April 05, 2022

O problema das prioridades

 


Estive a ver uma entrevista da BBC International a três líderes políticos indianos sobre a posição da Índia relativamente à guerra da Rússia na Ucrânia. A entrevista foi conduzida por uma jornalista indiana. Ela pergunta porque é que a Índia não condena a agressão da Rússia e apoia as sanções. 

Um dos dirigentes diz que a guerra é da Euroásia e não tem nada que ver com a Índia. A jornalista pergunta se o ataque a um país democrático e pacífico não tem a ver com todos. Um dos dirigentes diz claramente que o argumento moral não faz parte das relações internacionais e da realpolitik e que a Índia tem é que pensar no seu interesse, nas parcerias de negócios, nos descontos do petróleo, etc.

Então a Índia faria negócios com Putin? Com certeza, dizem.

Outro ainda fala na posição delicada da Índia, nos laços com a China e a Rússia, mas acrescenta que a Ucrânia tem que entender-se com a Rússia diplomaticamente porque é assim que as coisas se fazem.

A conversa é toda assim: os interesses da Índia, as parcerias estratégicas, etc.

E isto é o que está mal no mundo: a ideia de que a moralidade é um discursos de idiotas que não percebem a realpolitik. É por saberem disto que os Putin's, os Bush's e outros invadem países, agridem, ameaçam. É porque sabem que os dirigentes dos outros países também são uns merdosos que põem os seus interesses económicos/de poder, acima de tudo.


Entretanto, ontem, quando perguntaram a Lakrov o que pensa da reputação da Rússia no mundo ele responde, embora de maneira educada, 'Estamos a c#%&# para o que o mundo pensa de nós, só nos importamos com a opinião dos russos'. Antes diz que os americanos também invadiram o Iraque, o que é verdade, mas esse paralelismo é uma admissão de estarem a invadir a Ucrânia com mentiras e propaganda pois foi o que Bush então fez.   

O que está mal no mundo é a [má] qualidade ética de muitos dos seus dirigentes.


9 comments:

  1. "A conversa é toda assim: os interesses da Índia, as parcerias estratégicas, etc."
    Só agora se apercebeu disso? É assim há séculos.
    "O que está mal no mundo é a [má] qualidade ética de muitos dos seus dirigentes." Por aí não vamos lá. Porque será que os eleitos, mesmo nas DemocracIas, têm falta de qualidade ética? A pregar moral não vamos lá.

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  2. Não, não é assim há séculos. O estado das relações internacionais tem mudado, mas não é por causa dos cínicos resignados ao, 'é assim Há séculos'. Tem mudado à conta dos que não se resignam e fazem alguma coisa para mudar o estado de coisas. A NATO, a ONU e outros organismos internacionais vocacionados para a paz são uma prova de que dirigentes que se preocupam com questões ética e não apenas de interesses conseguem fazer mudanças positivas, de maneira que isto não é pregar moral. Que esses organismos precisem de aperfeiçoamento é verdade, mas o facto de existirem e funcionarem diz muito dos que não se resignam às 'tinas' A própria UE como um espaço de paz é um exemplo.
    Os eleitos têm falta de qualidade ética? Depende muito dos seus líderes, do exemplo que dão enquanto pessoas, como se vê pelo exemplo da Ucrânia.

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  3. "Não, não é assim há séculos" Tem razão, começou há poucos anos.
    A NATO vocacionada para a paz?
    Pois, a culpa é sempre dos outros. Nós queremos a paz mas os outros....estragam tudo.

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  4. Não são poucos anos e depois, o que interessa é continuar neste caminho e não regredir independentemente da data do começo.

    Sim, a NATO é uma aliança defensiva e não agressiva, como aliás se está a ver nesta guerra. A NATO tem mantido o continente europeu em paz (excepção da guerra na Bósnia, um país não-membro) desde a 2ª grande guerra.

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  5. "excepção da guerra na Bósnia," Ou seja a NATO é uma aliança defensiva excepto quando promover e guerra. Concordo.

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  6. Não seja ignorante... a guerra da Bósnia não teve a ver com a NATO mas com o colapso da Jusgoslávia, que por sua vez tem que ver com o o colapso do imperialismo soviético e as confusões que armou nos países do leste da Europa.

    A excepção de que falo é de ter sido uma guerra na Europa.

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  7. “ Não seja ignorante...”
    Agora já sou menos ignorante. É o que sempre acontece quando leio os seus comentários. É uma das razões que me leva a frequentar obrei blogue. Vale a pena.

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