Uma conversa sobre o sentido da música e sobre Beethoven também - já há quem queira proibir Beethoven por ser um homem branco e ter feito música num tempo de colonialismo... há por aí mais gente burra que cogumelos depois das chuvas...
O sentido da música é diferente consoante se é um amante ignorante da música ou um conhecedor profissional da música. Um dia, conversando com uma pessoa profissional da música, enquanto ouvíamos Louis Armstrong, dei-me conta, pelos comentários dele sobre a música e os recursos técnicos que Armstrong usava para criar determinados efeitos, da minha enorme ignorância.
Já depois disso tive a mesma impressão a ouvir Jean-Luc Goddard falar da diferença entre certos realizadores. Como criavam este ou aquele efeito, com esta ou aquela técnica. Coisas que uma pessoa nem repara a ver o filme ou repara mas não atribui significado porque lhe faltam os conhecimento, mas que um realizador repara imediatamente e retira dali lições.
A questão é que pensamos que em assuntos a que temos acesso sem treino técnico -ouvir música, ver pintura ou cinema, etc.- diferentemente do que acontece com a Física ou a Geometria que requerem treino técnico, temos uma compreensão global desses assuntos. Só que não temos. A compreensão é sempre superficial relativamente à dos especialista que se apercebe de todas as nuances técnicas, virtuosas, etc., que afectam o resultado da peça, seja ela qual for.
É por isso que toda a gente pensa que sabe o que é a educação escolar. É por estarem habituados a falar com os filhos e a educá-los sem terem que ter um treino técnico, como a Química e, por isso, não se aperceberem das diferenças de uma tarefa e outra e da sua superficialidade no juízo do assunto. Não captam a profundidade de certas escolhas técnicas, o alcance de certas nuances de comunicação e pedagogia, a complexidade de certas tarefas próprias do ensino, a complexidade de um grupo-turma, como nós, profissionais, nos apercebemos. Têm uma visão superficial e nem percebem que a têm.
Em relação à música, à pintura e ao cinema, que são artes que me dizem muito, também sinto essa lacuna. Há muita coisa que me passa ao lado. Vale-me a sensibilidade e a emoção. Mas fico muito aquém de apreciar uma obra como deve ser...
ReplyDeletePois, uma pessoa lê muito, mas há conhecimentos específicos, técnicas que não tem...
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