September 09, 2024

Educação - esta jornalista tem alguma razão

 

Este artigo chama-se, Burnout parental. Não tenham filhos, tenham cães e gatos. 

Os pais actuais, por um lado tornaram-se uma espécie de, não treinadores olímpicos dos filhos, como diz jornalista, pois isso dá muito trabalho, mas advogados dos direitos dos filhos a serem medalhados de provas olímpicas cujo treinamento deixam inteiramente a outros. Recusam-se a educar os filhos quanto aos seus deveres e os miúdos pensam e agem como se só tivessem direitos. Isso já se vê em adultos nos locais de trabalho. 

Outro dia contaram-se que um rapaz novo, em idade e em experiência, no local de trabalho, um empresa privada, ligou ao chefe a dizer que não podia ir trabalhar porque estava muito em baixo emocionalmente porque tinha acabado com a namorada e que precisava de, pelos menos, duas semanas, para se acalmar. E o chefe respondeu-lhe que o trabalho não pára duas semanas para ele chorar a namorada. E ele ficou muito ofendido e acusou o chefe de não ser inclusivo, por o local de trabalho não garantir apoio para esse estado emocional, na forma de folga de duas semanas... 

Outra pessoa contou-me que uma estagiária, licenciada e com mestrado de uma universidade importante, ficou ofendida e foi queixar-se ao chefe porque terem corrigido um texto seu, cheio de erros de ortografia e sintaxe. Disse que não estava habituada a ser tratada dessa maneira ofensiva...

Desde que o mundo é mundo que os filhos são dores de cabeça para os pais: uns mais que outros, é verdade, mas ninguém escapa a esse cansaço de ter de insistir, ter de lidar com as malcriadices da adolescência, ter de chatear os filhos para que estudem, etc. Só que os pais de hoje não querem fazer nada dessas tarefas, querem que sejam outros -professores, chefes no trabalho, treinadores, etc.- a assumirem toda a educação dos filhos. Querem ter direitos de pais sem os devidos deveres. É por isso que desde que nascem lhes metem telemóveis e tablets na mão, para não terem que chatear-se a ter de lidar com eles.

No ano passado, numa reunião de pais (e já agora, as reuniões de pais, se bem que não sejam divertidas, pois a quem apetece ir aturar professores no fim de um dia de trabalho(?) podem, e devem, não ser suplícios), falei dos perigos da utilização dos telemóveis e das redes sociais no rendimento dos filho e na sua saúde mental, a maioria dos pais confessou que o telemóvel, a PSP e os tablets são um descanso porque os miúdos sossegados e não os solicitam - em contra-corrente, uma mãe disse que só deu um telemóvel ao filho no fim do 9º ano, mas que isso obrigou-a, a ela e ao marido, a arranjar actividades substitutas para ele, todos os fins de semana e durante a semana também. [Devo dizer que isso teve um efeito excelente no rapaz em todos os sentidos.]

Portanto, ser mãe e pai custa muito em termos de atenção, solicitações, dedicação, paciência, insistência, às vezes com discussões, disponibilidade de tempo, responder a perguntas infindáveis, jogar jogos e fazer actividades enriqueceras, passar noites sem dormir por causa de doenças ou de saídas à noite com pessoas de má influência e outras situações que nos deixam exaustos, física e mentalmente. Não há parentalidade sem estas coisas e os pais dos nossos dias não estão para isso. 

Portanto, se não querem isto e só querem lidar com outros que não dêem trabalho e abanem a cabeça a dizer sim, então, não tenham filhos, tenham cães e gatos.

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Existe nas nossas sociedades um problema cultural complexo e quase irresolúvel (o mesmo que leva os pais do nosso tempo a irem à universidade inteirarem-se da performance académica dos filhos ou aparecerem com eles nas entrevistas de emprego) que tornou a nossa sociedade, nos últimos anos, incrivelmente “pet friendly” e pouco disponível para um acto que é muitas vezes cansativo – o de educar uma criança.

O falhanço está nos pais, evidentemente, que transformaram o acto de criar um filho numa performance olímpica – que os leva a acompanhar os filhos às tais entrevistas de emprego. As exigências e as auto-exigências que estão em cima dos pais não são normais, mas são os próprios pais que decidiram normalizá-las. A pressão da sociedade pode ser muita, mas ainda existe livre-arbítrio para alguma coisa.

Quando o meu filho era miúdo, as reuniões de pais na escola eram para mim um suplício. Hoje, vejo que os pais têm grupos de WhatsApp para estarem em constante comunicação uns com os outros. Eu acho que morria se estivesse em permanente comunicação com os pais das outras crianças. Enfim, se calhar até se percebe que, a viver assim, seja mais provável que alguns pais entrem em burnout ou coisa que o valha.

O peso que os pais põem em cima de si – a busca da impossível perfeição no acto comum que é criar um filho – conduziu-nos à situação de quebra de natalidade que vivemos hoje.

Enfim, ter cães dentro de um apartamento dá uma trabalheira dos demónios. Mas ir passeá-los às sete da manhã e depois mais tarde, viver numa casa atulhada de pêlos de cão e ainda partilhar – quantas vezes – a cama com o cão, é hoje considerado um ideal perfeito de vida. Os cães e gatos silenciosos passaram a filhos de substituição e são tratados como tal. Acho que não sou só eu que acha isto uma loucura colectiva em que os valores estão todos trocados.

Ana sá Lopes in burnout parental-não tenham, filhos tenham cães e gatos


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