April 16, 2024

O primeiro-ministro [português] não acha que o corpo das mulheres lhes pertença

 


Em França, Emmanuel Macron fez com que aquele país se tornasse o primeiro do mundo a inscrever o direito ao aborto na Constituição, por entender que o “corpo das mulheres lhes pertence e ninguém tem direito a dispor dele em vez delas”, e porque assim garante que aquele direito não pode ser posto em causa pelo primeiro reaccionário misógino que se lembre disso.

Em sintonia com o caso francês e ciente das crescentes restrições, o Parlamento Europeu aprovou a inclusão de todos os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, com o direito ao aborto incluído, na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Falta que o Conselho Europeu aprove a recomendação dos eurodeputados. Mas nem todos os governos reconhecem esses direitos, e o português é um deles.

O primeiro-ministro está contra esse reconhecimento porque, ao contrário do Presidente francês, não acha que o corpo das mulheres lhes pertença.

Há uma agenda de direita misógina e retrógrada, alimentada pelo fundamentalismo católico, que se sente incentivada a sair das catacumbas e que reúne parte do PSD, CDS e Chega. É essa direita que defende a pertinência de criar o estatuto legal e fiscal para a “mulher dona de casa”, porque as mulheres são “mais propensas” a estar em casa, porque efectuam “actividades insubstituíveis” e porque, além disso, a “maternidade é reservada às mulheres”.

Até a diocese de Leiria-Fátima se associa à falsidade da conversão sexual de homossexuais, que foi criminalizada com os votos contra do PSD e Chega, como fez neste fim-de-semana, num congresso com o tema "Homens e Mulheres de Verdade", com base na crença de que a homossexualidade é uma perturbação psicológica.

Amílcar Correia in publico.pt

6 comments:

  1. Gosta do meu blog mas tem pena que eu não seja fofinha...
    Não vou pôr-me aqui a discutir o aborto. Já escrevi dois ou três posts a falar demoradamente sobre o assunto.

    "Não acho que o corpo da mulheres lhes pertença, como não acho que o corpo dos homens lhes pertença." - Portanto, acharia normal que houvesse uma legislação a impor aos homens uma vesectomia até que tivessem o assentimento, por escrito, das mulheres, antes de as engravidarem.

    Ter um filho faz parte de um projecto de vida, assim como ter uma carreira e escolher não ter filhos. Querer legislar que as mulheres naturalmente, têm um lugar próprio e são propícias a um estatuto de dona de casa, com a consequente dependência dos homens, é arrogar-se o direito de dizer às mulheres que têm uma função determinada e é isso que deve ser o seu projecto de vida.

    Mas lá está, a maioria dos homens de uma certa idade, não vêem as mulheres como seres humanos: ou são mães e a sua função é procriar e cuidar e ser fofinhas ou são objectos de conforto emocional e sexual, ou são assalariadas sempre um estação abaixo dos homens. Se as vissem como seres humanos respeitavam as suas opções e a sua autonomia.

    E não, um homem não tem uma palavra a dizer sobre o nasciturno, a não ser que a mulher tenha combinado com o homem ter aquele filho e partilhar com ele essa responsabilidade. Mesmo assim, cabe à mulher e a mais ninguém, decidir dos actos médicos a que está disposta a sujeitar-se: é o seu corpo, a sua saúde e a sua vida.

    Uma rapariga ou uma mulher não pode ser refém do seu aparelho reprodutivo ou de uma célula ou de um aglomerado de células. Isso é irracional.

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  2. A sua resposta desapontou-me, e peço-lhe desculpa pela franqueza. Não espero que seja fofinha, não sei o que isso é no contexto deste tema. Não faça de mim "fofinho" só porque tenho uma determinada linha de pensamento.
    Tenho 66 anos, não sei se isso faz de mim uma "pessoa com uma certa idade". E como não me conhece, e não sabe o que é o meu pensamento sobre a mulher (fui casado com uma pessoa que teve uma carreira profissional em determinados momentos, como entendeu estar em casa a tomar conta dos filhos noutros momentos) vou presumir que não se refere ao que eu possa pensar acerca do tema nem insinuará que eu sou desse tipo de homens. Talvez conheça outros tipos de homens, ou tome (injustamente) a nuvem por Juno.
    O que nos divide é isso - há quem acredite que é um ser, há quem acredite que é um aglomerado de células.
    Não se sinta na obrigação de publicar este comentário. O espaço é seu, e não quer ser (visivelmente) indelicado.

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  3. Não lhe parece que isso da vasectomia é um exagero sem sentido nenhum?

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    1. Não, comparativamente, não parece. É um pequeno procedimento que se faz em 15 minutos e se desfaz noutros 15, sem mais complicações. Comparativamente a obrigar uma mulher a levar uma gravidez até ao fim, ao parto e a todas as consequências físicas e psicológicas desse processo, o que é de uma violência tremenda, parece-me pouca coisa.

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  4. " Mesmo assim, cabe à mulher e a mais ninguém, decidir dos actos médicos a que está disposta a sujeitar-se: é o seu corpo, a sua saúde e a sua vida.(...)"
    Então, não se legisla porque a decisão é única e exclusivamente pessoal e não deve ser generalizada.

    João Moreira

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    1. O facto da decisão ser pessoal não significa que não se regulamente prazos limites para se poderem tomar as decisões.

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