February 11, 2022

Uma imagem positiva, mas incompleta

 


É evidente que as escolas têm de ser lugares de acolhimento e não de exclusão ou discriminação, mas também é verdade que as crianças e jovens com característica de desenvolvimento diferentes necessitam de recursos diferentes. Não vamos pôr um aluno com surdez profunda na escola sem acompanhamento especializado, no meio de uma turma com um professor que não tem, nem conhecimentos de linguagem gestual, nem possibilidade de lhe dar atenção diferenciada. Ora, não sei se é o caso desta garota, mas sei que aqui no rectângulo é isso mesmo que se faz: atiram os miúdos para a escola sem nenhum tipo de apoio especializado a não ser, quando o há, o das professoras do apoio educativo, que não é especializado, é um apoio ao estudo. 

Este ano há lá na escola um aluno autista. Dou uma aula relativamente perto da turma dele. Logo no início do ano, estávamos na aula muito bem quando de repente ouço uma gritaria, barulho que parecia de cadeiras  a serem atiradas e coisas a cair no chão. Pensei que alguém estava a bater violentamente num professor ou em outro aluno, de maneira que vim à porta da sala para ver o que se passava e se alguém precisava de ajuda. Uma funcionária que ali estava disse-me o que era e que já lá estavam vários professores. Depois, de vez em quando falo com duas colegas que lhe dão aulas. Elas dizem-me que não se consegue trabalhar porque o miúdo precisa de atenção constante. Basta que, por exemplo, se tenha enganado e tenha trazido um caderno azul quando queria o encarnado e desata a bater nele mesmo, nos colegas, aos gritos, a tirar objectos aos outros. Todas as aulas é isto, várias vezes. Como não há funcionários suficientes nas escolas, nem sequer essa ajuda existe. É muito bonito o SE e o ministro falarem em inclusão, mas depois atiram os miúdos para turmas de 30 alunos (dantes estes alunos estavam em turmas reduzidas mas agora a tutela está-se nas tintas e proíbe) e dizem aos professores, 'sejam inclusivos'. Dá vontade de os mandar àquela parte. Isto prejudica toda a gente: os próprios miúdos, porque não têm ninguém especializado que esteja com eles e oriente de modo correcto o seu comportamento e atenção, os outros alunos, porque as aulas são constantemente interrompidas e fica tudo em alvoroço, e os professores, que saem de lá com a cabeça em água. Os pais queixam-se, mas a escola nada pode fazer. Desde que a educação pública virou uma espécie de caixote de desperdícios na cabeça dos governantes que as coisa decaem cada vez mais. Mas como os números mente bem, está tudo bem.

Portanto, sim, os miúdos devem estar em comunidade e ser aceites, mas não, não podem atirá-los para as escolas sem atenção profissional especializada, adequada a cada caso e esperar algum milagre.




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