Quando Isaac Newton dividiu a luz branca em raios coloridos, em 1666, não encontrou o cor-de-rosa. O laranja e o púrpura estavam lá, juntamente com o vermelho, o amarelo, o verde e o azul, pelo que, para os cientistas, essas eram as verdadeiras cores.
Pink: The History of a Color
By Michel Pastoureau (Translated from French by Jody Gladding)
Princeton University Press 192pp
By Michel Pastoureau (Translated from French by Jody Gladding)
Princeton University Press 192pp
O cor-de-rosa começou a aparecer em corantes e tintas no século XIV - relativamente tarde em comparação com outras cores - e rapidamente se tornou moda. Um documento único, Prammatica del Vestire, sobreviveu para nos informar sobre o guarda-roupa de todas as mulheres das classes abastadas que viviam em Florença entre 1343 e 1345.
Um inventário detalhado feito por advogados para implementar as recentes leis sumptuárias e aplicar impostos sobre luxos, mostra que os tintureiros florentinos estavam a fazer uma gama de rosas, bem como os vermelhos habituais. É provável que trabalhassem sobretudo com a madder, o primeiro corante conhecido, misturando-a com quantidades de giz, urina, vinagre, tártaro e alúmen. Para os tecidos mais caros, utilizavam o kermes, extraído dos corpos de insectos recolhidos das folhas dos carvalhos. Eram necessários muitos insectos esmagados para obter a quantidade necessária de sumo. Outra fonte era o pau-brasil vermelho, importado para a Europa da Índia, Sri Lanka e Sumatra.
A madeira era reduzida a pó (um processo laborioso) e depois mergulhada em água durante muito tempo. A cor-de-rosa era tão popular que, quando os portugueses descobriram no Novo Mundo árvores tropicais cuja madeira possuía as mesmas propriedades do pau-brasil, deram-lhe ao país que colonizaram o nome delas.
O primeiro tratado europeu sobre pintura, o Libro dell'Arte de Cennino Cennini, data do início do século XV e discute a mistura de pigmentos necessária para obter tons carnudos. Para os frescos, recomenda-se uma combinação de ocre vermelho e cal, conhecida como cinabrese (não confundir com o cinábrio, que os romanos utilizavam), com gema de ovo adicionada como aglutinante. Segundo Cennini, as gemas dos ovos postos na cidade, por serem mais pálidas, são adequadas para os rostos dos jovens, enquanto os ovos colhidos no campo dão uma tonalidade mais escura, adequada para os homens mais velhos e mais rosados. Dependendo da finura dos pigmentos, o rosa resultante será suave e brilhante ou baço e áspero. Pastoureau salienta que, muitas vezes, existia um desfasamento entre o que os pintores diziam e o que faziam, uma vez que não queriam partilhar os seus segredos. Um belo painel pintado por Cennini em Siena, Natividade da Virgem (c 1390-1400), mostra uma figura vestida inteiramente de cor-de-rosa.
Veneza foi a capital indiscutível da cor na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Cidade comercial importadora de corantes do Oriente, foi também palco de pintores de renome como Bellini, Giorgione, Ticiano, Tintoretto e Veronese.
Na era do Romantismo, o cor-de-rosa assumiu associações femininas e, na década de 1820, era uma cor que os homens já não usavam. Muito rapidamente, deixou de estar na moda. No início do século XX, o cor-de-rosa estava em grande parte escondido, servindo principalmente como cor para a roupa interior das mulheres; se aparecesse numa peça de vestuário exterior, seria de um tom baço, sem nada de sedutor. À medida que o século avançava, o cor-de-rosa foi-se tornando ainda mais discreto: passou a ser uma cor para meninos e meninas, e depois só para meninas. A boneca Barbie, lançada em 1959, contribuiu para este processo.
A madeira era reduzida a pó (um processo laborioso) e depois mergulhada em água durante muito tempo. A cor-de-rosa era tão popular que, quando os portugueses descobriram no Novo Mundo árvores tropicais cuja madeira possuía as mesmas propriedades do pau-brasil, deram-lhe ao país que colonizaram o nome delas.
