October 18, 2024

Alunos imigrantes adolescentes precisavam de um portátil com internet assim que chegassem às escolas

 


Este ano entraram numa das minhas turmas do 11º ano dois alunos imigrantes, um venezuelano, outra estoniana. Não só nunca não tiveram Filosofia como nunca tinham ouvido falar do assunto. Falta-lhes todo o 10º ano da disciplina. 

O aluno venezuelano percebe mais ou menos o que digo, se falar devagar, mas a rapariga da Estónia, não percebe praticamente nada, porque as línguas latinas são-lhe completamente estranhas e está cá há um mês e meio.

Trabalho com esse alunos, em parte, por email. Enviei-lhes links para alguns vídeos do YouTube com explicações acessíveis sobre o que é a Filosofia, quando surgiu, o que investiga, quais os temas, etc. Comecei o programa do 11º pelo tema da Estética (as Aprendizagens Essenciais fora mal pensadas e atiraram para o 11º ano temas do 10º ano da Acção Humana) e também enviei uns links com uns vídeos sobre o assunto.

Para além disso, escrevi resumos das aulas (nunca faço isso nem dou resumos ou apontamentos aos alunos, essa é uma das tarefas importantes que têm de fazer para aprenderem a estruturar o seu próprio pensamento) e deixo-os tirar fotografia desses resumos e estar com o telemóvel para traduzirem e poderem ir seguindo a aula - porque é evidente que, mesmo que fosse capaz de dar a aula em inglês (o que não sou, não tenho proficiência suficiente do inglês falado para dar uma aula de Filosofia nessa língua) não o poderia fazer, porque estamos em Portugal, com alunos portugueses, no ensino da escola pública portuguesa.

Na próxima semana a turma tem um teste. Esses dois alunos vão ter um teste diferente, com escolhas múltiplas, questões de identificação, etc. Só uma das questões é igual ao resto da turma e requer escrever. Como temos estado a treinar fazer apreciações estéticas, paralelamente ao trabalho do tema e é só seguirem os critérios que trabalhámos, vão fazer isso como os outros. 

Vou deixá-los escrever em inglês -ou em espanhol, no caso do miúdo venezuelano- mas preferiria que o fizessem num computador porque não sei se percebo a letra deles. Aliás, se fizerem num computador, podem traduzir para português as suas respostas e entregar o teste resolvido em português. 

Vou levar estes dois testes em duas pens. Um deles pode fazer o teste no computador da sala de aula, mas o outro, não sei se tem computador portátil que possa levar. Isso é que me parece uma estratégia importante para estes alunos: dar-lhes um portátil, assim que chegam às escolas, para poderem levar para as aulas e acompanhar melhor os trabalhos, traduzir e escrever em português, etc.

Além disso, precisavam de um curso intensivo de Português, mesmo que perdessem o primeiro ano em que estão cá, justamente para aprenderem português e integrarem-se no meio.


2 comments:

  1. Eu tenho um miúdo ucraniano refugiado de guerra. Colocaram-no no décimo ano. Tenho-o duas horas por semana juntamente com os demais colegas. No início do ano, disse que era impossível. Da direção, responderam-me que teria de usar estratégias diversificadas. Sucede que o aluno nem o alfabeto conhece na íntegra, pelo que "dar-lhes" umas fichas não funciona. Não houve mais conversa: desenrasca-te. O aluno vai, tenta trabalhar enquanto lecionou aos outros (estou com a poesia trovadoresca, ou seja, uma espécie de outra língua também) e, depois, quando a turma fica a trabalhar sozinha, senti-me com ele e tento trabalhar o que posso.
    Tudo isto é insuficiente e frágil. O MECI traça as coisas de forma rígida e a minha direção segue cegamente a letra da lei, nada explica, nada discute: manda e pronto.

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