September 10, 2024

Julgamento das violações de Mazan

 


Gisèle Pelicot falou no tribunal:

“A polícia salvou a minha vida ao investigar o computador", explica Gisèle Pelicot, calma e precisa, já não usando nunca a palavra, 'marido', de quem se está a divorciar. “Ver as imagens em que estou deitada inconsciente na minha cama, a ser violada. São cenas bárbaras. O meu mundo desmoronou-se, tudo o que construí ao longo de 50 anos. Eu achava que ele era um tipo impecável. Eles usam-me como se fosse uma boneca de trapos."

De todos os homens que a maltrataram, diz conhecer apenas um, que se deslocou a casa do casal em Mazan para falar de ciclismo com o marido: “Encontrava-o de vez em quando na padaria e cumprimentava-o - não fazia ideia de que ele tinha ido lá a casa para me violar. Sinto nojo."

Gisèle aborda a questão da submissão química, dos ansiolíticos que o marido a fazia engolir, sem o seu conhecimento, para depois a entregar aos homens que tinha aliciado. “Estou a falar em nome de todas as mulheres que são drogadas e não sabem, estou a fazê-lo em nome de todas as mulheres que talvez nunca saibam o que lhes fazem (...) para que nenhuma mulher tenha de continuar a sofrer de submissão química”.

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Na vila de Mazan onde a maior parte dos crimes aconteceram, estão ainda perto de 30 homens que participaram nas violações e aparecem nos vídeos (cerca de 400 vídeos e imagens) mas que a polícia ainda não foi buscar. Ninguém sabe quem eles são porque os vídeos não foram, nem vão ser, tornados públicos. A vida na vila é agora um cenário de horror. Para além da família de Gisèle Pelicot e das outras famílias que já descobriram que os seus maridos/pais/irmãos/tios são violadores abjectos, porcos e repugnantes, existem ainda todas as outras famílias que não sabem se os seus maridos/pais/irmãos/tios fazem parte dos 30 violadores que falta irem buscar. Não sabem se o seu familiar marido/pai/irmão/tio, é um dos 30 - se é aquele que propôs que violasse a sua filha ou a sua mãe. O ambiente de desconfiança já fez estragos em algumas famílias.

A prática de drogar as raparigas e as mulheres para as violar já não é uma situação excepcional, mais a mais com os sites da internet em que homens se incentivam uns aos outros a serem predadores. Se calhar está na altura de tomar medidas drásticas contra esses indivíduos.

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