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July 16, 2024

A ideia de que um inquérito de opinião corresponde a um estudo deve ser uma variante das novas licenciaturas bolonhesas

 

Foram ouvidas 1207 pessoas sobre a sua opinião acerca da Justiça. Quem são os inquiridos? São conhecedores do assunto? Ou são pessoas como eu? Eu não me considero propriamente desinformada e inculta mas se me perguntassem quem é mais responsável pelos problema da Justiça não o saberia dizer. Nem sequer sei quais são os problemas que afectam o funcionamento interno e a orgânica da Justiça - desde a formação de juízes e técnicos, ao funcionamento dos tribunais, à legislação aplicável, aos problemas do dia-a-dia, aos problemas das diversas instâncias jurídicas e tribunais...  O que sei disso é em termos muito gerais pela comunicação social - que como se vê por este artigo, não informa. 

Sei que há governos que tentaram mandar na Justiça para estarem no país como reis, como o caso do governo de Sócrates, porque foi evidente. Como agora é evidente que há quem queira manietar a Justiça para nunca ser incomodado - querem reduzir todos os problemas de funcionamento da Justiça à PGR porque ela não é submissa. Mas isso não é perceber dos problema internos da Justiça. Estamos fora do meio. Portanto, fazer um inquérito a pessoas que sabem zero dos problemas da Justiça, produzir uns gráficos com percentagens e daí concluir que têm um estudo sobre o que vai mal na Justiça? O que está mal é o próprio 'estudo', não-estudo.

Isto é o que costuma acontecer na educação. Vai-se inquirir este e aquele e mais pessoas que não sabem um boi dos problemas da educação e das escolas e que só produzem chavões tirados de títulos e artigos de comunicação social e redes sociais e depois concluem que um estudo disse isto e aquilo. 


Estudo: a justiça funciona mal e a culpa é dos juízes, procuradores e governos


Estudo do IPPS-Iscte ouviu 1207 pessoas e mais de 74% dizem que justiça funciona mal. Só o SNS tem percentagem negativa próxima (67%). Polícias, forças armadas e câmaras avaliadas positivamente.

A justiça “funciona mal” ou “muito mal”, os principais responsáveis por isso são os juízes, os procuradores do Ministério Público (MP) e os governos (por esta ordem) e o sistema piorou ou ficou na mesma nos últimos cinco anos. Esta é a avaliação dos inquiridos num estudo de opinião sobre o estado actual da justiça feito para o Instituto para as Políticas Públicas e Sociais (IPPS) do Iscte.

July 21, 2023

Ou estas investigações não estão bem feitas ou esta notícia está mal apresentada

 

Uma investigadora fez uma tese sobre o 'racional determinante' da escolha de um curso superior e concluiu que não é o factor empregabilidade que faz os jovens decidir e que a intenção dos alunos é escolher "uma vocação, o interesse pessoal ou a influência da família". Porém, não apresenta nenhum dado que fundamente esta conclusão - nenhum dos quadros apresentados permite tirar essa conclusão e, mais, não prevê todas as variáveis possíveis de explicação e oferece como exemplo de grande parte dos alunos irem atrás da vocação, cursos que são escolhas de nicho, como Fotografia, Filosofia ou Turismo em Trás-os Montes.

Apresenta um quadro com 10 cursos superiores (a maioria de Institutos Politécnicos) com desemprego elevado, onde os licenciados são em número de 36, 31, etc. como se essas escolhas fossem representativas do universo de mais 50 mil estudante que entraram no ensino superior.
Sempre houve pessoas que escolheram o curso de Filosofia e que escolheram cursos por vocação ou por gosto, não é uma realidade de agora como este estudo faz querer (dantes pensava-se na empregabilidade e agora os jovens pensam na vocação), mas são uma minoria e se dantes o faziam com alguma coragem de abdicar de uma carreira bem paga, hoje-em-dia sabem que abdicar de uma vocação com pouco emprego, para acabarem mal empregados num emprego onde são mal pagos e explorados, não há grande diferença.

Portanto, a desvalorização geral do trabalho e do trabalhador enquanto factor de perda de atractividade da empregabilidade não foi considerada neste estudo onde se conclui que é por questões de amor à vocação que os jovens já não escolhem cursos por empregabilidade. Isto é, tiram conclusões sem levar em conta um factor que a mim me parece fundamental.

Outro investigador cita, "alguma investigação", o que é um coisa vaga e não objectiva e também 'estudantes com quem contacta': os seus alunos? Bem, se são os seus alunos (é professor universitário) isso não é uma amostra representativa dos alunos em geral. São meia-dúzia de pessoas de um curso particular.

Por exemplo, passa-me pela cabeça que os alunos privilegiem em primeiro lugar a empregabilidade em cursos que dão acesso a uma boa carreira, de prestígio e bem remunerada, mas a maioria não tem notas de curso secundário e de exame (nem mesmo com estes exames alfaiate e a pressão nas escolas) para aceder a esses cursos, de maneira que vão para outras opções. 

Portanto, não é que eles privilegiem a vocação (a maioria não faz ideia se tem alguma vocação e para quê - sabem vagamente se são melhor em coisas práticas ou teóricas, em coisas com matemáticas ou humanísticas) sobre a empregabilidade. A empregabilidade é que perdeu o valor que tinha porque os governos e os 'patrões' são um ralador que usa os trabalhadores como queijo de temperar os seus acepipes.

Francamente, vejo muitas falhas neste estudo -a partir deste artigo, claro- para que o estampem num jornal nacional.

Na hora de escolher um curso, garantia de emprego não é o mais importante para os jovens

Público

Na hora de escolher um curso, garantia de emprego não é o mais importante para os jovens
A empregabilidade “não é o racional determinante” para a escolha de um curso, contextualiza a investigadora da Universidade Lusófona Orlanda Tavares. Este foi precisamente o tema da sua tese de doutoramento 

Os jovens “continuam a usar o argumento da empregabilidade” na altura de escolher se devem ou não ir para o ensino superior, explica, mas o mesmo não acontece no momento de escolher a formação superior a que vão candidatar-se. Nessa altura, “pesam mais outros factores”, como a vocação, o interesse pessoal ou a influência da família.

Alguma investigação, nota o sociólogo do Instituto de Ciência Sociais da Universidade de Lisboa Vítor Sérgio Ferreira, aponta a existência de um crescimento do “valor intrínseco da formação”, em detrimento do seu “valor instrumental”. Ou seja, os jovens cada vez mais valorizam o gosto em estudar a ligação com a profissão que podem vir a desempenhar, mais do que a estabilidade do emprego ou os níveis remuneratórios associados a cada actividade.

Ou seja, “os estudantes parecem cada vez mais conscientes de que o valor de empregabilidade do diploma não é o que foi no passado”, e isso acaba por lhes dar “maior liberdade em escolher um curso de que gostam”. É uma ideia sintetizada numa frase que Vítor Sérgio Ferreira, vice-coordenador do Observatório Permanente da Juventude, ouve frequentemente de estudantes: “Isto está mal em todo o lado, mais vale escolher aquilo de que gosto.”

O mais recente inquérito Estudantes à Saída do Secundário, feito pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, já é de 2018/2019, mas os dados então recolhidos apontam no mesmo sentido. O facto de o curso superior escolhido oferecer “boas oportunidades de emprego” é apenas o terceiro motivo invocado pelos jovens para justificar a opção por determinada formação – o motivo é invocado por 30,8% dos alunos.