E contrário à solução dos problemas. Vem isto a propósito de hoje, numa aula, porque veio à conversa o caso das pessoas que nunca examinam os seus princípios e as suas crenças básicas, dei o exemplo dos comunistas europeus, nomeadamente os portugueses que nos anos 60, depois de se saber que o regime soviético não era o paraíso que a propaganda dizia mas, pelo contrário, era um sistema brutal com campos de concentração e miséria moral, não foram capazes de examinar as suas crenças básicas e continuaram a afirmar dogmaticamente que o comunismo soviético era o futuro radioso da humanidade.
Um aluno perguntou como é que se soube disso porque nunca tinha ouvido falar em nada. Disse-lhe que houve um escritor russo, mais tarde dissidente, prisioneiro desses campos que conseguiu passar para fora da Rússia um livro, que é um relatório documentado da história da União Soviética. Perguntou-me o nome do livro e disse-lhe, "O Arquipélago do Gulag" e expliquei que 'gulag' é o nome que davam aos campos de concentração. Perguntou-me então, 'esse livro vai deixar-me triste e perturbado emocionalmente?' - Sim, certamente que vai. 'Ah, então não quero saber porque depois não sei como lidar com essas informações tristes'. - Mas se nunca se informa do que o perturba emocionalmente, vive uma vida iludido e vulnerável à desinformação. Para resolver os problemas da realidade tenho que conhecer os elementos reais dos problemas.
Bem, a questão é que cada vez mais este tipo de atitude é comum nos alunos. Se passamos um filme com alguns anos, onde as atitudes dos homens são obviamente machistas, as raparigas ficam perturbadas e perguntam porque é que não vemos filmes mais actuais onde não há essas atitudes, Como se essa realidade tivesse deixado de existir. Porém, não querem lidar com essa realidade; se o filme tem uma cena de violência e não os avisamos, há logo queixas de incómodo emocional.
Esta moda emotivista que advém do exagero de se pôr as emoções como critério de realidade e de fronteira do que é permitido falar, que já se manifesta há um bom tempo nos EUA, nomeadamente nas universidades, está a chegar cá. É profundamente anti-filosófica e impede a solução dos problemas.
bússola e não "bússula"
ReplyDeleteJoão Moreira
Bom, não conheço jovens que detestem a violência nos filmes, até porque abunda nas fitas hodiernas.
ReplyDeleteE entendo quem não queira assistir a mais violência, quem não deseje ver a vida como ela era nos gulags. No caso do seu aluno, não sei. Mas conheço gente que recusa esse género de coisas e entendo-lhes os motivos.
Se acha anti filosófico, por que não passa o filme nas aulas e pede uma reflexão sobre?! Se esperar que vejam por sua conta, verão dois ou três. Mas isto digo eu que estou fora do sistema e tendo a desculpar quase toda a gente.
Boa semana
O que é anti-filosófico não é não ler um documento ou não ver um filme, mas recusar a realidade se for um incómodo emocional.
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