O nosso ME só embarca em políticas e estratégias da moda, por mais perniciosas que sejam, tanto para alunos como para professores. Quem quiser saber o que é a Rede Social da Educação (RSE) veja o vídeo abaixo: é uma aplicação do género WhatsApp que permite os alunos estarem sempre em contacto com o professor e vice-versa. Fora das aulas o professor vê o que os alunos estão a fazer e a falar entre si e os alunos interpelam o professor 24h por dia. O apresentador desta 'nova tecnologia' explica que os alunos acham isto giro e bacano, que é um ensino mais afectivo e que pode até passar por o professor fazer vídeos no TikTok e partilhar aqui. A entrevistadora pergunta-lhe se isto de o professor andar constantemente ligado aos alunos não é negativo e ele responde que não, porque o professor apesar de ver as notificações, pode não responder... portanto, doravante o professor é um escravo sempre ao serviço. Como é que isso pode ser uma solução ao cansaço, ao stress e ao burnout?
Em 2020, a primeira vez que as escolas fecharam, nas férias da Páscoa, por causa da pandemia, criei, para as minhas turmas, um grupo no WhatsApp. Resolver o problema de nem todos terem modo de acompanhar as aulas, seja por não terem PC ou terem apenas um para toda a família, foi muito complicado e ter o grupo-turma no WhatsApp deu jeito porque todos tinham telemóvel, mesmo que com dados móveis limitados que não davam para assistir a aulas por vídeo. Agora, sabíamos todos, nessa altura, que ia ser um período desregrado no horário de trabalho e de grande pressão e exaustão.
O trabalho do DT de coordenar os professores da turma mais os alunos no trabalho semanal (alguns professores também não tinham PC e só usavam os da escola, que estava fechada...) foi uma loucura e uma pessoa estava online 24h por dia a resolver problemas, em cima do trabalho novo de transformar as aulas presenciais em digitais: era receber notificações dos alunos, dos pais, dos colegas, emails da direcção da escola, era fazer planos de aula digitais para enviar a alunos e pais e, basicamente, não conseguir desligar-se do trabalho de maneira nenhuma, sempre com as notificações do grupo dos alunos, dos pais que entravam no grupo pela conta dos filhos... isto apesar de eu ter dito aos alunos para não usarem esse meio para comunicar uns com os outros a não ser para questões de aulas. Também tínhamos um grupo só para os professores da turma que os professores usavam para falar uns com os outros sobre cenas disto e daquilo... Enfim, quando isso acabou e voltámos às aulas presenciais, no ano lectivo passado, removi imediatamente do WhatsApp todos esses grupos de alunos e de professores.
Deus me livre de estar sempre ligada às pessoas do trabalho... é uma escravatura, de maneira que alguém pensar que isso pode ser uma solução para o cansaço, o stress e o burnout é... nem sei que palavras usar para qualificar esta ideia completamente estapafúrdia, que aliás tem como mérito declarado, como se ouve no vídeo, não o ser pedagógica mas o ser gira, bacana e afectiva e os professores tomarem conta dos alunos 24h por dia.
A educação está no caminho do emocionalismo escravizante e os dirigentes são os maiores apoiantes da escravatura digital.
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