September 02, 2024

Novo ano lectivo - avaliação

 


Hoje foi dia de me apresentar ao serviço. Ainda tenho uns dias antes das aulas começarem, o que me interessa para preparar este ano lectivo porque estou a pensar fazer umas mudanças na avaliação dos alunos. É claro que só posso fazer estas mudanças porque já não tenho sete turmas, nem cinco, nem quatro com várias DTs. Agora tenho menos serviço por causa da idade, mas sobretudo por causa da doença oncológica e das outras doenças respiratórias associadas a essa - piorei destas. Canso-me muito, embora quem me vê nunca adivinharia estas doenças. Pareço uma publicidade à saúde.

Enfim, isto para dizer que, como tenho muito poucas turmas, posso fazer experiências na avaliação - qualquer experiência consome muito tempo e muito trabalho de preparação e de correção e classificação. Também as vou fazer porque tenho turmas com bons alunos que se interessam e colaboram para haver um bom ambiente de trabalho. Também, ao contrário do 10º ano que tem um programa gigantesco, o 11º ano tem um programa exequível e permite diversificar a avaliação.

A avaliação escolar é um processo muito complexo, não unívoco. Um professor não é um explicador que trabalha com um aluno ou cinco alunos, sim mas com grupos-turma de 30 alunos. É uma dinâmica completamente diferente. Numa explicação de 90 minutos para 3 alunos, o explicador tem 30 minutos para trabalhar com cada aluno as suas características individuais, enquanto numa aula de 90 minutos com 30 alunos, o professor, se fosse dividir o trabalho em segmentos de atenção individual, teria 3 minutos para cada aluno.

Onde podemos individuar os processos é na avaliação. Seja um teste, um comentário a um texto, uma problematização de uma ideia, uma apreciação estética, exercícios de lógica ou uma apresentação oral em grupo, faço sempre a correção de modo individual. Quero dizer que escrevo, em cada resposta do aluno, o que está incorrecto, o que está mal explicado e porquê, o que não está devidamente justificado, o que está mal estruturado, o que faltou, o que não é pertinente, etc. Se for um teste de lógica completo ou corrijo o que está mal de maneira que o aluno perceba onde errou e porque errou. Mesmo nos trabalhos de apresentação oral de grupo, escrevo uma apreciação do trabalho do grupo, com uma nota comum para o suporte digital apresentado e uma nota individual a cada aluno, com uma apreciação descritiva dos pontos forte e fracos da sua prestação. 

A avaliação é uma trabalheira horrível. A parte do trabalho do professor mais secante, chata e não criativa. Ainda antes de ontem estive a ler um excerto de uma entrevista do Tolkian em que explicava como lhe surgiu a ideia de escrever o Senhor dos Anéis num dia em que estava completamente enjoado e farto da actividade secante de classificar trabalhos de alunos.

Não avaliamos sempre para o mesmo objectivo. Por exemplo:

1. No início do 10º ano dou aos alunos dois testes de auto-diagnóstico, um sobre hábitos de estudo e outro de atitudes, ambos necessários à aprendizagem e ao 'sucesso'. O objectivo destes dois testes que devem ser feitos, pelo menos uma vez por período, para que possam aferir da sua evolução, é também o de ficarem com uma ideia do que se espera deles em termos de estudo e de empenho e atitudes em sala de aula na minha disciplina. 

2. Também no 10º ano, faço uma avaliação no início do ano depois de trabalhar um tema, para diagnosticar o nível de linguagem, de domínio de conceitos e de capacidade de abordar um problema, da turma em geral. Preciso de saber até que ponto os alunos são editáveis e preciso de saber o grau de complexidade que posso imprimir ao trabalho, dadas as suas características. Nesta avaliação incluo uma questão ou problema específico para saber se há ali algum aluno num nível de inteligência e de conhecimentos muito acima dos outros ou 'fora da caixa', como se costuma dizer, para poder alimentar essa(s) pessoa(s) e não deixar desaproveitado o seu potencial.

3. Há avaliações que têm como objectivo testar o foco, a atenção dos alunos, outras a sua disciplina mental, no que respeita ao rigor dos processos, outras os conhecimentos dos temas abordados nas aulas, outras a capacidade de aplicação dos conhecimentos, outras a capacidade de estabelecer relação entre temas diferentes, etc.

Porém, todas as avaliações têm como fim global, no que respeita ao aluno, permitir-lhe perceber em que ponto está relativamente ao que era suposto saber e saber fazer e, no que respeita ao professor mostrar-lhe em que ponto os alunos se encontram, para perceber se tem de alterar ou rectificar metodologias e estratégias para atingir as metas que se propôs.

Há professores que rectificam as notas dos alunos recorrendo a uma curva. Por exemplo, se a nota mais alta de uma turma foi um 18, esse 18 vale 20, o 16 passa a 18 e por aí fora. Há quem faça a curva de outra maneira: se a média da turma foi 11, então um 14 equivale a um 18 e por aí fora. Não concordo com esta maneira de ponderar as notas porque desvirtua o objectivo do processo no que respeita ao aluno, quero dizer, fica com uma ideia errada da sua progressão na aprendizagem. E este método, que ajuda a que os mais fracos tenham bons resultados, prejudica os alunos muito bons. Por exemplo, os exames nacionais de Filosofia, com aqueles critérios de classificação castradores, ajudam os alunos mais fracos, mas não dão oportunidade aos alunos muito bons e excelentes de se diferenciarem dos bons.

Às vezes faço acertos nas avaliações se tenho feedback pertinente dos alunos. Por exemplo, no ano passado fiz um teste de Lógica e um aluno bastante bom (um moldavo que vive cá há uns seis anos) no fim do teste disse-me que o teste era muito grande, porque os exercícios com tabelas de verdade e inspectores de circunstâncias obrigam a desenhar tabelas e escrever fórmulas com todas as possibilidade de 'v' e de 'f' e isso consome imenso tempo, de maneira que devia ter menos um ou dois exercícios. Achei justo e dei a toda os alunos a cotação inteira de um exercício desses.

Enfim, a avaliação é um processo complexo e não existe uma avaliação única e uniforme que se possa aplicar a toda a aprendizagem de maneira indiferenciada, mas quando lidamos com grupos gigantes de alunos é impossível fazer grandes diferenciações.

Portanto, voltando ao início, como agora tenho poucas turmas, vou experimentar fazer algumas alterações na avaliação para a tornar mais pedagógica e útil aos alunos. 


2 comments:

  1. Faz muito bem em dedicar-se à avaliação diversificando factores (se a escola lhe der tal liberdade, ignoro as directrizes actuais). Mas que é isso de média de turma?! Nunca fiz médias de turma, nem sequer pensei nisso; também é verdade que ninguém mas pediu. É exigível neste momento? Que raio de ideia.

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    1. Não, não é exigível. É algo que alguns professores fazem para subir a média de notas aos alunos.

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