Aliás, é perfeitamente possível – atrevo-me até a dizer que é uma especialidade nacional – combater alegados corruptos sem tocar na cultura de corrupção. Posso dar-vos um exemplo. Na quarta-feira à noite, Hugo Soares foi à SIC Notícias falar do processo Tutti-Frutti. Esteve impecável na defesa do partido, celebrando o facto de Luís Newton ter suspendido o seu mandato de deputado. A certa altura, a jornalista Nelma Serpa Pinto assinalou que Newton continuava à frente da Junta de Freguesia da Estrela. Hugo Soares respondeu: “Não faço ideia, não sei qual é a sua decisão sobre essa matéria. Ela não me diz respeito. A mim, diz-me respeito a organização do grupo parlamentar, e essa está resolvida.” É falso. Hugo Soares não é apenas líder parlamentar. É também secretário-geral do PSD e a pessoa mais importante na estrutura do partido após Luís Montenegro. Tudo o que se passa no PSD diz-lhe respeito.
Esta sonsice é uma das faces da cultura de corrupção. Lembram-se de José Sócrates em 2014? Deve ter sido duro para ele ver a rapidez com que António Costa ergueu um muro à sua volta para proteger o PS. Como quem diz: “Foi ele – nós não temos nada a ver com isso.” Evidentemente, era impossível ter sido só ele. A cultura de corrupção é profundamente insidiosa porque descarta os seus melhores filhos para continuar a sobreviver. Se não percebermos isto, não percebemos nada.
JMT in publico.pt
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