Eis um facto estranho: sabia que quando olha para qualquer objecto, sabe como será lambê-lo? Vá lá, experimente agora. Olhe para algo perto de si, e repare como simplesmente sabe.
Isto é (mais ou menos...) o que John Locke se perguntou em, "A Pergunta de Molyneux".
Locke pensava que todo o nosso conhecimento vem da nossa experiência. Uma questão, porém, é como os nossos diferentes sentidos se correlacionam uns com os outros. Para ponderar nisto, Locke fez uma pergunta, do seu amigo Molyneux:
Imagine que havia um homem que nasceu cego e que aprendeu a distinguir, pelo tacto, entre um cubo e uma esfera. Suponhamos que este homem consegue ver de repente. Poderia ele, apenas pela visão, ser capaz de dizer qual é a esfera, e qual é o cubo?
Antes de continuar a ler, pense na questão.
Embora a medicina moderna possa agora curar certos tipos de cegueira congénita, não somos muito mais sábios. A evidência 'parece' mostrar que a pessoa anteriormente cega, não consegue distinguir, só pela visão, o cubo da esfera, mas não é de modo algum conclusiva (até porque é muito rara).
Empiristas como Locke e o próprio Molyneux, argumentaram que o cego não seria capaz de dizer a diferença. Eles pensavam que a capacidade de ligar dois sentidos era em si mesma uma experiência aprendida. Temos ambos de ver e sentir uma vela, por exemplo, para associar os dois. Rationalistas como Leibniz, no entanto, pensavam que o cego poderia perceber a diferença pelo raciocínio a partir da simetria, dimensões, ângulos e assim por diante.
A Pergunta de Molyneux foi um grande acontecimento na sua época e levou Diderot a escrever sobre a cegueira de uma forma mais geral. Ele argumentou que os cegos teriam um sentido de vício e virtude drasticamente diferente dos que vêem. Por exemplo, Diderot pensava que ouvir a dor não é tão mau como vê-la e que, por isso, os cegos não seriam tão compassivos como aqueles que podiam ver.
Se nada mais, a Pergunta de Molyneux levanta duas questões: em primeiro lugar, mostra-nos o peso e o valor que damos à visão, muito mais do que qualquer outra coisa. Ver é, como disse Wordsworth, o "mais despótico dos nossos sentidos"; em segundo lugar, pergunta o que se passa na nossa compreensão para coordenar as nossas experiências e como, ou porque, é que temos esta capacidade?
É também uma pergunta divertida para se fazer a alguém.
(por acaso, se tivesse que responder a esta última questão ficaria embaraçada porque acontece-me misturar experiências sensoriais diferentes - uma delas invade a outra, por assim dizer)