Certamente haverá complexidades no caso de Assange que desconhecemos, mas o principal está à vista de todos:
1. Assange publicou documentos reveladores de crimes que membros do exército americano cometiam, então, no Iraque, com o conhecimento das autoridades;
2. A própria invasão do Iraque violou os princípios da Carta das NU e constituiu uma guerra ilegal com recurso a falsas justificações - muito parecidas com as da Rússia actualmente;
3. Nenhum dos autores dos crimes, identificados nos documentos, foi perseguido ou, sequer, acusado: a única pessoa acusada, perseguida e vítima de tortura psicológica e física há mais de dez anos foi o jornalista que os divulgou.
Boris Johnson fala de crimes de guerra na Ucrânia e de ditadura na Rússia, e bem, mas esquecendo que a liberdade de imprensa é um dos pilares de um Estado democrático.
Biden também fala de crimes de guerra na Ucrânia e de ditadura na Rússia, e bem, mas finge que não sabe que o exército americano participou em crimes de guerra numa guerra criminosa e que denunciar crimes de guerra não é violar segredos de Estado, é denunciar criminosos. Para não falarmos de que Assange nem sequer é americano de maneira que não está obrigado a guardar segredos americanos.
A ética não é indiferente à solidariedade e à influência dos Estados democráticos nos rumos do mundo, como se vê tão claramente no exemplo dos dirigentes da Ucrânia e no seu efeito, não só entre os ucranianos, mas entre a maioria dos povos e, a prisão, maus tratos e condenação de um jornalista não é indiferente à sobrevivência da democraticidade de um Estado.