June 25, 2023

Filmes - Master Gardener

 


Paul Schrader parece estar sempre a fazer o mesmo filme. Um tipo com um passado de violência torna-se um solitário, consumido pela culpa a buscar a redenção numa dedicação intensa a uma ocupação qualquer da vida - neste filme, na jardinagem. Nesse aspecto, gostei mais de First Reformed do que deste. Do, The Card Counter, não gostei mesmo. Talvez tenha visto num dia 'não', sei lá. 

Este filme começa muito interessante, com uma metáfora banal, mas apresentada de forma diferente. Narvel Roth (representado por Joel Edgerton) é o jardineiro-chefe de um jardim extraordinário incluído numa propriedade do tipo Geórgia, Luisiana, com aquelas enormes casas brancas coloniais. Sabemos depois que Narvel Rot não é o nome dele mas que o adoptou depois de entrar num programa de protecção de testemunhas. Um dia em que tira a camisola -anda sempre tapado- vemos que tem o torso cheio de tatuagens nazis. Portanto, ele é um ex-skinned arrependido que tenta mudar a sua vida através da jardinagem e de uma disciplina de vida muito calculada e contida.

Apresentam-nos logo a metáfora no início do filme: jardinar é um acto optimista de confiança no futuro, pois lançamos as sementes e cuidamos da planta com muita paciência e esperamos que ela cresça como calculámos. Vamos limpando o campo de ervas daninhas e fazendo ajustes no crescimento para orientar o crescimento até ao florescimento. Na jardinagem, o passado da flor não interessa, trabalhamos sempre para o futuro. O jardineiro-chefe diz-nos que sabemos hoje que as sementes não duram apenas 150 anos, como se pensava, mas 1200 anos, pelo menos. Está a falar da educação, claro, de como as sementes de violência se perpetuam de geração para geração e de como é possível, com a educação, re-orientar o crescimento da pessoa e das sociedades tal como se faz com as flores. 
Em suma: os grupo de ódio, sejam racistas ou de outro género de violência, foram 'jardinados' para serem assim e o que acontece é que a maioria não tem nenhum jardineiro positivo com paciência e amor para cuidar duma pessoa dessas num ambiente que a permita modificar-se e sair desse template.

Enfim, a dona da propriedade, representada pela Sigourney Weaver e de quem ficamos sem saber quase nada (o pai tinha uma Luger...), com quem ele tem uma relação complexa (ela acolheu-o sabendo quem ele era e deixou-o crescer) pede-lhe que treine uma sobrinha-neta que anda metida em complicações por más escolhas de vida. O filme até aqui é interessante e deixa-nos na expectativa. Enfim, chega a sobrinha-neta e de repente o filme é: ele apaixona-se por ela (ele está nos 50 anos, ela tem 20...), vai defendê-la dos maus, redime-se pelo amor e depois vive com ela feliz para sempre... well...


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