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October 28, 2023

Feeding the soul

 

Mr. B., um compositor de blues antes dos blues. O que podemos encontrar em Bach: profundidade emocional, ternura, nostalgia, exaltação, alegria, espiritualidade, esperança, beleza, paz; o que não encontramos em Bach: desespero, depressão, luxúria, ganância, ciúme, violência. 

Bach foi, li algures, um cosmólogo da música, mas nem todos o 'viam' na sua época. Quando se candidatou à vaga de "kantor" (professor e diretor musical) da Igreja de São Tomás, em Leipzig, o conselheiro municipal Abraham Platz, que tentou contratar um dos outros candidatos mas não conseguiu, comentou, referindo-se a Bach, "Já que não conseguimos os melhores, temos de nos contentar com os medíocres"... 

A sua cultura musical era prodigiosa. Absorvia como uma esponja a tradição organística holandesa, o teatro musical italiano e a música de dança e teclado de França. A sua biblioteca pessoal de música era uma das melhores da Saxónia. A sua composição tece todas as vertentes musicais da Europa, indo até à Palestrina e ao canto gregoriano (cf. Missa em Bm). Preocupado com o facto de as suas aberturas não terem a força de Vivaldi, estudou-o assiduamente. Talvez o maior mistério seja como é que uma pessoa pode ter mantido, semana após semana, tais pináculos de criatividade. O grande estudioso de Bach, Christoph Wolff, observou que um compositor profissional de hoje precisaria provavelmente de uma licença de três anos para escrever uma peça na escala da Paixão de São Mateus: Bach fê-lo em poucas semanas.

Assim como novos exercícios de ginástica nos dão a conhecer músculos que nem sequer sabíamos que o nosso corpo possuía, também a música de Bach desperta em nós uma multiplicidade de sensibilidades que, sem ela, estariam adormecidas. Lembra-nos as virtudes estéticas que vivem, muitas vezes escondidas, dentro de cada um de nós.   ~Bernard Chazelle

Uma belíssima e refinada interpretação de Christopher Lowrey, um countertenor americano.

July 03, 2023

Mr. B



'Cantata sobre a Morte do Imperador José II'. A profundidade da música, o sentimento de tragédia, de lamento e de comoção uníssona dada pelo coro impressionam. Beethoven compôs esta peça aos 19 anos... inacreditável. O que é também inacreditável é que esta peça nunca foi tocada durante a sua vida.

A 'Cantata sobre a Morte do Imperador José II', escrita por Beethoven como homenagem ao recém-falecido (1790) Sacro Imperador Romano-Germânico José II da Áustria, só viria a ser executada em 1884, por razões que continuam por esclarecer. 
Tudo o que os estudiosos deste período sabem com alguma certeza, é que a obra foi rejeitada pela acta da 'Sociedade Literária' em Março desse ano. A obra também nunca foi publicada. Tudo o que sobreviveu da cantata foi o manuscrito original de Beethoven, que foi comprado em leilão em 1813 pelo compositor Hummel para uma coleccionador privado e que foi posto novamente em leilão em 1884. 
A sua estreia teve lugar em Novembro desse ano, em Viena, seguida de uma repetição e subsequente estreia na cidade natal de Beethoven, Bona, em junho de 1885, com grande aclamação da crítica.

Brahms elogiou a obra, escrevendo ao crítico musical Eduard Hanslick em 1885: "Mesmo que não houvesse nome na página de rosto, não haveria dúvida - é Beethoven por completo! O pathos belo e nobre, sublime no seu sentimento e imaginação, a intensidade, talvez violenta na sua expressão; além disso, a voz principal e a declamação e, nas duas secções exteriores, todas as características que podemos observar e associar às suas obras posteriores."

A diferença que faz um maestro e a sua interpretação. Esta versão foi gravada em 1970. Há muitas versões desta peça, mas nenhuma me comove como esta. A intensidade que emana da música. Há uma impressão geral de sagrado, de exaltação, de lamento de amor e de intimidade, ao mesmo tempo que a voz de Kiri, no seu auge, cobre tudo com um véu etéreo.