Nã sei se o miúdo batotou ou não, mas sei que a tecnologia e a disseminação do espírito de 'excelência' como meta de vida, mais o incentivo à competição desenfreada, em tudo, tem normalizado a fraude nas escolas. Bem, nas universidades também, porque lemos sobre teses plagiadas e cursos tirados ao fim de semana com equivalência a 35 cadeiras, etc., ao mais alto nível. E os casos de fraude desvalorizados ao mais alto nível dos governos ajuda à percepção da benignidade da fraude tanto nos adolescentes como nos adultos. Não há, nas sociedades uma cultura de honestidade, muito pelo contrário.
Quando Magnus Carlsen e Hans Niemann se sentaram para jogar um com o outro no início deste mês, ninguém seria capaz de adivinhar a tempestade que aí vinha. Niemann, um americano de 19 anos e o jogador mais baixo do ranking da Taça Sinquefield de xadrez, enfrentava um homem que domina o xadrez há mais de uma década. O resultado foi chocante - Carlson perdeu- mas nada comparado com o que viria a seguir.
Depois de Carlsen ter sofrido a derrota, desistiu do torneio, apesar de haver ainda seis rounds, uma coisa sem precedentes no nível de xadrez. Carlson twittou uma imagem do treinador de futebol José Mourinho, dizendo "Se eu falar estou em grandes sarilhos. ”
A mensagem foi amplamente vista como levantando suspeitas de batota – alguns dias depois, a maior plataforma online de xadrez do mundo, Chess.com removeu Neimann do site, por batota. Nieman negou ter batotado e acusou Carlsen e Chess.com de tentarem arruinar a sua carreira. "Se quiserem que eu me dispa completamente, eu faço-o", disse ele.
O adolescente admitiu ter feito batota online duas vezes, quando tinha 12 e 16 anos, mas negou categoricamente alguma vez ter feito batota no tabuleiro, e até disse que estava disposto a jogar nu para provar a sua boa fé.
"Temos de fazer algo quanto à batota e pela minha parte, não quero jogar contra pessoas que fizeram batota repetidamente no passado, porque não sei o que são capazes de fazer no futuro", disse ele. Acrescentou que queria dizer mais, mas não podia "sem permissão explícita de Niemann para falar abertamente".
O Grandmaster Nigel Short, o único jogador britânico a competir na final do campeonato mundial, disse à BBC na semana passada que estava céptico em relação às alegações de batota, dizendo que não havia provas de que Niemann tivesse feito batota na sua vitória sobre Carlsen.
"Penso que na ausência de qualquer prova, declaração ou qualquer coisa, esta é uma forma muito infeliz de proceder. É a morte por insinuação", disse Short.