Posto isto, perspetivo duas prerrogativas de que depende a concretização deste grande objetivo que consta no programa do governo:
Apoio ativo (antecipatório) - é fulcral o aumento do apoio efetivo aos alunos do 1.º Ciclo, no 1.º ano e às primeiras dificuldades; a concretização clara dos objetivos das aprendizagens nos primeiros anos de estudo atuará como via verde na autoestrada para o sucesso ao longo do percurso escolar;
Apoio de remediação - enquanto não se sentirem os reflexos da medida do ponto anterior, urge aumentar as horas de crédito horário para, no âmbito da autonomia (!) das escolas, disponibilizar os apoios diferenciados aos alunos dos 2.0º e 3.0º ciclos e Ensino Secundário.
(Filinto Lima no JN)
De há uns bons anos para cá que o ME passou a considerar as aulas de apoio como tempos não lectivos. Como se as aulas de apoio não fossem aulas, o que não se percebe pois são um tipo de aula mais especializada, adaptada às dificuldades de um aluno em particular. São aquilo que vulgarmente se chama, fora das escolas, explicações, e se paga caro. No entanto, o ME desconsiderou-as.
Não são consideradas aulas. Mas adiante.
A questão é que os professores que têm o seu horário completo de turmas em tempos lectivos e depois atribuem a alguns deles umas horas de apoio. Vamos supor que uma escola tem 1200 alunos e 15 professores de Português. Desses 15, 4 têm, cada um, dois tempos não lectivos para dar apoio. Isto beneficia no máximo uns 25 alunos, não mais. Muitas vezes o horário do aluno que precisa de apoio não é compatível com o do professor que o dá; se o professor está a dar apoio a alunos do 7º ano já não pode dar a outros anos; as aulas de apoio, dada a sua natureza de intervenção cirúrgica, por assim dizer, não podem ter mais que seis alunos; às vezes põem todas as horas de apoio num professor só, de modo que esse professor, dá 4 ou 6 tempos de aulas e depois tem mais 3 tempos de apoio, que são mais 3 aulas, o que é uma barbaridade de aulas que ninguém aguenta e depois aquilo funciona mal, claro, etc.
Por exemplo, os DTs costumam pedir-me para dar apoio a alunos que querem fazer exame de Filosofia. Este ano estou a apoiar um aluno do 11º ano, que chumbou no 10º ano. Dou-lhe uma hora por semana, o que é pouco, pois temos que dar o programa do 10º e 11º anos todo até Junho. Entretanto, numa reunião de pais perguntaram-se sobre apoios e eu disse que tinha uma hora. É claro que houve logo quem quisesse apoio para subir a nota. Eu gostava de ajudar mas o outro aluno é do 11º e estas raparigas são do 10º ano. Enquanto estiver com o outro a trabalhar matéria do 10º ano ainda podem acompanhar mas assim que passarmos para o 11º ano já não dá pois não consigo estar a trabalhar dois assuntos diferentes ao mesmo tempo.
Em suma, o governo e toda a gente fala em não chumbar mas depois as medidas, como os apoios, para ajudar os alunos que têm dificuldades a evitar as reprovações, só existem no papel e na propaganda. Na prática, atiraram-nas para tempos não lectivos e portanto, só alguns poucos professores as têm no horário e, ademais, são aulas a sobrecarregar as aulas que já damos.
Dantes, quando eram tempos lectivos, tínhamos sempre no horário 1 ou 2 tempos lectivos para apoiar os nossos próprios alunos, mas isso foi antes de estragarem a escola pública para poderem despedir professores e poupar uns milhões à custa dela.
Eu tenho uma boa solução para isso: já que estas aulas são tempos não letivos, deixam de ser aulas, ou seja, o professor vai para lá só para tirar dúvidas e não para dar matéria....simples! Temos de chamar os bois pelos nomes....
ReplyDeleteIsso era o que eu devia fazer. Se não são aulas, não se dão aulas. O problema é que é difícil dizer aos miúdos, 'olha, o ME diz que isto não são aulas de modo que aqui não lecciono'.
ReplyDeleteAh, mas eu não sou a Madre Teresa de Calcutá! Então eles vão para a política para se encherem e eu é que tenho de ser desconsiderada??!! Era o que faltava.
ReplyDeleteIf you're good at something, don't do that for free...
Tens razão.
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