July 11, 2020

Lê-se e não se acredita



Peritos alertam para subida de casos três semanas após o início das aulas. Ministério promete reforçar cuidados intensivos e laboratórios e apostar em teleconsultas para doentes não-covid. Vacina da gripe será antecipada


Lemos este artigo que fala sobre medidas que vão ser tomadas na área da saúde e algumas delas, são estas dirigidas para as escolas, que se pensa ser o maior foco de surtos de COVID assim que o ano lectivo começar. E que medidas são essas? Nenhumas. Lê-se e não se acredita: ter mais pessoas ao telefone, mais laboratórios a testar e vacinar contra a gripe. O que tem a vacina da gripe a ver com o COVID? Nada, que saibamos. As outras medidas não são de prevenção, são de remediação. 

De facto, não é o ministério da saúde mas o da educação quem devia estar a preparar medidas de prevenção, o que não fez, até agora, muito antes pelo contrário.

Vejamos: o caso, por enquanto, ainda não é dramático. O terceiro período é geralmente muito pequeno (mês e meio), ao contrário dos outros dois, cada um com três meses inteiros de aulas. Portanto, não é um terço do ano, é menos de um quarto - este ano, dado que as aulas foram estendidas até final de junho por causa da pandemia, até foi maior que era para ser. E trabalhou-se, por pressão dos professores, porque o secretário de Estado começou por dizer que o terceiro período era para só para entreter alunos. É claro que foi um terceiro período atípico e negativo, relativamente ao que são as aulas presenciais, ao acompanhamento pelos professores e aos recursos que apesar de tudo existem nas escolas e não nas casas da maioria dos alunos.

No entanto, volto a dizer, foi um mês e meio de aulas presenciais que se perdeu, na totalidade do ano lectivo. Não é dramático. Agora, se o próximo ano não for preparado e se acabar com escolas fechadas por causa de surtos de COVID, com alunos e professores doentes e exaustos por um ano sem intervalos de aulas, sem férias e com trabalho extra, aí sim, será dramático, porque será um ano inteiro, não apenas perdido, como um hiato na continuidade da vida. Não, será um ano com acumulação de experiências negativas. E isso deixa outras marcas nas possibilidades dos alunos.

Porque razão o governo não se interessa pela educação e só vê as escolas como custos? Não sei, isso para mim é um enigma, mas não abona em seu favor.

Porque razão o ME e nomeadamente na pessoa do ministro não luta pelas escolas e já veio dizer que não vai fazer nada para as escolas poderem trabalhar com os alunos em condições de segurança, sabendo que essa falha vai cavar ainda mais o fosso entre pobres e ricos? Não sei, mas nós vemos que esse problema das desigualdades não é sentido nem abordado pelas nossas elites políticas, sendo que até dizem, algumas, que os portugueses têm que esquecer isso da equidade.

Porque razão o ME pensou o próximo ano lectivo mais como um castigo para alunos e professores que como uma possibilidade de resultados positivos? Não sei, mas desconfio que não atribuem importância suficiente à escola pública para gastar dinheiro com ela, como atribuem aos projectos faraónicos, aos banqueiros amigos, a terem muitos ministérios para distribuir camaradas, etc.

Os professores e os alunos não precisam de estar presos em salas apinhadas, sem intervalos como se fossem soldados que se enfiam em trincheiras sem ordem de sair até caírem por COVID ou exaustão total.

Os professores e os alunos precisam de condições de segurança para sentirem confiança e se carregarem de energia para se dedicarem ao trabalho no próximo ano, nas escolas, e o fazerem render ao máximo. 

Penso ter ficado claro, este ano, com a rapidez com que, numa semana e meia (e prescindindo das férias da Páscoa) os professores foram capazes de montar, sozinhos, sem a mais pequena ajuda do ME, um sistema de aulas à distância (com erros e falhas, sim, mas que no geral funcionou como remediação), que têm energia, vontade e boa disposição para o trabalho difícil do ano que vem. E ainda não terem medo de desafios. Agora, não podem esperar que o façam nas piores condições de segurança possível, pois isso é pedir-lhes que adoeçam para o ME e o governo não se incomodarem com o assunto.

Se as pessoas do ME não sabem ou não querem criar condições de segurança que ofereça confiança e, pelo contrário, só produzem obstáculos ao trabalho das escolas, por amor de deus, vão-se embora. Dêem lugar a quem saiba trabalhar. Os alunos e os professores não podem ser cobaias da vossa falta de competência para os cargos.

Outra coisa que tem ficado clara para todos é que a substituição de pessoas competentes por amigos, por moços de recados que não ofereçam resistência ou como pagamento de favores partidários, em tempos de crise, como a de agora, tem efeitos catastróficos. As pessoas não sabem trabalhar, não sabem pensar nos problemas, rodeiam-se de incompetentes iguais a eles e estragam tudo em que mexem, com consequências de restrição de futuro e, muitas vezes, de morte, como agora, na vida dos outros. Já tinha ficado claro com Pedrogão, agora entra pelos olhos adentro.

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