Se o SNS e a educação pública não tratassem tão mal os seus profissionais, não viam tantos a fugir.
Se se apostasse na repovoação do território, na conservação da natureza, no combate às secas, na agricultura não intensiva de monocultura, na recuperação das florestas, na especialização industrial (veja-se o exemplo do calçado), na recuperação dos centros urbanos, na especialização e exploração de recursos que temos, etc., subia-se o nível de formação dos trabalhadores mesmo nas empresas de pequena e média dimensão.
Este governo ainda não fez uma única obra. Aposta tudo no turismo para o qual são precisos muitos trabalhadores, mas como não estão para lhes pagar, também esses fogem. Todos querem ser ricos - o máximo de lucros com o mínimo de custos. A última grande obra que se fez no país foi a ponte Vasco da Gama e a Expo. Nem um caminho de ferro em condições temos. Nada de nada. Inauguram-se rotundas e shoppings. O Estado sorve todo o dinheiro entre si e a banca, um e outro a fazerem nada.
Outro dia, uma rapariga que fez aqui no país o curso de biologia e o doutoramento e estava a fazer investigação com uma bolsa do Estado, que umas vezes recebia e outras não, tendo que andar sempre a meter papéis e a pedinchar um tostão, candidatou-se a uma bolsa para um projecto na Holanda. Ganhou.
Assim que chegou lá deram-lhe dinheiro, um carro, porque o projecto implica deslocação pelo país, um sítio decente para viver, férias com subsídio e sei lá mais o quê. Ela estava feérica. Sabia que havia países em que se valoriza a investigação, sim, mas nunca tinha visto isso, 'claramente visto'. Está entusiasmadíssma com o trabalho. Sente-se valorizada.
Uma pessoa que é professor universitário dizia-me que nunca há dinheiro para se organizar uma conferência internacional e convidar pessoas de outros países ou para se ir a outros países quando convidado. Quem quer ir tem que pagar do seu bolso, como se não interessasse à universidade uma academia viva.
Que é feito do intercâmbio de ideias e contactos que esses encontros proporcionavam? Quando é que o 3º iate ou a segunda casa de férias dos administradores se tornaram prioridade nas universidades?
Somos um país pequeno, mas com alguns recursos muito interessantes - nada se aproveita, porque nada chega para o deslumbramento dos nosso políticos e satélites com o poder e o dinheiro. Pessoas sem ideias políticas, sem projectos de desenvolvimento, nem horizontes, a não ser quererem o país para si e os seus amigos. Permanentemente. E é por isso que as pessoas se vêem obrigadas a fugir daqui, porque ninguém quer saber delas.
Somos um país pequeno, mas com alguns recursos muito interessantes - nada se aproveita, porque nada chega para o deslumbramento dos nosso políticos e satélites com o poder e o dinheiro. Pessoas sem ideias políticas, sem projectos de desenvolvimento, nem horizontes, a não ser quererem o país para si e os seus amigos. Permanentemente. E é por isso que as pessoas se vêem obrigadas a fugir daqui, porque ninguém quer saber delas.
Há uns dias li num jornal um artigo de um presidente de Câmara do norte do país a dizer que ia passar a mandar aos munícipes, todos os meses, uma informação com a conta do que gasta em água, electricidade, educação, esgotos e outros serviços, para as pessoas perceberem que esses serviços são caros e não são são gratuitos. É o cúmulo do descaramento e falta de noção dos nosso políticos: como se as pessoas não pagassem pesadamente impostos e não soubessem, na pele, quanto custam os serviços, este político resolve educá-los como se fossem idiotas do alto da sua sapiência.
Porque não manda primeiro a conta dos carros dos políticos, dos jantares, dos motoristas, das despesas de serviço, dos presentes, mais a informação das cunhas que meteu e lhe meteram e quanto custaram as obrinhas (rotundas e enfeites de rotundas desnecessários) a empresas amigas e os cargos do partido e outras coisas do género?
O poder neste país é para os políticos se pensarem como uma elite e tratarem os concidadãos como idiotas ou escravos (ou bandidos como o nosso ME) a quem se faz o favor de representar politicamente.
Razões para fugir daqui...?
Segundo dados da PORDATA (e INE), em 2021 terão emigrado mais de 65 mil portugueses, um valor equivalente ao de 2020, mas francamente abaixo dos registados anualmente ao longo de toda a década anterior.
Estas cifras mais contribuíram para um dado de que dificilmente nos podemos orgulhar: Portugal é o país da União Europeia com uma maior proporção de emigrantes face à população residente (um total superior a 2,5 milhões de cidadãos, que representa uma percentagem próxima dos 25% da população residente).
Se os destinos não se alteraram substancialmente, sobressaindo os países europeus (França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Espanha e agora também o Reino Unido), os EUA, Canadá e Brasil, o perfil dos nossos emigrantes alterou-se ao longo deste século.