July 09, 2025

Sr. Ministro, Isto é ridículo e uma má política

 

VOZ AOS PAIS

Fernando Alexandre referiu que a não existência de regulação para a disciplina levou a situações em que se convidaram associações externas para irem às escolas e que geraram “mal-estar” nalgumas situações. Recusou-se a dar exemplos concretos, mas garantiu que chegaram vários relatos à provedoria de Justiça. E também por isso, o Ministério decidiu agora estabelecer regras sobre esta matéria e das entidades externas que são convidadas pelas escolas para fazerem apresentações aos alunos.

A decisão sobre quem vai ou não aos estabelecimentos de ensino terá de envolver o Conselho Geral de cada agrupamento e terá por essa via a participação dos pais. Mas estes não se vão sobrepor à decisão dos professores, garantiu Homem Cristo. A elaboração e aprovação dos planos de turma para a disciplina de Cidadania também terá a participação dos encarregados de educação.e decorre esta manhã no Ministério da Educação.

Expresso


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1º - A pluralidade de vozes na escola deve ser encorajada e não censurada e reprimida. Calculo que as associações que causaram mal-estar aos pais (extremistas religiosos?) tenham sido associações de gays ou outros dessa sigla LGBT. Não cabe aos pais a educação escolar que é muito diferente da educação parental. Se formos ver que pais concordam com que temas ou exposições ou palestras ou testemunhos ou o que seja, acaba-se com a educação escolar, porque há sempre pais que têm opiniões contra a liberdade de educação.

Hoje-em-dia há pais que vão às escolas exigir que não se ensine o evolucionismo ou o heliocentismo com a ideia de que a Terra é uma esfera ou a Filosofia da Religião "porque são muito religiosos" ou o sistema reprodutor porque são... parvos? 

Há muitos anos, mais de 20, um colega levou lá à escola o Otelo Saraiva de Carvalho para falar da revolução. Numa turma uns alunos perguntaram-me se achava que deviam ir, porque os pais eram contra o Otelo das FPs-25. Disse-lhes que sim, porque o Otelo das FPs-25 também é o Otelo do 25 de Abril e que talvez não voltassem a ter outra oportunidade de poder falar e fazer perguntas a um dos capitães de Abril. Se fosse pelos pais, nenhum deles iria, porque os pais não gostavam do Otelo ou, se eu fosse como o ministro, diria, 'não, se os vossos pais não gostam, não devem ir'. Os pais é que são os especialistas em educação escolar e nos fins da educação pública? Os pais não têm um ponto de vista impessoal, objectivo e global, pelo contrário, muitos são culturalmente vesgos e redutores e não sabem nada de educação escolar.

Em contrapartida, há meia dúzia de anos foi lá à escola uma jornalista muito conhecida e que está em primeiro plano nos noticiários. Nenhum EE se manifestou contra (sim, os pais manifestam-se e nós sabemos muitas vezes se gostam ou não de quem lá vai). No entanto, eu fui assistir àquilo -porque me pediram para levar a turma do 12º ano- e poucas vezes vi uma palestra ou cena ou lá o que aquilo foi tão anti-pedagógica e medíocre. Tive depois de perder meia aula para desfazer barbaridades que ela para lá disse e fez. Mas os pais acham sempre que o problema é alguém falar de sexo (isso apesar dos filhos se fecharem todos os dias nos quartos e passarem horas em sites pornográfios)

Ninguém, nas escolas, leva lá pessoas para deseducarem os alunos, que é o que esta medida dá a entender a todos os pais: os professores querem prejudicar os alunos com as pessoas que levam às escolas e nós vamos impedir obrigando-os a pedir autorização aos pais.

2º - As pessoas que se levam às escolas (na minha escola há professores muito activos que organizam todo o tipo de palestras, saraus de música, testemunhos, exposições, etc.) são aprovadas pela direcção e pelo CP. 
Não vão lá em segredo, tudo é publicitado e quase sempre com grande avanço (tirando alguns, poucos, casos, em que a oportunidade de levar alguém que se sabe estar na zona e nesse caso é mais em cima da hora), até para arranjarem professores que queiram levar lá as turmas e não deixarem os auditórios vazios. E mesmo quando se levam pessoas à sala de aula da turma, não é em segredo. Tudo é público. É obrigatório preencher papéis e ficar registado o que se fez com cada turma. É óbvio que, quando essas actividades não são apropriadas, a direcção ou o CP intervêm e não há nenhuma necessidade de reunir o CG.

Agora, se for preciso reunir o CG de cada vez que alguém decide levar alguém à escola, não vai lá quase ninguém, porque o CG não é um orgão que esteja de plantão na escola ou que seja constituído por pessoas que não trabalham e podem ser reunidas em cima da hora em qualquer dia.

E a ideia de os professores terem de pedir autorização, como crianças, de cada vez que querem levar à escola alguém, é negativa em termos gerais acerca do que deve ser a educação escolar plural e a autonomia das escolas. Se os pais querem pôr os filhos em madrassas amordaçados que os levem para o ensino particular.

Esta é uma medida para 'ganhar os pais' à maneira da Lurdes Rodrigues, à custa da liberdade e autonomia pedagógicas, que vai pôr os pais como controladores dos professores, da sua autonomia e até do seu profissionalismo. Isto é andar para trás e vai pagar-se mais à frente - como se pagaram todas as ideias estúpidas da Rodrigues. Ainda se continua a pagar.


2 comments:

  1. A medida mais acertada era acabar com a disciplina.

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    1. Idem. Os temas da disciplina são tratados em disciplinas por pessoas preparadas para os trabalhar. Mas a questão de por os pais a decidir curriculos escolares e a sancionar professores é uma ideia de extremistas religiosos e é evidente que vai ter maus resultados, mas os governantes hoje-em-dia parece não terem noção de nada. Vêem tudo de um ponto de vuista pessoal.

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