January 10, 2025

PSD não se sente confortável com a autonomia das mulheres

 

Não espanta este chumbo. Todos nos lembramos daquela iniciativa de inscrever na Constituição que o 'lugar' das mulheres é em casa a ter filhos. Essa iniciativa tem lá grandes nomes do PSD e do CDS. Gente influente muito católica que segue as instruções do Papa, que disse há pouco tempo, na Universidade de Louvain na Bélgica, que o lugar das mulheres no Povo de Deus é ser uma filha, uma irmã, uma mãe. A feminilidade fala-nos de acolhimento fecundo, de cuidado e de dedicação ao longo da vida. 

O PSD limitou-se a falar uma única vez durante as duas horas e meia de debate, pela voz de Andreia Neto, para escorar o seu voto contra em torno do argumento de que as alterações ao regime da IVG contrariam o espírito da pronúncia dos portugueses em 2007, quando responderam à pergunta do referendo. Que Andreia Neto fez questão de ler: "Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?" Não sei quem é esta deputada que pensa ser muito espertinha mas só mostra desonestidade ao ler o texto do referendo: pois que podíamos nós escrever no boletim de voto? Pôr a cruz no sim, mas escrever à margem que queríamos um prazo maior, invalidando o voto? Ou votar contra por ter um prazo curto, como era a intenção de quem o escreveu e ficarmos com uma lei absolutamente contra o aborto? Era essa a armadilha. E por acaso no referendo vem escrito que a lei vai ser acompanhada de paternalistas, machistas que pressionam as mulheres a desistir, falsos objectores de consciência?

Lembrete a mim mesma: não voltar a votar no PSD, a não ser que se comprometa, por escrito, a não penalizar as mulheres pelo seu machismo medieval.

Alteração às regras do aborto chumbadas. PSD rejeita ir além do referendo


No debate, PS pediu ao PSD que se “reencontre”, lembrando os sociais-democratas que concordam com o alargamento do prazo legal. PSD contra alterações à lei que resultou do referendo de 2007.

Porque há uma "discriminação sócio-territorial" que impede, por exemplo, mulheres dos Açores, Alentejo e regiões do interior de acederem à IVG; porque o prazo de 10 semanas "é o mais restritivo da Europa e desconsidera as recomendações da OMS"; e porque há um "paternalismo" excessivo na imposição do prazo de reflexão de três dias e da presença de dois médicos para a certificação do processo.

"Olhando para os vossos congéneres europeus, ninguém percebe o que leva o PSD, institucionalmente falando - porque sabemos a posição de Leonor Beleza, Teresa Leal Coelho, Paula Teixeira da Cruz, Rui Rio e até de Passos Coelho até certa data, e muitas pessoas do PSD -, em insistir numa história de décadas sempre contra a autonomia das mulheres. Como é possível um partido social-democrata, personalista, ser contra a configuração de um direito tal como foi legalizado em França por um governo de centro-direita?", questionou Isabel Moreira. "Onde está a extrema-direita está o ataque aos direitos sexuais e reprodutivos", vincou, lembrando que na Europa os únicos países que não permitem o aborto são a Hungria e a Polónia.




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