O primeiro tratado europeu sobre pintura, o Libro dell'Arte de Cennino Cennini, data do início do século XV e discute a mistura de pigmentos necessária para obter tons carnudos. Para os frescos, recomenda-se uma combinação de ocre vermelho e cal, conhecida como cinabrese (não confundir com o cinábrio, que os romanos utilizavam), com gema de ovo adicionada como aglutinante. Segundo Cennini, as gemas dos ovos postos na cidade, por serem mais pálidas, são adequadas para os rostos dos jovens, enquanto os ovos colhidos no campo dão uma tonalidade mais escura, adequada para os homens mais velhos e mais rosados. Dependendo da finura dos pigmentos, o rosa resultante será suave e brilhante ou baço e áspero. Pastoureau salienta que, muitas vezes, existia um desfasamento entre o que os pintores diziam e o que faziam, uma vez que não queriam partilhar os seus segredos. Um belo painel pintado por Cennini em Siena, Natividade da Virgem (c 1390-1400), mostra uma figura vestida inteiramente de cor-de-rosa.
Veneza foi a capital indiscutível da cor na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Cidade comercial importadora de corantes do Oriente, foi também palco de pintores de renome como Bellini, Giorgione, Ticiano, Tintoretto e Veronese.
No Renascimento, surgiu um debate sobre os méritos relativos (“nobreza” é a palavra utilizada aqui) do desenho e da pintura. A cor, diziam alguns, cativava o olhar inculto e apelava aos sentidos, enquanto o traço se dirigia ao intelecto. Os partidários da cor defendiam a sua capacidade de transmitir a natureza viva das figuras e, a este respeito, os tons cor-de-rosa em que a carne era representada eram fundamentais. Desde o início do século XVI, os pintores utilizam cada vez mais o cor-de-rosa.
Nos têxteis, a moda do cor-de-rosa atingiu o seu auge entre 1750 e 1780, especialmente em França. Os rosas fortes estavam disponíveis para os compradores da classe média, levando as elites a procurar os tons pastel, mais caros. Charles Joseph de Ligne, marechal do exército do Sacro Império Romano-Germânico, foi apelidado de “o príncipe cor-de-rosa”, um termo que se referia não só ao seu gosto pelo cor-de-rosa no mobiliário e no vestuário, mas também ao seu optimismo e bom humor. Simbolicamente, o cor-de-rosa passou a indicar alegria de viver. Madame de Pompadour gostava de combinar os novos rosas com azuis e cinzentos, muitas vezes às riscas, e em Sèvres, um delicado tom de rosa pálido com um toque de laranja foi aperfeiçoado para a porcelana.
Nos têxteis, a moda do cor-de-rosa atingiu o seu auge entre 1750 e 1780, especialmente em França. Os rosas fortes estavam disponíveis para os compradores da classe média, levando as elites a procurar os tons pastel, mais caros. Charles Joseph de Ligne, marechal do exército do Sacro Império Romano-Germânico, foi apelidado de “o príncipe cor-de-rosa”, um termo que se referia não só ao seu gosto pelo cor-de-rosa no mobiliário e no vestuário, mas também ao seu optimismo e bom humor. Simbolicamente, o cor-de-rosa passou a indicar alegria de viver. Madame de Pompadour gostava de combinar os novos rosas com azuis e cinzentos, muitas vezes às riscas, e em Sèvres, um delicado tom de rosa pálido com um toque de laranja foi aperfeiçoado para a porcelana.
A partir da década de 1770, “o cor-de-rosa parecia invadir tudo”, afirma Pastoureau. Pintores, decoradores, tintureiros, alfaiates e modistas esforçaram-se por produzir tonalidades e combinações variadas. O bestseller de Goethe, O Jovem Werther (1774), lançou a moda dos vestidos brancos enfeitados com fitas cor-de-rosa (e entre os homens, dos casacos azuis com calças amarelas). Werther diz que quer ser enterrado com as fitas cor-de-rosa de Lotte no bolso.
Na era do Romantismo, o cor-de-rosa assumiu associações femininas e, na década de 1820, era uma cor que os homens já não usavam. Muito rapidamente, deixou de estar na moda. No início do século XX, o cor-de-rosa estava em grande parte escondido, servindo principalmente como cor para a roupa interior das mulheres; se aparecesse numa peça de vestuário exterior, seria de um tom baço, sem nada de sedutor. À medida que o século avançava, o cor-de-rosa foi-se tornando ainda mais discreto: passou a ser uma cor para meninos e meninas, e depois só para meninas. A boneca Barbie, lançada em 1959, contribuiu para este processo.

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