February 13, 2024

Programas eleitorais para a educação - IL

 


O programa para a educação da IL é pobre e mau porque não resolve nenhum problema, daqueles graves que a escola tem e ainda lhe acrescenta alguns. A grande solução da IL é desviar dinheiro para escolas privadas. A maioria dos pontos são meras declarações vagas. Deixam de fora temas fundamentais da educação e da escola pública.


7. EDUCAÇÃO: MAIS ELEVADOR SOCIAL

  • Criar um cheque-creche para que cada família possa escolher a creche que mais lhe convém, seja ela no setor privado ou social

  • Aumentar oferta de vagas de creches através da via verde do licenciamento de creches

  • Implementar um plano de emergência de recuperação de aprendizagens através de tutorias regulares

  • Recuperar as avaliações nacionais no final dos ciclos do ensino básico

  • Dar liberdade de escolha das escolas, mudando o financiamento da escola para o financiamento por aluno, o que permitirá às famílias matricularem os seus filhos nas escolas que quiserem, sejam públicas, privadas ou sociais, sabendo que são igualmente comparticipadas pelo Estado

  • Contratar e remunerar professores aposentados para mitigar a escassez de professores

  • Aumentar a autonomia administrativa, financeira e pedagógica das escolas públicas, incluindo maior gestão de recursos humanos

  • Reformar a contratação e avaliação de professores, transferindo responsabilidades para a escola / agrupamento escolar

  • Reestruturar a carreira docente

  • Promover o ensino profissional e caminhar para um ensino dual, permitindo a mais alunos ter formação teórica nas escolas e prática nas empresas

  • Dar maior autonomia às universidades e politécnicos, incluindo na admissão e selecção de alunos e na variedade da oferta educativa

  • Reforçar a Literacia Financeira em contexto escolar

  • Defender cultura de dados na educação


    Coisas sem mérito que acrescentam problemas:

    (...) tutorias regulares e em pequenos grupos durante o calendário escolar e durante parte da pausa de verão, uma vez que Portugal é um dos países europeus com uma pausa de verão mais longa . O plano será focado em áreas fundamentais, como português e matemática...  As tutorias serão ministradas por professores com disponibilidade de horário e por tutores recrutados através de parcerias com Instituições de Ensino Superior, por licenciados a frequentar graus de habilitação para a docência, ou outros profissionais devidamente validados e credenciados para a atividade.


As tutorias têm mérito, mas não nas férias de Verão dos alunos - nós temos uma pausa de Verão longa porque temos muito Verão, os outros têm mais pausas de Inverno, porque têm muito Inverno e, ao todo, muitos têm mais dias de pausa que nós. Em segundo lugar, se calhar pensam que as escolas estão fechadas durante o tempo em que os alunos estão de férias, mas não estão: há exames, há recursos, há matrículas para fazer, há turmas para fazer, horários do ano seguinte, etc. A escola não abre no dia 1 de Setembro por magia, mas porque o trabalho foi feito. As tutorias serem apenas para Português e Matemática, mostra o que pensam da importância da educação: saber ler, escrever e fazer continhas. Quanto às tutorias serem feitas com alunos do ensino superior para suprir a falta de professores, parece-me uma maneira, barata, de não ter de resolver o problema da falta de professores. Em breve teríamos alunos de licenciaturas a ficar na escola como professores permanentes. Para quem que acabar com o facilitismo...

A seguir:

