Redes internacionais online cativam crianças e jovens para conteúdos neonazis e islamismo radical. E há menores a ganharem dinheiro com a distribuição de conteúdos hardcore. Estes são dados preliminares do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI)
O fenómeno é descrito no mais recente Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), ainda numa versão provisória, a que o Expresso teve acesso.
Segundo o documento, a propaganda jiadista difundida na Internet produz já conteúdos com recurso a ferramentas de Inteligência Artificial, disseminando-se em plataformas de gaming, especialmente vocacionadas para um público "muito jovem". As autoridades especificam mesmo que este modus operandi "concorre para a radicalização de indivíduos cada vez mais novos, incluindo pré-adolescentes, realidade também verificada em Portugal". As vítimas são igualmente "indivíduos vulneráveis".
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De acordo com as autoridades, a propaganda online de "matriz terrorista", "assente no apelo explícito à violência", tem "conduzido à radicalização muito rápida de indivíduos cada vez mais jovens" e, "em alguns países europeus, à preparação" de ações violentas. Neste último item, não é o caso de Portugal.
Segundo a PJ, a presença online de "líderes carismáticos que atuam como verdadeiros influencers" que lideram "novos movimentos nacionalistas de extrema-direita" são mais apelativos aos jovens do que os tradicionais movimentos skinheads de supremacia branca e matriz neonazi.
A Judiciária alerta ainda que "as plataformas online têm sido o palco privilegiado de atuação dos movimentos descentralizados de extrema-direita de matriz aceleracionista e/ou satânica, onde, através de uma cultura de comunicação através de meme, recrutam e radicalizam indivíduos cada vez mais jovens, muitos deles com idades inferiores a 16 anos". E conclui: "A evolução deste fenómeno nos últimos anos impõe que a ameaça representada por eventuais atores solitários de extrema-direita, sobretudo menores de idade, não possa ser desprezada".
PORNOGRAFIA FEITA POR MENORES
O RASI destaca ainda outro fenómeno que envolve os mais jovens. O da criminalidade sexual, nomeadamente o abuso sexual de crianças cometido por ofensores menores, com idades entre os 12 e os 16 anos.
E refere também a presença de menores em crimes de pornografia com recurso a aplicações como o Discord e o WhatsApp, utilizadas para a partilha de ficheiros de cariz sexual e pornográfico. O documento frisa que estão referenciados grupos de WhatsApp criados por crianças entre os 10 e 13 anos em que se partilham conteúdos multimédia de pornografia e de violência extrema. Os casos foram já reportados aos Tribunais de Família e Menores.
O RASI salienta que em 2024 foi possível identificar uma "elevada prevalência" da distribuição de pornografia em canais e plataformas como o Instagram, Telegram ou YouTube, bem como "conteúdos de abuso e exploração sexual de crianças na Darknet". Nestes casos, os autores dos crimes são adultos. Existem casos identificados pelos serviços secretos e Polícia Judiciária de crianças e jovens portugueses a serem aliciados em grupos online internacionais por neonazis e também por radicais islâmicos.
de abuso e exploração sexual de crianças na Darknet". Nestes casos, os autores dos crimes são adultos.
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Um menor de 18 anos não pode comprar tabaco, não pode comprar álcool, não pode frequentar bares e discotecas com consumo de álcool, mas pode, logo a partir dos 8 ou 10 anos, com um telemóvel na mão, frequentar locais de criminosos, de terroristas, de pedófilos, de pornografia hardcore e violenta, de abusadores sexuais, de traficantes de toda a espécie de crimes violentos e terroristas? Alguém me explique isto como se tivesse três anos.
Há pouco tempo saiu um estudo que estabelece uma relação entre a exposição continuada à violência dos media e a prática de violência entre os estudantes chineses.
Outros estudos ocidentais mostram que a exposição repetida à violência nos media pode resultar na dessensibilização à violência no mundo real (Drabman & Thomas, citação 1974). A dessensibilização pode ser entendida como uma diminuição da resposta fisiológica, emocional e cognitiva à violência no mundo real e pensa-se que é um processo adaptativo para ajudar os indivíduos a lidar com a angústia resultante do confronto com a violência.Nos EUA, 60 anos de estudos sobre a relação entre a violência na TV e a prática de violência com centenas de estudos de investigação e vários relatórios governamentais fornecem provas conclusivas de que a violência dos meios de comunicação social pode ter efeitos nocivos nos telespectadores, sobretudo nos mais novos.
As primeiras estimativas indicavam que uma criança ou adolescente americano médio via 1.000 homicídios, violações e agressões violentas por ano, só na televisão (Rothenberg, 1975). Uma revisão posterior da Associação Americana de Psicologia coloca esse número em 10.000 por ano - ou aproximadamente 200.000 na época em que a criança termina o ensino médio (Huston et al., 1992).
A violência na TV é banalizada, higienizada e os que a praticam são por vezes, 'os bons dos da fita' que servem de modelo de comportamento para os jovens. A TV por cabo tem uma enorme percentagem de filmes e programas violentos e hardcore.
Ora, as redes sociais são muito mais violentas e sem o mínimo do controlo que as TVs têm. Os adolescentes passam uma média de 6 a 8 horas por dia nas redes sociais.
Que pais deixariam os seus filhos ir para um local cheio de violadores, pedófilos, decapitadores, assassinos, nazis, durante 6 a 8 horas por dia, todos os dias, para serem educados por esses indivíduos? É que é isso o que se passa com milhões de crianças e adolescentes no mundo de hoje. Já não são educadas pelos pais e têm mais afinidade com pessoas ou bots de IA online que com as suas próprias famílias.
Quando é que se proíbe a frequência de redes sociais até uma certa idade da mesma maneira que se proíbe o consumo de álcool ou drogas e se responsabilizam os pais das crianças e adolescentes que têm telemóveis com acesso a redes sociais?
Não há escola, nem estratégia educativa capaz de contrariar uma exposição sistemática, durante 6 a 8 horas por dia, ao conteúdo violento e estupidificante das redes sociais e não há sociedade capaz de controlar a violência de pessoas que desde os 8 ou 10 anos de idade são endoutrinadas para o crime e a extrema violência.
Isto não é um assunto urgente a tratar?
Ademais, penso que uma parte grande deste incitamento à violência nazi e islamita radical tem por detrás os suspeitos do costume que se usam das redes sociais para desagregar as sociedades europeias.
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