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July 22, 2022

Livros - "Se Nietzsche fosse um Narwhal"

 


"Se Nietzsche fosse um Narwhal: O que a Inteligência Animal revela sobre a estupidez humana" 

Após um holocausto nuclear mundial, as poucas criaturas sobreviventes - amibas- fazem uma reunião e decidem tentar evoluir novamente. Mas antes fazem um juramento solene: "Desta vez, nada de cérebros! ”

"Se Nietzsche fosse um Narwal" começa com o grande depressivo em pessoa, que não tinha falta de cérebro. "Nietzsche", ao mesmo tempo que tinha pena dos bois por não poderem contemplar a existência, desejava ser estúpido como um boi, para não ter de contemplar a existência. 
 Se Nietzsche tivesse sido agraciado com o cérebro de um Narwal (um dos mamíferos marinhos favoritos do autor), não teria sofrido o seu devastador Weltschmerz [o sentimento experimentado por quem acredita que a realidade física nunca pode satisfazer as exigências da mente]. 
Claro que a sua complexidade de pensamento, juntamente com a sua produção escrita, teriam sido... bem, um pouco limitadas.

Gregg acha a consciência da morte (dor, medo, niilismo, angústia mental e emocional) uma desvantagem: "Acredito que os animais . . . não sofrem tanto como nós pela simples razão de que não podem imaginar as suas mortes".

O autor sugere que reconsideremos a nossa "crença inabalável" de que a inteligência, seja qual for a nossa definição, é uma coisa boa, "um ingrediente mágico que se pode borrifar num macaco aborrecido, ou num robô, . . . e criar algo melhor". 

"Podemos usar o nosso intelecto humano - e muitas vezes usamos- para adivinhar os segredos do universo e gerar teorias filosóficas baseadas na fragilidade e na transitoriedade da vida, mas também podemos e, frequentemente o fazemos, aproveitar esses segredos para causar a morte e a destruição e distorcer essas filosofias para justificar a nossa selvageria. Com a compreensão de como o mundo foi construído, vem o conhecimento para o destruir. Os humanos têm tanto a capacidade de racionalizar o genocídio como a competência tecnológica para o levar a cabo".

Nós, seres humanos, estamos enfeitiçados pela nossa própria inteligência. A nossa inteligência permitiu-nos curar doenças, escrever sinfonias e livros, inventar ciência, desenvolver ideias e sociedades complexas, mas também - especialmente através das capacidades linguísticas - nos permitiu enganar a nós próprios e aos outros. É verdade que os animais por vezes enganam, mas quando as pessoas o fazem, é uma história diferente. Literalmente. Somos espertos e temos uma linguagem que nos permite deturpar a verdade, sabendo sempre e muito bem que estamos a mentir.

Quanto à ética e à moralidade, Gregg observa que, enquanto as capacidades cognitivas humanas "moldaram o sentido moral humano a partir do barro da normatividade animal", o nosso raciocínio moral "conduz frequentemente a mais morte, violência e destruição do que encontramos no comportamento normativo dos animais não humanos". Os animais têm sistemas baseados em normas, mas os desvios raramente resultam, como acontece connosco, em morte e sofrimento em massa. Os animais não cometem genocídio.

Gregg fala em "miopia prognóstica", como "a capacidade humana de pensar e alterar o futuro, associada a uma incapacidade de realmente se preocupar com o que acontece no futuro". É causada pela capacidade humana de tomar decisões complexas, recorrendo às nossas capacidades cognitivas únicas que resultam em consequências a longo prazo. No entanto, porque a nossa mente evoluiu principalmente para lidar com os resultados imediatos dos acontecimentos- não futuros - raramente experimentamos ou até compreendemos as consequências destas decisões a longo prazo". Pense em armas nucleares, gases com efeito de estufa, poluição a longo prazo versus lucro a curto prazo. A nossa "clarividência míope", argumenta Gregg, é "uma ameaça ao nível da extinção para a humanidade".

É perturbador pensar que a nossa inteligência não contribuiu para nos tornar melhores, nem física nem moralmente, que as outras espécies. E também não está a beneficiar a Terra.

Gregg conclui  que "razões para atenuar a nossa presunção. Dependendo de para onde vamos a partir daqui, a inteligência humana pode ser apenas a coisa mais estúpida que alguma vez aconteceu".

By David P. Barash

July 04, 2022

Aforismo 30 - O próximo

 



Friedrich Nietzsche não era adepto do racionalismo cartesiano com a sua tentativa de se ver a si próprio e a toda a realidade objectivamente, apenas com as ferramentas da razão pura. Descartes sustentava que o nosso 'eu', entendido como a nossa mente, era a característica mais conhecida da nossa experiência, o auto-conhecimento da nossa própria existência e natureza. Como se o 'eu' fosse algo fixo e à espera de ser descoberto através da razão pura.

Nietzsche toma o 'eu', não como um conceito metafísico mas sim como uma dinâmica em movimento, uma projecção psicológica para o futuro imaginando as nossas próprias possibilidades. Não um 'eu' metafísico ou religioso fixo, mas algo fundado nas nossas características de espécie e nos nossos desejos individuais para as nossas vidas de uma maneira naturalista.

Ele diz que quer o seu 'próximo', o seu 'eu', não dentro mas fora, projectado para longe, como uma estrela que se almeja e não como um interior estático e rígido que se conhece mas não se vive. Como diz no Aforismo 16., o excesso de racionalização paralisa:

16. Para cima

"Qual a melhor maneira de atacar esta colina?
Sobe e não penses nisso."

Para Nietzsche, a introspecção cartesiana é a antítese do que é preciso para se ser o 'eu' futuro que se imagina e deseja. Para atingir os objectivos o que é necessário é um apetite genuíno e insaciável pelas coisas que ainda não se tem, juntamente com um conhecimento de si autêntico, não saído de introspecção racionalista, mas de uma projecção existencial - a criação artística do seu próprio 'eu' futuro como objectivo final a partir do conhecimento das suas necessidades e potencialidades físicas e psíquicas. 
Se ainda não se tem uma visão desse 'eu' futuro, fundada nesse conhecimento, enquanto possibilidade para o qual apontar, então é-se como um arqueiro a disparar no escuro, à toa, de olhos vendados e não se atingirá o objectivo.

July 03, 2022

Aforismo 341 - "O peso mais pesado"

 





Se todos os acontecimentos -físicos e psíquicos- da nossa vida se repetissem ciclicamente ad vitam æternam como reagiríamos? E se pudéssemos, em cada regresso, em cada recomeço mudar alguns erros, algumas falhas ou faltas, o que aconteceria? Aconteceria que essas pequenas mudanças teriam influência nos acontecimentos delas decorridos anteriormente, mudando-os ou até eliminando-os. Portanto, a correção dos erros impediria a experiência e consequente conhecimento adquiridos com eles, o que não evitaria os mesmos erros, apenas com outras consequências e outros erros. E se em vez de eliminar os erros eliminássemos as dificuldades relacionadas com as condições da nossa vinda ao mundo? Eliminávamos também as vitórias e mudávamo-nos-nos enquanto pessoas.
Reconhecer as fases mais dolorosas da vida, os erros do passado e o que fizeram de nós, esse é "o fardo mais pesado".
Heraclito dizia que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez já as águas são outras. Portanto, Nietzsche provoca-nos com esta experiência mental, talvez para que, em vez de nos queixarmos do passado e lamentarmo-nos dos erros cometidos, aceitemos o passado e as condições de vida e mudemos o futuro, de maneira que o retorno do mesmo inclua esse melhor futuro.