Propomos um programa de tutorias que aposte na identificação precoce dos alunos com dificuldades de aprendizagem, realizada por uma equipa multidisciplinar . Se o aluno não tiver Necessidades Educativas Especiais, deve ser encaminhado para tutorias entre pares supervisionados, de suporte humanista e escolar . Os programas de tutorias funcionarão entre pares, alunos mais velhos que se voluntariem para o acompanhamento de colegas mais novos, supervisionados portécnicos especializados da equipe multidisciplinar da escola, docentes coordenadores das aprendizagens e, eventualmente através de parcerias com Instituições de Ensino Superior ou outros profissionais devidamente validados e credenciados para a atividade . As tutorias devem prever o envolvimento precoce das famílias, com apoio ao nível da estruturação de um ambiente saudável e de atitudes promotoras do sucesso escolar .
Isto é burocracia levada à loucura. Não têm noção e pensam que a escola pública tem os meios económicos e humanos para ter professores com isenção de horário lectivo para formarem tanta equipa e tanta tutoria e gastarem tantas horas nisso. a que crédito horário escolar se vai buscar essas horas? Ou são os professores que fazem esse trabalho para além do que já têm? Claro que acabam por dizer que não havendo nas escolas professores, que se vá buscar alunos de licenciaturas para fazer de professores. Só o trabalho do envolvimento dos pais da escola pública nas escolas requer uma equipa a tempo inteiro. Não têm nenhum noção do que estão a propor.

Desviar meios e alunos para os privados:
Além disso, a política de contratos de associação deve ser retomada, permitindo que os privados possam prestar serviço público de educação nos casos em que a qualidade seja igual ou maior e o custo seja menor .
Nestas medias a IL parece-me o reverso do PCP. São o simetricamente oposto e igualmente radical.

Colocação de professores:
Propomos reformar a colocação de professores permitindo que as escolas tenham um papel na escolha dos recursos humanos que melhor se ajustam ao projeto educativo que desenvolvem no âmbito da sua autonomia, bem como na sua avaliação.
Passarem a ser as escolas a escolher os professores, vai fazer das escolas (como já fez em muitos casos) uma extensão dos vícios das contratações na administração pública: primos, irmãos, amigos e deitar fora os críticos. 

Sobre a avaliação de professores:
Dessa forma deve ser promovido um modelo: 1) que garanta um sistema de avaliação baseado no desempenho e na eficácia do professor e não apenas na antiguidade, podendo incluir avaliações de desempenho regulares, feedback dos alunos e resultados escolares dos alunos adaptados ao contexto e realidade do território educativo;

O feedback dos alunos (que já actualmente pedimos nas escolas mas com carácter informativo e formativo, que é o correcto) é uma estratégia que já foi experimentada em muitos universidades americanas e abandonada porque dá origem à desvirtuação do processo de ensino e aprendizagem (professores que trabalham para serem porreiraços e populares e terem depois boas avaliações dos alunos de maneira a poderem progredir na carreira). Ora, as escolas nem sequer têm alunos maiores de idade, têm adolescentes. Isto é uma ideia sem mérito. 

Quanto aos resultados dos alunos falarem da eficácia do professor, é naif. Nas escolas, os professores mais antigos escolhem as turmas, portanto, há um ou dois professores que ficam sempre com as turmas de melhores alunos (aqueles que vêm do ciclo anterior com as melhores notas) e nós vamos ficando com as outras. 

Portanto, para aferir da eficácia do professor, para além do contexto da escola, seria preciso levar em conta a classificação que os alunos de cada professor trazem do ciclo anterior. Se for o caso de um professor pegar numa turma a meio do ciclo ou só no ano de exame (há professores que abandonam as turmas no ano de exame et pour cause) seria preciso ainda levar em conta o que foi feito pelo professor anterior: qual é o seu nível médio de eficácia, digamos assim, para se perceber o estado em que a deixou, que pode ser excelente ou desgraçado; o seu poder dentro do grupo de professores (há escolas em que o coordenador da disciplina interfere nas aulas dos colegas, sobretudo se são mais novos e sem experiência, em todos os aspectos e muitas vezes estraga-lhes as aulas); o número de turmas, porque há professores que têm sempre uma ou duas turmas e outros trabalham sobrecarregados com sete turmas ou mais e isso importa na qualidade do trabalho. Etc. Há outros factores. 

O que mais me chama a atenção nestas ideias peregrinas é perceber-se que os políticos em geral -e em particular- estão completamente por fora dos problemas (e vícios) das escolas que foram sendo alimentados pelos ministros respectivos, para as controlarem politicamente.

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