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May 06, 2024

Na questão dos telemóveis é preciso calcular os custos e os benefícios

 

A questão não se resume, penso, a discutir quem é liberal e não concorda com proibições e quem não é liberal e quer proibições. O assunto é mais complexo que isso. Não estamos a falar do direito de expressão ou de reivindicação. Estamos a falar de um instrumento que causa vício, problemas de saúde mental e potencia comportamentos agressivos. Não é diferente, em termos de vício, do tabaco ou, em termos de comportamentos agressivos, das drogas. Não é correcto dizer que tudo o que a Constituição não proíbe é permitido, como li num texto de um colega. A lei não cobre toda a realidade normativa e, na melhor das hipóteses, o que podemos esperar é que a legislação acompanhe a realidade e se vá ajustando a ela. 

Até há uns anos, a lei não proibia que se fumasse em lado algum; no entanto, apesar disso, aos poucos, as instituições começaram a proibir o fumo nas suas instalações. Só muito mais tarde a legislação acompanhou essas medidas. Ser liberal não teve nada que ver com proibir que se fumasse, o que foi uma decisão que se foi alargando, à medida que se foi conhecendo os grandes malefícios do tabaco e se compreendeu que os custos em termos de saúde eram muito superiores aos hipotéticos benefícios.

Na questão dos telemóveis é preciso calcular os custos e os benefícios para a saúde e a educação dos alunos. Sabemos hoje que a exposição a ecrãs digitais desde cedo tem implicações negativas na saúde física das crianças e que a permissividade de navegar na internet sem restrições, bem como as redes sociais, construídas justamente para viciar os adolescentes, têm implicações graves na saúde mental, nas relações sociais, na aprendizagem e no desenvolvimento dos adolescentes. Não podemos fingir que isso não existe e dizer que proibir é mau. 

É certo que dentro de casa de cada um, o mais que se pode fazer é tentar informar e consciencializar os pais, como se fez com as campanhas contra o tabaco - que, aliás, resultaram porque passámos de praticamente toda a gente fumar, para quase ninguém fumar entre os adolescentes e os jovens. Foi o que fiz hoje, na reunião. Informei os pais dos perigos do uso dos telemóveis, dei exemplos, falei de estatísticas. Outros pais também falaram e conversou-se sobre os custos e os benefícios.

Nas escolas, é perfeitamente possível, restringir o uso dos telemóveis, se entendermos que os custos negativos do seu uso são francamente superiores aos benefícios. Penso que até uma certa idade, os telemóveis deviam ser proibidos nas escolas e, a partir de certas idades, devia ser regulado e ter restrições.


September 27, 2023

"Une Génération d'Abrutis"

 


A force de ne jamais réfléchir, on a un bonheur stupide. Jean Cocteau 

Ontem li um artigo de uma comentadora num jornal que dizia que as pessoas que falam contra a dependência dos jovens das redes sociais, o uso desmedido de telemóveis e do ChatGPT são velhos do Restelo porque os dados mostram que os jovens compraram mais livros por causa de haver no TikTok pessoas que os recomendam ler e porque os jovens lêem mais em inglês, sem perceber que ler por causa do TikTok é uma moda parecida à da febre da leitura do Harry Potter. Os que tinham essa febre e até iam dormir à porta das livrarias para serem os primeiros a comprar o novo livro, desde que acabou a saga nunca mais leram um livro. Se o seu actor preferido os mandasse atirar de uma janela também o faziam. O que aliás acontece mesmo nas redes sociais: suicídios de moda. E quanto a lerem mais em inglês, não são livros, mas as frases e instruções dos videojogos, dos vídeos do TikTok e do YouTube. A internet que eles vêem está toda em inglês. 


September 22, 2023

Ouvido agora mesmo

 


Na BBC. Uma entrevista com um médico cirurgião oftalmologista a explicar que as cirurgias oftalmológicas a laser são muito boas e seguras para crianças e evitam os óculos. Está a haver um aumento exponencial de casos de crianças e adolescentes com problemas de visão que as obriga a usar óculos cada vez mais cedo. E porquê? Telemóveis. Por um lado, excesso de exposição à luz dos telemóveis (e outros dispositivos digitais); por outro, a falta de actividades ao ar livre não deixa a visão ao longe desenvolver-se e afinar-se.


May 05, 2023

Os smartphones estão a matar as raparigas?

 


As taxas de suicídio das raparigas estão a aumentar. Será a culpa dos smartphones?

As taxas de hospitalização por auto-mutilação aumentaram 140% desde 2010.

Em 2017, Jean Twenge, professora universitária, escreveu um ensaio intitulado "Terão os smartphones destruído uma geração?". A sua resposta, "sim", foi provocadora na altura. Agora, é um refrão comum.