Esta semana vou arranjar tempo para ir ver este filme. Estive a ver uma entrevista a Christopher Nolan na BBC news. Não vi nenhum trailer do filme de maneira que não sei como ele aborda o tema, a não ser pelo que diz nas entrevistas, mas espero que o filme seja uma oportunidade para se discutir algumas questões relativas à ciência ao serviço dos militares, à ética dos cientistas, à necessidade de desarmamento nuclear (que implica colaboração entre países antagónicos) e à responsabilidade dos EUA no bombardeamento nuclear de dezenas de milhares de civis, no Japão, que é um tema em relação ao qual os norte-americanos, como um todo, ainda não assumiram responsabilidade - quando Obama foi ao Japão e pediu desculpa pelos bombardeamentos metade dos americanos protestou furiosamente.
Por exemplo, aqui nesta entrevista, Nolan diz que o dilema ético dos cientistas americanos na época era se deviam fazer a bomba antes dos nazis. Ora, não foi esse o dilema. Enquanto estavam em guerra e havia a possibilidade de Hitler ter nas mãos uma bomba atómica capaz de destruir o mundo, não houve dilema nenhum. O dilema veio depois.
Depois de Hitler se suicidar em Abril de 45, sabia-se que a Alemanha tinha a guerra perdida e que não tinham nenhuma bomba. É nessa altura que se põe o dilema ético: devemos continuar a desenvolver uma bomba ou devemos parar agora que a guerra já está ganha e não precisamos dela?
E o facto é que não pararam, não apenas porque Truman queria chegar à conferência de Potsdam com a arma para estar por cima de Estaline, mas também porque os próprios cientistas queriam avidamente ver o resultado do seu esforço - foi assim que fizerem o teste no Novo México e depois, com o pretexto de querer acabar com a guerra -quando o Japão já estava sem recursos para prolongar a guerra- a lançaram sobre civis japoneses, não uma, mas duas vezes. Foi mais um recado, uma demonstração de força para a URSS que avançava pela Europa adentro.
E depois correram com o Oppie que entretanto começou com problemas de consciência (terá ido ter com Truman dizer que tinha sangue nas mãos e Truman mandou-o embora dizendo que nunca mais queria ver aquele "bebé-chorão") e puseram lá outro que queria muito desenvolver uma bomba ainda pior que a Atómica - a bomba de Hidrogénio.
Portanto, os cientistas americanos, os políticos americanos e os americanos em geral ainda não discutiram a sério os problemas éticos envolvidos na invenção e desenvolvimento de armas de destruição total cujos resultados são incontroláveis e a sua responsabilidade particular na proliferação das armas nucleares. É claro que agora, a discussão devia ser alargada a todos os cientistas, independentemente da sua nacionalidade.
A guerra da Ucrânia teve consequências nefastas ao nível da cooperação entre cientistas no mundo e, consequentemente, da abertura e transparência da ciência. Isso e os militares estarem outra vez em posição de pressionar os cientistas para os seus objectivos particulares.
Pode ser que o filme seja uma oportunidade de abrir essas discussões de uma maneira séria sem conversas de conspirações e de usar o exemplo de Oppenheimer como precaução para a tecnologia de IA.