenores das políticas que delega em outros. Ele só traça as grandes linhas narrativas e atrai os outros que se esmeram para as concretizar. A série pinta-o como o 'motor imóvel', digamos assim.

A série tem imagens que nunca tinha visto e está muito bom cosida, quer dizer, a concatenação dos passos que levaram à degradação de uma nação cristã e de cultura sofisticada até à barbárie. Há coisas que não explicam, porque são inexplicáveis, mas mostram-nas. Como é que um indivíduo formou uma aura de mitologia à volta da sua pessoa, tão eficazmente e depois perde tudo? A certa altura cai a máscara. Como acontece agora com Putin.


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