« Depuis que j'ai vu au musée de la Haye la Vue de Delft, j'ai su que j'avais vu le plus beau tableau du monde. Dans Du côté de chez Swann, je n'ai pas pu m'empêcher de faire travailler Swann à une étude sur Vermeer. »Marcel Proust, Lettre à Jean-Louis Vaudoyer mai 1921
Em 1902, Marcel Proust fez uma viagem aos Países Baixos. Durante a sua visita ao Mauritshuis, ficou impressionado com a obra Vista de Delft, de Johannes Vermeer. Vermeer tornou-se o pintor preferido de Proust. Na obra da sua vida, A La Recherche du Temps Perdu (Em Busca do Tempo Perdido), não pode deixar de o referir, na investigação de Charles Swann ou no episódio da morte do escritor Bergotte, em La Prisonnière (Volume V), que tornou célebre o “pequeno pedaço de parede amarela” visível do lado direito do quadro de Haia.
Em 1579, a União de Utreque uniu as sete províncias protestantes do norte para formar as Províncias Unidas, com o objetivo de se libertarem do domínio do rei espanhol, que tentava manter o poder sobre este território que tinha pertencido a Carlos V. O Tratado de Münster de 1648 consagrou a sua independência. As Províncias Unidas enriqueceram rapidamente, graças, nomeadamente, à Companhia das Índias Orientais (VOC). A sua frota ultrapassa a da Inglaterra e da França. A rápida prosperidade de uma classe burguesa deu origem a uma nova apetência pela pintura.
Os pintores de Delft produziram um estilo de pintura mais suave e mais precioso do que as obras de Rembrandt ou de Hals e conviveram uns com os outros, como o demonstram as semelhanças palpáveis entre a obra de De Hooch e a de Vermeer, por exemplo.
“Vai troçar de mim, mas esse pintor que o impede de me ver (referia-se a Ver Meer), nunca tinha ouvido falar dele; ainda está vivo? É possível ver alguma obra dele em Paris, para que eu possa imaginar do que você gosta, adivinhar um pouco o que está debaixo dessa testa grande que trabalha tanto, nessa cabeça que se sente sempre a pensar (...)”.
No romance, não é o protagonista que vai visitar a exposição, mas sim o escritor Bergotte. Proust viu o quadro pela primeira vez em Haia, em 1902, e depois novamente em 1921, em Paris e, nessa altura, a pintura provocou-lhe um ataque de vertigens. Na obra, Proust põe Bergotte diante do quadro a ter um ataque de vertigens.
A sua vertigem aumentou; fixou o olhar, como uma criança numa borboleta amarela que quer apanhar, no precioso pedacinho de parede. Era assim que eu devia ter escrito, disse. Os meus últimos livros são demasiado secos, devia ter aplicado várias camadas de cor, tornar a minha frase preciosa, como aquele pequeno pedaço de parede amarela” (III, p. 692).
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