Não espanta este chumbo. Todos nos lembramos daquela iniciativa de inscrever na Constituição que o 'lugar' das mulheres é em casa a ter filhos. Essa iniciativa tem lá grandes nomes do PSD e do CDS. Gente influente muito católica que segue as instruções do Papa, que disse há pouco tempo, na Universidade de Louvain na Bélgica, que o lugar das mulheres no Povo de Deus é ser uma filha, uma irmã, uma mãe. A feminilidade fala-nos de acolhimento fecundo, de cuidado e de dedicação ao longo da vida.
O PSD limitou-se a falar uma única vez durante as duas horas e meia de debate, pela voz de Andreia Neto, para escorar o seu voto contra em torno do argumento de que as alterações ao regime da IVG contrariam o espírito da pronúncia dos portugueses em 2007, quando responderam à pergunta do referendo. Que Andreia Neto fez questão de ler: "Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?" Não sei quem é esta deputada que pensa ser muito espertinha mas só mostra desonestidade ao ler o texto do referendo: pois que podíamos nós escrever no boletim de voto? Pôr a cruz no sim, mas escrever à margem que queríamos um prazo maior, invalidando o voto? Ou votar contra por ter um prazo curto, como era a intenção de quem o escreveu e ficarmos com uma lei absolutamente contra o aborto? Era essa a armadilha. E por acaso no referendo vem escrito que a lei vai ser acompanhada de paternalistas, machistas que pressionam as mulheres a desistir, falsos objectores de consciência?Alteração às regras do aborto chumbadas. PSD rejeita ir além do referendo
No debate, PS pediu ao PSD que se “reencontre”, lembrando os sociais-democratas que concordam com o alargamento do prazo legal. PSD contra alterações à lei que resultou do referendo de 2007.
Porque há uma "discriminação sócio-territorial" que impede, por exemplo, mulheres dos Açores, Alentejo e regiões do interior de acederem à IVG; porque o prazo de 10 semanas "é o mais restritivo da Europa e desconsidera as recomendações da OMS"; e porque há um "paternalismo" excessivo na imposição do prazo de reflexão de três dias e da presença de dois médicos para a certificação do processo.
"Olhando para os vossos congéneres europeus, ninguém percebe o que leva o PSD, institucionalmente falando - porque sabemos a posição de Leonor Beleza, Teresa Leal Coelho, Paula Teixeira da Cruz, Rui Rio e até de Passos Coelho até certa data, e muitas pessoas do PSD -, em insistir numa história de décadas sempre contra a autonomia das mulheres. Como é possível um partido social-democrata, personalista, ser contra a configuração de um direito tal como foi legalizado em França por um governo de centro-direita?", questionou Isabel Moreira. "Onde está a extrema-direita está o ataque aos direitos sexuais e reprodutivos", vincou, lembrando que na Europa os únicos países que não permitem o aborto são a Hungria e a Polónia.
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