July 19, 2023

Até onde vão os governantes para se safarem da sua incompetência em resolver problemas

 

Este é o mesmo argumento de se terem enfermeiros a fazer de médicos por falta de médicos: já se faz. Neste caso é: já se faz noutro países da OCDE - como se isso, miraculosamente, fosse um indicador de qualidade.

Quanto às escolas, "como outra qualquer organização", terem a ganhar em ter profissionais de outras áreas, leia-se, sem especialização na área, só temos a dizer duas coisas: 

1ª, as organizações especializadas não põem não especializados a fazer de especializados (licenciados em biologia a substituir médicos ou veterinários a fazer cirurgias a humanos, contabilistas a fazer algoritmos para funcionamento de foguetões, etc.); 

2ª, a escola não é "como outra qualquer organização" porque ao contrário de uma universidade ou de uma empresa, lida com crianças e adolescentes que têm um modo próprio e diferente de funcionamento de um adulto. Ensinar adultos ou trabalhar com adultos não nada que ver com ensinar e trabalhar com crianças e adolescentes - e estamos a falar, não de relações individuais (um adulto-uma criança/adolescente) como são as parentais, por exemplo, mas sim de ensinar grupos de indivíduos muito diferentes entre si (em termos de desenvolvimento cognitivo, condições psicológicas, dinâmica familiar, contexto social, etc.) a serem capazes de aprender os mesmos conceitos, as mesmas técnicas, as mesmas problemáticas, a serem capazes de desenvolver as suas qualidades (criatividade, sentido crítico, capacidade de resposta, de trabalho continuado, de foco de atenção, de resistência à frustração, perseverança, sentido de responsabilidade, auto-correcção de comportamentos desviantes), de desenvolver simultaneamente todas estas qualidades e serem capazes de produzir resultados fiáveis e positivos em avaliações parciais, globais, nacionais.
Quem é que acredita que qualquer um sem nenhuma especialização pode fazê-lo competentemente e que isso até é bom para os alunos...?

Quanto mais exigem às escolas em termos de cuidado com os alunos, especialização para detectar problemas de toda a ordem (cognitivos, psicológicos, relacionais, didácticos, etc.) e saber resolvê-los, mais se desleixam no cuidado com a profissão de professor por não saberem resolver os problemas e fazerem tudo o que os agrava. Depois passam certificados de sucesso que não correspondem a aprendizagens minimamente decentes em exames-farsa e vêm dizer que até é bom ser um tipo qualquer a fazer de professor. 

Isto mostra bem o desinteresse dos governantes pela educação dos seus futuros concidadãos, pelos professores e pelo futuro do próprio  país.

O ME não desiste de cada escola escolher os seus professores para controlo total dos professores.

A incompetência deste ME já ultrapassou todos os limites e desculpar-se com o facto de haver outros na OCDE tão incompetentes como ele só serve para sabermos que as coisas ainda vão piorar muito.

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Há cada vez mais países na OCDE a recorrer a professores sem habilitações específicas para a docência
O Ministério da Educação (ME) decidiu alargar, neste ano lectivo, o leque de candidatos que podem concorrer para dar aulas sem terem aquela qualificação. O investigador do ISCTE-IUL, Pedro Abrantes, que é também professor da Universidade Aberta, frisa que a diversificação dos critérios de habilitação “não significa reduzir a exigência no acesso, nem sequer o nível de formação necessário, como se tem sugerido. Pelo contrário, significa reconhecer que as escolas têm muito a ganhar, como qualquer outra organização, em ter profissionais com origens, perfis e competências variados, desde que exista um período de indução, incluindo supervisão e formação, para que as pessoas possam continuar a aprender e desenvolver-se na nova profissão que desempenham

Segundo a OCDE, só oito dos 20 países que abriram portas a esta rota “alternativa” permitem que os “potenciais professores” comecem a dar aulas sem terem feito antes uma formação específica. E isso geralmente acontece devido à falta de professores em algumas áreas.


“maior autonomia para escolher os professores cujos perfis respondam melhor às suas necessidades”.

Esta é uma das propostas que o ME apresentou aos sindicatos de professores no âmbito das negociações sobre a alteração do modelo de recrutamento de professores, que recomeçarão no final deste mês. Os sindicatos estão contra.

Público

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