Mr. B., um compositor de blues antes dos blues. O que podemos encontrar em Bach: profundidade emocional, ternura, nostalgia, exaltação, alegria, espiritualidade, esperança, beleza, paz; o que não encontramos em Bach: desespero, depressão, luxúria, ganância, ciúme, violência.
Bach foi, li algures, um cosmólogo da música, mas nem todos o 'viam' na sua época. Quando se candidatou à vaga de "kantor" (professor e diretor musical) da Igreja de São Tomás, em Leipzig, o conselheiro municipal Abraham Platz, que tentou contratar um dos outros candidatos mas não conseguiu, comentou, referindo-se a Bach, "Já que não conseguimos os melhores, temos de nos contentar com os medíocres"...
A sua cultura musical era prodigiosa. Absorvia como uma esponja a tradição organística holandesa, o teatro musical italiano e a música de dança e teclado de França. A sua biblioteca pessoal de música era uma das melhores da Saxónia. A sua composição tece todas as vertentes musicais da Europa, indo até à Palestrina e ao canto gregoriano (cf. Missa em Bm). Preocupado com o facto de as suas aberturas não terem a força de Vivaldi, estudou-o assiduamente. Talvez o maior mistério seja como é que uma pessoa pode ter mantido, semana após semana, tais pináculos de criatividade. O grande estudioso de Bach, Christoph Wolff, observou que um compositor profissional de hoje precisaria provavelmente de uma licença de três anos para escrever uma peça na escala da Paixão de São Mateus: Bach fê-lo em poucas semanas.Uma belíssima e refinada interpretação de Christopher Lowrey, um countertenor americano.