Alfredo Leite
O secretário de Estado da Saúde anunciou ontem, na habitual conferência de imprensa para dar conta da evolução da Covid-19 em Portugal, que foram feitas melhorias na linha de atendimento telefónico SNS 24. Disse António Lacerda Sales que, agora, "é possível um tempo médio de espera abaixo dos três minutos" para o cidadão ser atendido.
Há, contudo, alguns fatores que Sales ignora nesta equação - ou prefere ignorar -, mas que os portugueses sabem bem. Horas antes da declaração do secretário de Estado, uma colega de trabalho contou-me que tinha ligado pelas 5h00 da manhã para o SNS 24, devido a uma crise não relacionada com o coronavírus, e que permaneceu em espera mais de 50 minutos depois de um primeiro atendimento. Desistiu.
Mais tarde, pelas 6h30, já não foi sequer atendida. Lacerda Sales parece aquele governante de um país pobre onde metade da população passa fome, mas como a outra metade come um frango por dia isso significa que, em média, todos se alimentam com meio frango.
Valeu à minha colega a linha telefónica alternativa criada pela sua seguradora de saúde neste período crítico ou ainda estaria à espera de ser encaminhada para o SNS.
Seguindo a mesma linha de cálculo e quando questionado sobre a falta de meios em Aveiro, Lacerda Sales anunciou o envio "hoje mesmo [ontem] de dois mil testes" para a cidade. Já o presidente da câmara, Ribau Esteves, denunciou que um camião de material que "deveria ter chegado há 15 dias ainda não chegou" à cidade.
Estes são apenas dois exemplos que ilustram o momento difícil que atravessamos e o quanto a transparência é importante agora.
É certo que nenhum sistema está preparado para uma situação como estas, mas se os portugueses estão a fazer – como reconhecem quase todos – o que lhes é pedido, é então fundamental que os governantes façam a sua parte. Sem manipulação de números. Só com verdade.
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