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June 12, 2020

O que é o fascismo?


Agora que o conceito se usa a torto e a direito: os fascistas e os antifas (como lhes chamam os que querem troçar deles) recuperei aqui parte de um post do outro blog, escrito a propósito do projecto de museu do Salazar.

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Extrema-direita existe no vocabulário desde há dois séculos e não se resume ao fascismo, termo que aparece em 1918.

O fascismo é uma forma de extrema-direita, pois como todas as extrema-direitas exige, no interior, uma regeneração da comunidade entendida como uma unidade orgânica e, no exterior, uma mudança na ordem geopolítica. Mas o fascismo participa da extrema-direita radical que quer ir mais longe até à criação de um 'homem novo', liberto de todos os traços da sociedade liberal forjada no séc. XIX.

Ultra-direita não tem nenhuma mais-valia ideológica. É um termo de origem policial que indica que se trata de um grupo de extrema-direita que utiliza a violência.

Direita-dura é um vocábulo não-histórico que se refere a uma direita radicalizada mas que não apresenta os dois pontos da extrema-direita citados.

Direita radical é uma expressão usada por investigadores que pensavam a expressão extrema-direita como demasiado polémica.

Nacional-populismo começou por qualificar os regimes latino-americanos mas depois abriu-se. Essa corrente que o abre pensa que o país está em decadência por causa das elites e vê o regime regenerado por um salvador em contacto directo com o povo através de referendos.

Nacional-populismo não é sinónimo de extrema-direita, pois no campo político como em outros há muitos projectos de Estado: realistas, totalitários, etc. É uma corrente da extrema-direita. É diferente de neopopulismo, termo que aparece na sequência do 11 de Setembro de 2001 e que afirma ser precisa uma governança autoritária, num quadro constitucional constante para preservar as liberdades dos europeus contra o novo fascismo que seria o islamismo.

Há várias correntes populistas. A comparação entre o fascismo e, mais ainda, o nazismo e os islamitas, é polémica porque os dois fenómenos não são racionalmente assimiláveis entre eles.


De onde vem a confusão?
Há dois níveis de resposta, um histórico e outro político. Historicamente, a extrema-direita aparece no século XIX que é o da edificação dos Estados-nação mas, também, das revoluções industriais, impérios coloniais e da primeira globalização económica. A extrema-direita é uma reacção a essas transformações, procurando construir uma sociedade homogénea a cada etapa da globalização. Essas dinâmicas do século XIX tornam difíceis a gestão das massas e o vocábulo extrema-direita enriquece-se de termos nesse período: nacionalismo (1798), nacionalidade(1825), imigração(1876), anti-semitismo(1879), racismo(1892), etnia(1896), xenofobia(1901), islamofobia(1910), europeísmo(1915)...

Nacional-populismo nasce da guerra de 1870, fascismo da guerra de 14-18, neopopulismo do 11 de Setembro de 2001, etc. Como o processo é complexo e a memória actual remonta, no máximo, até à 2ª Guerra mundial, tudo é esquecido e reduzido à equação, extrema-direita = regimes de extrema-direita dos anos 30-40 e, é aqui que surge o nível político.

Os 'pró' e os 'anti', extrema-direita, têm interesse em reduzi-la aos Estados fascistas e aos seus balanços genocídas: os 'pró' afirmam, 'é evidente que não temos nada a ver com esses regimes' (entre os intelectuais reacionários é de bom tom fazer troça do anti-fascismo de opereta) e os 'anti' afirmam que a escolha é entre eles e Auschwitz.

A extrema-direita, não é redutível, nem ao fascismo nem à ultra-direita, etc., mas também não é um simples soberanismo. O projecto de Salvini ou de Le Pen não é o de um Estado soberanista mas o de uma sociedade regenerada segundo os seus princípios.


Nicolas Lebourg, membro CEPEL - Centro de Estudos Políticos Latino-americanos da Universidade de Monpellier (tradução minha de excertos da entrevista do autor à revista marianne, nº1172)

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Segundo a categorização deste autor, Salazar seria um político da Direita-dura (radical mas sem exigência de regeneração interior/orgânica e exterior/geo-política) e o que hoje chamamos de neopopulista, pois defendia uma governança autoritária, num quadro constitucional constante para preservar as liberdades contra os comunistas que via como totalizadores, inimigos dos valores europeus.

May 15, 2020

Intervalo - fim da parte síncrona



Hoje estive a explicar um conceito. Expliquei, dei exemplos -este tempo de pandemia em que nos encontramos é fértil de exemplos de dilemas éticos- e depois perguntei se tinham percebido. Sim, sim, sim, sim... 20 sins de enfiada. Ok, então, vou expor uma situação para aplicarem o conceito - numa situação tal, usando o conceito tal, fulano de tal, agiria assim ou assado? A resposta correcta, aplicando o conceito é, 'assim'. Resposta deles; assado, assado, assado... ahah   ... oh meu deus! Expliquei aquilo mal para todos se enganarem na aplicação do conceito ao caso em apreço? Em vez de dizer que a resposta está errada, resolvi fazer perguntas compartimentadas, dividir a situação/problema nos vários passos que o agente deu e pensar cada um à luz do conceito. Aí foram sempre respondendo bem e no fim deram-se conta que tinham respondido mal, de início.
Conclusão: o facto de se perceber uma ideia em geral não significa que se tenha aprendido a pô-la em prática, que dizer a saber instrumentalizá-la para apreciar os contornos de um problema da realidade ontológica. Para isso é necessário saber problematizar, 'ver' o problema nas suas partes e no modo como se interseccionam, uma analítica à moda cartesiana, para no fim se ter uma perspectiva global da situação. É por isso que aprender lógica não ensina ninguém a pensar, apenas a ver se, do ponto de vista formal, aqueles pensamentos são coerentes, mas coerência e solidez são realidades distintas. Portanto, explicar os conceitos sem fazer o processo analítico do seu uso nas situações da realidade em que podem aplicar-se (induzir nos alunos esse processo mental, com perguntas e objecções), é pouco. Não chega.