August 20, 2020

Sinais perigosos

 


O primeiro-ministro segurar incompetentes no governo. Quando esta ministra diz que não lê os relatórios dos médicos, o que ela está a dizer é que não valoriza a opinião dos especialistas na tomada de decisões. Então decide com base em quê? Nas suas opiniões desinformadas? Em segundo lugar, quando diz que não procura culpados revela desconhecimento entre culpa (isso é para o padre na igreja) e responsabilidade política. Se ela não se interessa em saber quem são os responsáveis por maus trabalhos, isso significa que o trabalho sob a sua tutela só é bom por acaso e não no que depende dela. Que o primeiro-ministro não veja ou não queira saber que as mesmas conclusões se aplicam a si ao não querer saber das responsabilidades e mau trabalho da ministra é um sinal muito perigoso. É aliás, um sinal que já deu várias vezes e ainda ontem soubemos que voltou a meter no governo um tipo que aceita, juntamente com a mulher, presentes de empresas que querem coisas aprovadas.

O primeiro-ministro virar-se contra os médicos. Acho que todos nos lembramos que há 4 meses um médico não podia sair à rua sem ouvir palmas e elogios. Pois agora já não prestam porque denunciam o que está mal.

Daqui a um mês ou dois há-de estar a dizer mal dos professores -a quem há 4 meses também batiam palmas- por denunciarem falta de condições de segurança e os dois do ME hão-de culpar os directores se, por azar, as coisas correrem mal com a falta de condições de segurança que há nas escolas. Os directores que se ponham a pau...

Eu estou à espera que o primeiro-ministro diga oficialmente o que devo fazer, porque a lei diz que as pessoas de grupos de risco ficam em tele-trabalho podendo fazê-lo e não precisam de justificação; até agora, não há legislação em contrário. 

Parece que há bocas do secretário de Estado mas o que ele diz em reuniões privadas não tem força de lei. Aliás, disse coisas sem sentido: que quem não está em condições de trabalhar que meta baixa. O problema é que as pessoas estão em condições de trabalhar. Nenhum médico nos passa um atestado por pertencermos a um grupo de risco, pois nem sequer é o nosso medico que define o que são grupo de riscos, a não ser que haja uma lei que diga que as pessoas de grupo de risco ficam automaticamente de baixa até nova ordem. Precisamos de saber. Somos muitos. E as escolas precisam de saber. 

Eu por mim vou trabalhar. Não sou de fugir ao trabalho. Vou trabalhar se tiver turmas para ficar um em cada mesa e se tiver um horário que não me obrigue a ficar horas e horas seguidas na escola numa sala de professores apinhada e com duas casa de banho para toda a gente, como aliás são as recomendações da OMS.

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Por cá, António Costa meteu-se numa batalha diferente. Também no meio de uma crise pandémica, económica e social, o primeiro-ministro não se limitou ontem a reiterar a defesa da sua ministra da Solidariedade (muito criticada depois da entrevista ao Expresso em que desvalorizou o número de casos de covid-19 em lares; em que disse não ter como "objetivo" procurar culpados; e em que admitiu não ter lido o relatório da Ordem dos Médicos sobre o que aconteceu em Renguengos de Monsaraz). Não, desta vez António Costa decidiu atacar a própria Ordem dos Médicos por ter feito esse mesmo relatório. Foi levado, mas direto: "É fácil ficar no nosso consultório e passar o dia a falar por videoconferência para as televisões, opinando sobre o que acontece aqui e ali."

O que nem Costa, nem a ministra, nem os responsáveis pelos lares, explicaram foi como a ministra dizia num dia que não tinha lido o relatório e três dias depois já tinha lido todos; como a ministra dizia não ter pedido uma inspecção e, quatro dias passados, se sabia que tinha sido pedido um "relatório"; ou sequer como esse relatório pode ser mostrado como "atempado", quando foi pedido já depois da 16ª morte em Reguengos e 21 dias depois dos avisos dos médicos. Assim como não se explica como no sábado eram 100 as vistorias feitas pela Segurança Social aos lares e hoje, ao JN, se contam 500.
EXPRESSO

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