June 06, 2022

António Costa pede às empresas para fazerem o que ele mesmo não faz

 


Na minha profissão estamos quase em cima da década e meia sem aumentos -para além da carreira congelada durante 9 anos- o que corresponde aos governos PS com um hiato de três anos. Nos últimos tempos somos aumentados 0, qualquer coisa %. Este ano a mesma coisa, sendo que a inflação vai nos 7%, ou seja, todos os anos somos 'desaumentados'. Portanto, António Costa pede às empresas para fazerem um caminho num certo sentido enquanto ele vai no sentido oposto.

As empresas já começaram a subir os salários porque agora, depois de centenas de milhar de jovens terem fugido daqui, não encontram ninguém para trabalhar, mas o Estado não. Prefere baixar o nível dos trabalhadores -pelo menos na educação- e aceitar qualquer um, que subir os salários. E como se isso fosse pouco, faz campanhas e leis contra os seus próprios trabalhadores. 

Hoje vem um artigo preocupante no DN sobre o aumento de gangues de adolescentes entre os 12 e os 16 anos. Entre as recomendações de abordagem do problema, é-nos dito, por uma uma fonte que acompanha este processo, Mas medidas para terem efeito a médio / longo prazo, que não são securitárias apenas, como uma intervenção que vá eliminando os fatores de risco, é a grande questão para o Estado e para a sociedade em geral, caso não queiram ter uma geração perdida".

Por outra palavras, é necessário eliminar os factores de risco: pobreza crescente e a consequente destruturação das famílias; à medida que alarga o fosso entre ricos e pobres e que cresce a multidão de mal remediados, os tais cujo salário médio é quase igual ao mínimo, os jovens não vêem como possível ter uma vida decente, quanto mais boa, a partir do estudo, sabendo dos obstáculos que têm de ultrapassar devido às suas condições de partida. Mas que faz o ministro da educação? Políticas de transformar as escolas em oficinas de felicidade. Caridadezinha aos pobrezinhos infelizes em vez de 'recursos' para poderem vencer os obstáculos.

Aqui há uns poucos anos tive um aluno bastante bom, mas não o suficiente para ter aquelas médias de 18 e 19 a todas as disciplinas, necessárias para entrar para certos cursos. A família muito grande, com muitos irmãos e com bastantes dificuldades económicas. Para dar uma ideia da situação, tinham um computador para a família toda. Era ambicioso  e trabalhador, mas sendo uma pessoa inteligente sabia que isso não chegava. Dizia muitas vezes, com desânimo, que para ter a vida que gostava de ter teria que roubar porque mesmo que conseguisse aquelas médias enormes, o que era muito difícil com as condições familiares, depois não teria condições para estudar numa universidade em certos cursos que custam muito dinheiro. Uma pessoa contrariava os argumentos dele, claro e mostrava opções, mas os alunos sabem da realidade porque vivem com a pobreza e todas as exclusões que ela gera, todos os dias. Ora, quem é que está para estudar, para ganhar depois ganhar o salário mínimo de onde querem escapar?

Portanto, António Costa diz às empresas para fazerem o que ele não faz. Depois o ministro dele culpa os professores porque evidentemente nós temos culpa de os alunos terem famílias em estado caótico devido às dificuldades cada vez maiores. E porquê esta situação? Porque o dinheiro dos últimos 20 anos foi, sobretudo, para clientelismo, incompetência e corrupção.


António Costa pede às empresas “esforço” colectivo para aumento de 20% nos salários médios


Primeiro-ministro quer um aumento de “20% no salário médio do nosso país” nos próximos quatro anos. “Nós temos que ter um acordo de médio prazo, no horizonte desta legislatura, sobre a perspectiva da evolução dos rendimentos.”

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