E quantas mulheres, por receio de irem contra a maioria e ainda serem mais silenciadas são campeãs desta nova linguagem sexista onde os homens continuam a ser homens mas as mulheres já não existem ou são, 'não-homens', logo, definidas identitariamente pela sua relação aos homens?
Há pouco tempo um deputado socialista defendia que a AR ia legislar que os rapazes pudessem frequentar os balneários e casas-de-banho das raparigas nas escolas, para obrigar os professores (que são maioritariamente mulheres) a ver os nascidos sexualmente rapazes, agora trans, como mulheres - na sua cabeça misógina, é ele e outros como ele que dizem às mulheres como devem ver, como devem pensar e como devem agir. Os direitos das raparigas e a sua segurança, que se danem...
Esta “não-homem” pronuncia-se
É muito curioso — e indecoroso — como a emergência da supremacia das discussões dos temas “trans” terminou em perfeita sintonia com o maior conservadorismo sexista.
Há dias, calhei passar pelo glossário LGBTQ da universidade americana de Medicina Johns Hopkins, publicado ao abrigo das iniciativas de “diversidade e inclusão” — e, incrivelmente, o objetivo não era tornar piada as tais diversidade e inclusão. Entre os termos “glossados”, constava lá a definição de “lésbica”, que cito (e traduzo):
Escusado dizer que a definição de “gay” neste glossário não nos oferecia a mesma treta. Continua a estar na definição “Homem Gay: um homem que é emocionalmente, romanticamente, afetivamente ou relacionalmente atraído por outros homens ou que se identifica como membro da comunidade gay.” (Tradução minha.) Não há cá não-binários que se identificam como gays. E tiveram o cuidado de definir “homem gay”, mas não “mulher lésbica”.
Isto não é brincadeira. Nem a história do parágrafo acima, nem o glossário, nem a realidade que ilustram. As palavras contam e representam realidades concretas. As mulheres foram milenarmente oprimidas pela força física dos homens — o que também se concretizou em força política, força económica e força cultural. Fomos oprimidas ao longo dos milénios pela nossa capacidade reprodutiva e por sermos objetos para o prazer sexual dos homens. Estas realidades contam e definem muito do que ainda vivemos no mundo, mesmo o legalmente já igualitário. Não fomos oprimidas por usarmos maquilhagem e vestidos e cor-de-rosa. Fomos oprimidas pelo nosso sexo, não pelo género com que nos identificamos.
É muito curioso — e indecoroso — como a emergência da supremacia das discussões dos temas “trans” terminou em perfeita sintonia com o maior conservadorismo sexista. Por um lado, o reforço férreo dos estereótipos de género. Não é mulher quem assim foi socializado e tem a biologia feminina — o que vai muito além das diferenças no aparelho reprodutor e no tamanho — mas quem gosta de maquilhagem, saias, cozinhar, saltos altos e demais performatividade da feminilidade tradicional. O que define uma mulher é a quantidade de batom que usa, não a experiência de viver com anemia causada pela menstruação — e, já agora, de ver todos os problemas de saúde específicos de mulheres desconsiderados por médicos e medicina.
Uma mulher escreveu um livro? Uma sonata? Pintou umas paisagens ali pelo meio do século XIX? Vamos fingir que nada disto sucedeu, nem mencionamos, forçamos o esquecimento — assim é mais fácil garantir que o génio e o talento da humanidade sempre habitou nos homens e não nas mulheres. Há dias, a Visão fez uma capa de autores portugueses agora esquecidos. Só homens. Natália Correia, Florbela Espanca, Agustina Bessa-Luís — menciono as minhas preferidas — são imaginárias. Estão a ver como é fácil? Decreta-se que as mulheres não existem ou não existiram — e já está.
O statu quo patriarcal e machista apaga-nos, remete-nos para a mais estrita feminilidade e trata-nos como desvio da norma humana masculina. O statu quo “trans” veio terminar este trabalho. O (alegado) progressismo decreta que há homens e pessoas que não são homens. Não existem mulheres. Fim.
O glossário da Johns Hopkins foi retirado foi retirado devido à indignação. Mas permanece a misoginia descarada de se ter sequer concebido tal documento — em nome da inclusão.
No meio disto, a New York Magazine fez capa com mulher “trans” que é a CEO americana mais bem paga. A Glamour UK teve na capa um homem “trans” grávida. Em arrepiante reforço dos tradicionais destinos de cada sexo, um homem biológico é celebrado por ser rico e uma mulher biológica por engravidar — independentemente de como se identificam. Mas vamos fingir que é muito disruptivo.
Público
"E quantas mulheres, por receio de irem contra a maioria e ..."
ReplyDeleteNós, mulheres termos receio de ......e quem inventou esta?
Receio??
Sim, receio.
DeleteAs pessoas trans-homens existem, mas o facto de existirem e terem direito a voz e a espaço, não significa que possam tirar a voz e o espaço às mulheres. E é isso que está a acontecer.
ReplyDeleteO que acontece nas empresas é essas pessoas terem casas-de-banho para si.
De facto, os trans-homems, ou seja, os que nasceram do sexo feminino mas agora dizem identificar-se com um homem, não reivindicam poder ir a casas-de-banho e balneários masculinos. Foram mulheres por muitos anos e sabem bem como as coisas são em termos de assédio, abusos e violência masculinas.
São só os nascidos do sexo masculino (e que agora dizem identificar-se com mulheres) que insistem em invadir o espaço das mulheres e das raparigas e em obrigá-las a aceitarem as suas imposições- what else is new?
" what else is new?" Isto é em estrangeiro?
ReplyDeleteNatal é quando um homem quiser.
DeleteE se for uma mulher?
DeleteE se for?
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