May 20, 2020

As feridas que não fecham




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São inúmeros os países europeus que viveram, durante décadas, sob o jugo de sistemas ditatoriais. Milhares de cidadãos, considerados inimigos dos regimes pelos mais variados motivos, deram entrada em prisões, campos de trabalho ou de concentração. Aos milhões foram executados. A Hungria não foi, neste plano, uma excepção. Alinhado à esquerda estalinista, o regime comunista húngaro, que vigorou entre 1949 e 1989, vitimou centenas de milhares de pessoas. Hoje, longe do comunismo que a feriu tão gravemente, a Hungria é um país encostado à direita conservadora, nacionalista e populista.
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Cada país convive de forma diferente com as feridas da ditadura. Daniel não crê que a Hungria queira, activamente, silenciar o passado. Nem acredita que tal fosse possível. “Mas também não o processámos, nem compensámos as vítimas, nem revelámos a verdade inteiramente”, observa. Está convicto de que os húngaros preferem não enfrentar os factos, que preferem "esquecer, viajar, trabalhar muito". Também não existe vontade política de explorar o passado, uma vez que muitos daqueles que governam hoje o país tiveram familiares directos em cargos de poder no período da ditadura. Mas pode um país ferido superar os seus traumas sem os processar? Pode uma fuga do comunismo justificar uma abertura de portas à extrema-direita?
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Na Hungria não há grupos radicais tão numerosos como noutros países da Europa. O comunismo e outros pensamentos de esquerda estão gastos, obsoletos. Existem grupos de homens idosos que ainda se identificam com eles, talvez alguns mihares de pessoas na Hungria, hoje, na totalidade. O que é bom, creio. Vejo todos os tipos de radicalismo como perigosos num estado pós-socialista."

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